Operação Lobo Mau cumpre mandados na Região
MP e PM buscam desarticular rede criminosa de abuso sexual infantil, com ramificações em Santos Dumont e Carangola
Os municípios de Santos Dumont e Carangola, na Zona da Mata mineira, estão entre as 11 cidades mineiras alvos da Operação Lobo Mau, deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate aos Crimes Cibernéticos (Gaeciber), e pela Polícia Militar, nesta quinta-feira (31), em 20 estados e no Distrito Federal. A investida visa a desarticular uma ampla rede criminosa envolvida na produção, no armazenamento e compartilhamento de material de abuso sexual infantil, conhecido como CSAM (Child Sexual Abuse Material).
Ao todo, foram cumpridos 94 mandados de busca e um de prisão. Minas Gerais é o estado com o segundo maior número de investigados e ordens judiciais. Os 13 mandados de busca e apreensão ainda resultaram em sete prisões em flagrante. Além de Santos Dumont e Carangola, estiveram na mira do MP e da polícia suspeitos de Araguari, Vespasiano, Belo Horizonte, Patos de Minas, Santa Luzia, Monte Sião, Sete Lagoas, Uberlândia e Conceição do Mato Dentro.
“A ação apreendeu diversos dispositivos eletrônicos e outros equipamentos utilizados para a produção e armazenamento do conteúdo, os quais passarão por análise forense. As autoridades esperam que a ação contribua para a identificação de outros envolvidos na rede, além de reforçar a necessidade de atuação conjunta, e contínua, no combate a esse tipo de crime”, informou o MP.
O promotor Mauro Ellovitch observou que as idades dos investigados variam entre 20 e 60 anos, que eles são de condições sociais diferentes e de diversas regiões de Minas. “Isso demonstra que o perigo é muito mais próximo do que a gente imagina. Não dá para presumir que determinada pessoa é um pedófilo ou que compartilha esse tipo de material. Na investigação, fomos nos surpreendendo com muitas pessoas, que passavam abaixo do radar e estavam envolvidas nesse tipo de crime.” Segundo ele, o risco pode estar tanto dentro de casa, quanto no ambiente virtual. “As crianças são abordadas em redes sociais, jogos online, aplicativos de conversa. Então é importante que os pais orientem seus filhos para que possam se prevenir.”
Segundo ele, dois casos chamaram muito atenção. Em um deles, um dos alvos estava compartilhando material de exploração sexual infantil no momento da abordagem e possuía mais de mil vídeos. Em outro, o investigado criava ambiente para atrair crianças para serem molestadas. “Era solteiro, mas tinha em casa grande quantidade de brinquedo e de roupas infantis que ele usava com suas vítimas.” Os conteúdos apreendidos, em sua maioria, tinham menores de idade dos sexos feminino e masculino, desde crianças muito pequenas, de 1 e 2 anos, até adolescentes. Cerca de 80 dispositivos eletrônicos foram apreendidos para análise a fim de comprovar os crimes e identificar outros possíveis suspeitos e vítimas.
Investigações da Operação Lobo Mau
A operação foi iniciada e coordenada nacionalmente pelo Ministério Público de São Paulo, por meio do Gaeco de São José do Rio Preto, e pela Polícia Civil do Estado de São Paulo. “Trata-se de uma força tarefa criada entre as instituições e que contou com o apoio da Agência de Investigação Interna (Homeland Security Investigations – HSI) e da Embaixada dos Estados Unidos, com foco no combate à exploração sexual infantil na internet.”
Ainda conforme o MP, “com o avanço das investigações, foi possível descobrir a existência de um número muito expressivo de criminosos que, dissimulando o fato de serem adultos, entram em contato com as crianças e adolescentes, por meio de variados tipos de plataformas digitais, para induzi-las a produzir conteúdo de nudez, e até mesmo de sexo, com a finalidade de consumir o material produzido e depois distribui-lo em grupos fechados de troca de mensagens, como o Telegram, o Instagram, o Signal e o WhatsApp, inclusive em jogos como o Roblox”.
A operação foi batizada de Lobo Mau em referência “ao criminoso predador sexual que se esconde atrás de uma fachada de normalidade para se aproximar da vítima, ganhar a confiança dela e depois atacá-la”. O MP destaca que essa situação é potencializada no ambiente virtual, “onde as pessoas não se veem”.