O corpo de um homem, 64 anos, foi encontrado na última quinta-feira (23), enterrado em um buraco em uma mata no distrito de São Sebastião do Monte Verde, em Lima Duarte, a cerca de 80 km de Juiz de Fora. Segundo a Polícia Civil, em coletiva de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira (27), os suspeitos são a ex-esposa da vítima e seu atual companheiro. Logo após o crime, o casal teria fugido para viver por semanas em um matagal, junto com o filho adolescente da mulher.
O caso teve início com uma ocorrência de desaparecimento registrada em 17 de dezembro de 2023. Na época, o paradeiro de uma mulher, do seu filho adolescente e do seu ex-marido, Pedro Fernandes Aparecido, entrou na mira das investigações da Polícia Civil. Em fevereiro deste ano, porém, uma denúncia anônima promoveu uma reviravolta no caso.
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Informações repassadas à polícia davam conta de que a mulher, 49 anos, o filho adolescente, 15, e o atual companheiro dela estavam em uma fazenda no município de Bom Jardim de Minas. Já o paradeiro de Pedro Fernandes continuava desconhecido. Em 9 de maio, a polícia cumpriu um mandado de prisão contra o casal, e foi quando começaram a surgir informações do que tinha acontecido com Pedro.
Corpo ‘desovado’ em cova
Pedro Fernandes e a mulher foram casados por dez anos. Ele era comerciante e a mulher trabalhava com ele no gerenciamento de um bar. Em dado momento, o casal contratou um pedreiro para fazer uma obra na residência em que moravam. Tempo depois, com o término do casamento, a mulher se casou com o pedreiro (seu atual companheiro até hoje).
O impasse relacionado à posse de uma propriedade no município Chácara, na noite de 16 de dezembro de 2023, teria sido o estopim para o crime. O pedreiro entrou em luta corporal com o comerciante, que teria sido atingido com um golpe fatal na cabeça. Segundo a polícia, com o uso de luminol (detector de sangue oculto) foi identificado sangue em diversos locais da casa.
Logo depois do crime, o corpo do homem foi enrolado em um cobertor, um saco plástico foi colocado em sua cabeça e ele foi jogado no porta-malas de um carro. Do município de Chácara, onde ocorreu o crime, até a Zona Rural de Lima Duarte, onde o corpo foi descartado, são quase 100 km.
Um buraco foi cavado no meio de um matagal, próximo a uma cachoeira, e ali o corpo de Pedro foi enterrado. Em seguida, o casal trocou o carro, pegou o filho adolescente da mulher e os três viajaram até o município de Liberdade, a cerca de 80 km de Lima Duarte.
Casal ficou três meses na mata
O trio adentrou a mata da cidade de Liberdade e permaneceu por três meses ali, onde o pedreiro teria construído uma casa improvisada de pau-a-pique. Os celulares foram destruídos, assim como qualquer contato externo. Segundo a delegada Camila Müller, o adolescente chegou a perder cerca de 35kg devido às condições do esconderijo escolhido pelo casal.
O menino não sabia do crime, mas queria permanecer ao lado da mãe, por isso a acompanhava. Mesmo quando tomou ciência dos fatos, ele continuou ali. O isolamento na mata fez com que o adolescente não aguentasse mais, momento em que eles procuraram outro lugar para se esconder.
A pé, mãe, filho e padrasto andaram ao longo de um dia uma distância de 70 km, até uma fazenda próximo a Santa Rita do Jacutinga e Bom Jardim. O proprietário da fazenda foi um ex-patrão do pedreiro. Sem saber de nada, o contratou novamente como seu funcionário. Até que a polícia chegou ao local por meio de uma denúncia anônima.
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Depoimentos à polícia
O casal foi preso durante cumprimento de mandado de prisão no dia 9 de maio. Eles prestaram depoimento na delegacia, tal qual o adolescente. No entanto, os relatos a princípio pareciam combinados, conforme informou a delegada Camila Müller, titular da Delegacia Especializada de Investigação de Homicídios. Os depoimentos tentavam forjar um sequestro do qual eles teriam sido vítimas, mas essa versão não se sustentou.
A morte de Pedro Fernandes Aparecido foi confirmada pelo pedreiro, que levou os policiais e a equipe do Corpo de Bombeiros ao local da “desova”. O lugar escolhido para esconder o corpo era de conhecimento do suspeito, que havia ido ali durante grande parte de sua infância. O corpo, já esqueletizado, estava enrolado em um cobertor e coberto de terra dentro de uma cova.
Devido ao avançado estado de decomposição, não foi possível identificar a causa da morte. A versão do casal apresenta incongruências, segundo a Polícia Civil. A mulher diz que não teve participação nenhuma; o homem sustenta que ela o ajudou em todo o processo. Durante audiência de custódia, a liberdade provisória de ambos foi negada. O adolescente, que não teria participado do crime, foi liberado e está sob cuidados de um familiar.