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O nascer do sol a mais de 1.700 metros: conheça o novo roteiro para o Pico do Pião em Ibitipoca 

Pico do Pião em Ibitipoca 
Cobertor de nuvens sobre as montanhas de Minas Gerais visto do Pico do Pião, em Ibitipoca (Foto: Leonardo Costa)
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Poucas coisas dão motivação o suficiente para levantar da cama à 1h, percorrer mais de 80 quilômetros de Juiz de Fora até o Distrito de Conceição do Ibitipoca e realizar uma caminhada de cerca de 2 horas em um pico de 1.721 metros de altitude. Isso tudo em um frio de 6 graus. Todo o esforço, no entanto, parece pouco quando, de cima de um dos pontos mais altos do Parque Estadual do Ibitipoca, um cobertor de nuvens se impõe sobre as montanhas e os primeiros raios de sol fazem a gente esquecer que Minas Gerais não tem mar. 

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O privilégio de ver o nascer do sol no Pico do Pião é recente. O circuito ficou disponível ao longo do mês de julho e está com vagas abertas até o fim de agosto. O percurso pode ser feito apenas com a presença de um guia credenciado pelo parque. Os visitantes devem passar pela portaria entre 3h30 e 4h30 de quarta a domingo. É preciso comprar o ingresso antecipadamente pelo site da unidade e há um limite de 15 pessoas por guia credenciado, totalizando 70 visitantes por dia.

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Na última quinta-feira (15), a Tribuna de Minas saiu cedo de Juiz de Fora para relatar aqui esse itinerário. Quem nos acompanhou foi o guia Gabriel Fortes, da Sauá Turismo. Gabriel é nascido no Distrito de Conceição do Ibitipoca e frequenta o parque desde a infância. De acordo com ele, foram poucas as vezes que pôde contemplar a paisagem das montanhas ao nascer do sol. “É um circuito que lembra muito minha infância. Eu tinha uns 8 anos quando vim pela primeira vez com um tio meu. Na adolescência vim outras duas vezes e mais recentemente tive a oportunidade de vir guiando.”

Vista do nascer do sol do Pico do Pião, em Ibitipoca (Foto: Leonardo Costa)

Chegamos na portaria do parque próximo das 4h. O termômetro marcava 6 graus, mas a sensação térmica era ainda menor. Para o trajeto é recomendado o uso de roupas térmicas, gorro e luvas. Como a trilha é feita durante a madrugada é preciso levar também lanternas para iluminar o caminho, visto que, em alguns momentos, o terreno é irregular, principalmente nas subidas.

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O céu estrelado que emoldura o caminho até o pico é um espetáculo à parte. Na noite em que realizamos o percurso, a lua já tinha se posto e quase não havia nuvens no céu. O silêncio do parque faz com que os olhos e os ouvidos fiquem atentos a qualquer movimentação diferente e barulho na mata. Próximo à gruta do Monjolinho, Gabriel apontou pegadas marcadas no chão de terra. Segundo ele, elas poderiam ser de lobos, comuns na região. É durante a noite que os mamíferos de médio porte aparecem no parque. Ao longo do dia, com a movimentação dos turistas pela trilha, a ocorrência de lobos, onça-parda e lebres é rara.

Ao longo da caminhada, que conta com algumas subidas, o frio vai ficando de lado. O cachecol sai do pescoço e volta para dentro da mochila. Os mais corajosos conseguem até tirar o casaco. Como estávamos em um grupo pequeno, de quatro pessoas, o ritmo foi acelerado e terminamos a trilha por volta das 5h30. O sol estava programado para nascer às 6h16.

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Chegamos ao alto do Pico do Pião ainda no escuro. O céu começava a tomar tons de cinza, mas era possível ver a luminosidade das cidades da região. Municípios como Pedro Teixeira, Bias Fortes, Barbacena, Olaria e até mesmo Juiz de Fora se tornavam visíveis através de uma mancha de luz entre os vales observados lá de cima. A parte mais difícil é aguentar o frio e o vento no alto do pico.  

Ruínas da capela que foi construída no Pico do Pião em 1932 (Foto: Leonardo Costa)

Antes de se tornar um percurso turístico, o Pico do Pião abrigou uma capela destinada aos moradores do entorno. As ruínas ainda estão lá, atualmente com o altar e o piso ladrilhado. A Capela Senhor Bom Jesus da Serra foi construída em 1932, em meio a Revolução Constitucionalista. Moradores da região contam que a igreja foi levantada em agradecimento pelos habitantes do distrito que voltaram vivos após o conflito. No entanto, sem a manutenção adequada, com tempestades e raios frequentes, a capela foi deteriorando e retirada do pico na década seguinte.

“A trilha do pião já é um circuito consolidado no parque e vale independente de assistir ao nascer do sol ou não. É o segundo ponto mais alto do parque (perdendo apenas para a lombada, que fica no caminho para a Janela do Céu). Ao longo da trilha existem três cavidades: Gruta do Monjolinho, Gruta do Pião e Gruta dos Viajantes. Mais recentemente foi aberto também o roteiro das cachoeiras, com a Cachoeira da Pedra Furada, a Cachoeira do Encanto e o Poço do Campari”, explica Gabriel Fortes. 

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Trilha para o nascer do sol está disponível até o fim de agosto (Foto: Leonardo Costa)

Para o guia, a dificuldade da trilha é moderada e qualquer um pode fazer desde que tenha um mínimo de condicionamento físico. “Exige um certo preparo físico, então a pessoa precisa estar acostumada a realizar uma caminhada no seu dia a dia. Para ver o nascer do sol, é preciso lidar com a adversidade do frio. Tem que se agasalhar bem, vir com calçados e roupas adequadas, trazer um lanche e se atentar para hidratação.” O acompanhamento de um guia é essencial. Além de conhecer o percurso com precisão, o profissional estará preparado para lidar com quaisquer adversidades que possam surgir no caminho.

Antes do nascer do sol, com o céu ficando mais claro, já é possível enxergar localidades ainda mais distantes, como a formação montanhosa da Serra de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. Às 6h16, precisamente, um círculo vermelho começa a despontar no horizonte e divide o céu em faixas de cores entre o laranja, o vermelho, o azul e o branco. A sensação é de assistir um espetáculo da natureza de camarote. Testemunhar o parque acordando nos lembra o motivo pelo qual vale a pena tamanho esforço. A tranquilidade e a beleza do lugar ganham outra forma com o raiar do dia. “O mais incrível é que, independente de quantas vezes você vier, nunca é igual. Cada nascer do sol é diferente, e você já fica esperando a próxima oportunidade”, finaliza Gabriel Fortes.

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