A necessidade de limites para os blocos de Carnaval: convivência com respeito e equilíbrio

“A crescente presença dos blocos de carnaval em bairros residenciais tem gerado reclamações consistentes”


Por Roberta Lopes, vereadora pelo PL

29/05/2025 às 08h00

O Carnaval é uma das manifestações culturais mais emblemáticas do Brasil, reunindo milhões de pessoas nas ruas em celebração à música, à dança e à alegria popular. No entanto, o exercício legítimo dessa festa não pode ignorar os direitos fundamentais de outros grupos sociais, nem comprometer a ordem pública, o bem-estar coletivo e o respeito à diversidade religiosa.

Nesse contexto, ganha relevância a proposta de estabelecer limites para os blocos de rua, especialmente em áreas sensíveis como hospitais, templos religiosos e zonas residenciais.

A crescente presença dos blocos de carnaval em bairros residenciais tem gerado reclamações consistentes. Moradores enfrentam dificuldades para realizar tarefas básicas durante o período carnavalesco, lidando com ruas interditadas, excesso de lixo e som alto por longas horas. O acúmulo de sujeira, o mau cheiro e a depredação de fachadas afetam diretamente a qualidade de vida nessas regiões.

Em áreas próximas a hospitais, a situação é ainda mais crítica. O barulho constante compromete o repouso e a recuperação dos pacientes, enquanto o volume de atendimentos médicos praticamente dobra. Em Belo Horizonte, por exemplo, mais da metade das emergências durante o Carnaval de 2019 estavam ligadas ao uso abusivo de álcool e drogas.

O sistema de saúde, já sobrecarregado, enfrenta jornadas exaustivas e queda na qualidade do atendimento. Além disso, o barulho e a agitação excessivos também afetam pessoas com autismo, idosos, pessoas enfermas, frequentemente ignorados na logística da festa.

Durante o período carnavalesco, as denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes aumentam até 20%, segundo dados do Governo Federal. Mulheres seguem sendo alvos recorrentes de assédio. A combinação de álcool, drogas e irresponsabilidade resulta em brigas, acidentes, overdoses e mortes. Nas rodovias, o cenário é igualmente trágico: centenas de pessoas morrem vítimas da imprudência ao volante.

Tais ocorrências revelam que a tradição carnavalesca, embora valiosa, é frequentemente acompanhada de uma perigosa ideia de permissividade, como se todas as regras pudessem ser temporariamente suspensas. As consequências não se limitam aos dias de festa: há também um aumento de gravidezes não planejadas, disseminação de doenças e o enfraquecimento de estruturas familiares.

O Carnaval também traz impactos significativos à economia produtiva. A Firjan estimou, em 2015, perdas de R$ 64,6 bilhões para a indústria com os feriados prolongados, número que provavelmente é ainda maior hoje. A semana pós-Carnaval é marcada por absenteísmo, queda de produtividade e elevação dos custos operacionais nas empresas.

Estabelecer restrições de horários e locais para os blocos não significa reprimir a festa popular, mas sim garantir que ela possa coexistir com a vida urbana de maneira civilizada e respeitosa. Proteger o momento de oração de uma comunidade religiosa, o repouso de um paciente hospitalizado ou o sossego de uma família é um gesto de equilíbrio e responsabilidade.

Preservar a liberdade cultural, sem abrir mão do direito à segurança, ao descanso e ao culto, é um desafio que deve ser enfrentado com diálogo, planejamento e bom senso. Uma cidade que respeita suas tradições é também aquela que assegura dignidade e bem-estar a todos os seus cidadãos.

 

 

 

Esse espaço é para a livre circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.