Cenário negativo forjado pela crise no INSS

O cenário negativo para o Governo teve o escândalo do INSS e o aumento do IOF como principais motivações


Por Paulo Cesar Magella

05/06/2025 às 11h04

A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira não chega a surpreender. Aponta o Governo ainda no cenário negativo, mas destaca que fatores externos tiveram forte interferência nos números. O preço dos alimentos, vilão em outros levantamentos, começou a cair, mas o escândalo do INSS e o anúncio precipitado do IOF impediram a recuperação do mandato Lula diante da opinião pública.

Embora a pesquisa já tivesse sido feita – ocorreu no fim de semana -, a entrevista do presidente soou como contenção de danos. Ele defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou sua boa vontade em recuar quando foi preciso e dividiu a crise do Instituto com governos anteriores. Pode ser que, no próximo levantamento, os números mudem.

O que ficou claro na pesquisa é a insegurança transmitida à população. Mesmo com a correção do IOF, o eleitor entendeu que a matéria foi discutida de forma rasa, a ponto de ser retirada de pauta antes mesmo de sua discussão no Congresso. O ministro acentuou que uma reunião no domingo, em Brasília, pode produzir um texto mais apurado, com a participação dos diversos setores e não apenas da instância política. A conferir.

O escândalo do INSS foi o que gerou mais dano, e, a despeito de o presidente destacar – e com razão – que sua gênese ocorreu no mandato Michel Temer, tendo passado pelo ciclo Jair Bolsonaro, os números não permitem outras ilações: foi na atual administração que os descontos ganharam proporções abissais. Reverter o quadro passa, necessariamente, pela agilidade em devolver os descontos ilegais e punição dos envolvidos.

Pesquisas são importantes para correção de rumos e de informação sobre o comportamento das ruas. Em um ano sem eleição, elas ganham relevância por ocorrerem sem a “contaminação dos palanques”, mas devem, de qualquer modo, ser consideradas. O eleitor já não exprime seus pontos de vista apenas no período de campanha. Pelas redes sociais ele explicita seus sentimentos. O preço dos alimentos, que teve forte influência na pesquisa anterior, trafegou especialmente pelas redes sociais.

Com um Congresso marcado por uma oposição mais assertiva e bem mais articulada no mundo digital, o presidente Lula terá que fazer mais do que dar boas notícias. Terá que confirmá-las na prática. Uma das constatações da Genial/Quaest é relevante: 70% dos entrevistados acreditam que ele não cumpre as promessas de campanha.

No seu terceiro mandato e com claros sinais de que buscará o quarto mandato no ano que vem – se estiver “lindão” e com a saúde em dia -, o presidente sabe que há muito por fazer. A questão é implementar sua pauta com um Congresso que não é totalmente parceiro do seu mandato. E, em um presidencialismo de coalizão, aumenta a pressão, pois não consegue levar sua agenda à frente se não tiver maioria nas duas casas congressuais.

 

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