Depois de prestar depoimento, o investigado, de 21 anos, suspeito de autoria na morte do padre Antônio José Gabriel, de 72 anos, em Pirapetinga (MG), foi autuado pelos crimes de latrocínio (roubo seguido de morte) e de ocultação de cadáver. Outro suspeito, 20, por receptação, como informou, nesta terça-feira (19), a Polícia Civil. Ambos foram conduzidos ao sistema prisional, permanecendo à disposição da Justiça. De acordo com o delegado Marcos Vignolo, a princípio, não havia elementos para ratificar a prisão em flagrante do terceiro envolvido, um homem de 30 anos.
Conforme informações dos delegados Marcos Vignolo e Thiago Carvalho Couri, que participaram da ação que resultou nas descobertas dos suspeitos, as informações apuradas pela Polícia Civil indicam que o jovem, de 21 anos, teria praticado o crime de latrocínio, no município de Recreio (MG), a cerca de 200 quilômetros de Juiz de Fora.
Como aponta a investigação, posteriormente, ele teria abandonado o corpo do idoso, na Zona Rural, e encontrado com outros envolvidos em uma possível boca de fumo, onde teria comprado droga e tentado vender o veículo, o que não foi concretizado. Já o suspeito de 20 anos, mesmo após ter dirigido o carro e permanecido com o aparelho celular – que seria da vítima _ para tentativa de desbloqueio, alegou, segundo a investigação, não ter conhecimento da morte da vítima, mas imaginava que o veículo e o celular seriam roubados.
Desaparecimento
Na segunda-feira (18), uma ação conjunta entre as Polícias Civil e Militar resultou na prisão dos três suspeitos de envolvimento no caso relacionado ao desaparecimento do padre Antônio José Gabriel, que atuava na Diocese do município de Santo Antônio do Aventureiro, localizado na Zona da Mata mineira, e estava sendo procurado desde o último domingo (17).
Após buscas realizadas por policiais civis e militares, o corpo da vítima foi localizado em uma mata, na Zona Rural, na estrada que liga os municípios de Recreio a Santo Antônio de Pádua (RJ). Além disso, durante as apurações, foram apreendidos um adolescente, de 17 anos, dois aparelhos celulares, o veículo da vítima, um relógio de pulso e documentos pessoais.
O corpo do padre foi encaminhado ao Instituto Médico Legal de Juiz de Fora, para a realização de necropsia e a fim de identificar a causa da morte. Também serão analisadas imagens de câmeras que vão auxiliar na conclusão das investigações.
O chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, com sede em Juiz de Fora, Gustavo Adélio Lara Ferreira, ressaltou que essa integração entre as Polícias Civil e Militar foi fundamental para esclarecimento do crime. “A Polícia Militar conseguiu fazer os levantamentos iniciais, com o seu trabalho qualificado, e a Polícia Civil, com a sua expertise em investigação, conseguiu a confissão do suspeito de ter cometido o crime. Todos trabalharam incansavelmente na elucidação desse caso e, por isso, merecem o nosso reconhecimento pelo profissionalismo e dedicação”.
Enforcamento
De acordo com o boletim de ocorrência a respeito do caso, após ser rastreado o celular da vítima, foi acusado o sinal de que o aparelho estava localizado na cidade de Pirapetinga, às 17h, de domingo. Mais tarde, no mesmo dia, o sinal indicou que o veículo estava no Bairro Ibitinema, na mesma cidade, e, às 23h, o rastreamento apontou que o carro estava na cidade de Recreio. Por fim, o rastreador acusou que o automóvel localizava-se, na madrugada de segunda (18), novamente em Pirapetinga.
Com as informações colhidas por meio do rastreador, teve início a busca nos endereços acusados, sendo encontrado o carro da vítima, em Pirapetinga. O suspeito de 21 anos estava próximo ao veículo no momento da abordagem policial. Ele foi questionado e relatou que tinha comprado o carro e mostrou que estava com chave do automóvel. O rapaz foi submetido a uma busca pessoal e com ele foi descoberto o aparelho celular e um relógio de pulso do padre.
Os dois objetos foram identificados por familiares da vítima, o que fez o suspeito relatar outra história, diferente da versão de que teria comprado o veículo. Segundo o boletim de ocorrência, o rapaz afirmou que tinha marcado de se encontrar com a vítima e que, depois, outros dois homens conhecidos dele enforcaram o padre. Segundo relatou o suspeito, o trio se desfez do corpo da vítima, que foi abandonado na estrada vicinal. Todas essas informações do boletim de ocorrência, ainda estão sob investigação da Polícia Civil.
Comoção
O caso provocou grande comoção, em razão de sua brutalidade, sendo repercutido em diversos sites de notícia da região, uma vez que o padre Antônio José Gabriel era muito querido nas comunidades em que atuava. A Diocese de Leopoldina, a qual o pároco estava ligado, publicou em seu endereço eletrônico uma nota de pesar, comunicando sobre o falecimento do padre, classificando sua morte como uma situação trágica e violenta. “O passamento, decorrente de situação trágica e violenta, está sendo investigado pelas autoridades competentes. Roguemos ao Senhor da vida, para que em sua infinita misericórdia receba o Padre Gabriel e console a todos os seus familiares, paroquianos e amigos, que choramos a sua perda”, diz o texto.
O bispo da diocese de Leopoldina, Dom Edson Oriolo, também emitiu uma nota de condolências pela morte do pároco, dirigindo-se ao clero, religiosos, familiares da vítima e ao povo. No texto, ele diz que é recém-empossado na diocese e não teve convivência a vítima, mas sente grande consternação pela sua morte repentina e violenta. “Solidarizo-me com a família, o Povo de Deus de Santo Antônio do Aventureiro e todos os seus muitos amigos. Muito particularmente, manifesto meus sentimentos aos padres da diocese, irmãos e amigos do Padre Gabriel, e que se angustiam com essa notícia tão cruel”, afirmou.
Atuação
Padre Antônio José Gabriel foi ordenado padre da Diocese de Leopoldina, em 21 de abril de 1994, na Igreja Santa Rita de Cássia, em Além Paraíba. Recentemente havia celebrado 26 anos de vida sacerdotal. Possuía mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (Puc/RJ) e doutorado em Teologia pela mesma Instituição.
Ele trabalhou muitos anos na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), como professor, secretário e posteriormente chefe do Departamento de Ciência da Religião. Foi Reitor do Seminário Maior Nossa Senhora de Guadalupe durante muitos anos, contribuindo para a formação de inúmeros presbíteros da diocese. Foi também pároco na Paróquia Mãe de Deus, em Angustura, Distrito de Além Paraíba, e, por muitos anos, padre na Paróquia de Santo Antônio, em Santo Antônio do Aventureiro.