Veículos atolados, longo tempo de espera e muita lama é destino certo para os que realizam o trajeto entre o município de Lima Duarte e Ibitipoca. Nos últimos dias, a grande quantidade de chuva, somada ao alto fluxo de veículos por conta do Réveillon, piorou muito a condição da estrada, que possui trechos de terra. De acordo com moradores, a situação – que é frequente em tempos de chuva – neste ano está pior. Eles reivindicam intervenção do Governo do estado na manutenção da via.
Em contato com a Tribuna, a Prefeitura de Lima Duarte afirmou que a Secretaria de Obras tem realizado manutenção preventiva desde antes das festas de fim de ano, e, logo após os primeiros transtornos, a equipe foi deslocada para o trabalho corretivo, que permanece até o momento atual. A Administração ainda reiterou que vem fazendo cobranças ao Governo estadual, para a concretização da pavimentação do trecho, ressaltando a importância da via para o turismo no Parque Estadual do Ibitipoca e para a economia da região.
No último ano, uma articulação entre a Prefeitura e o Estado estimou a destinação de R$ 9 milhões para intervenções no acesso ao distrito de Conceição de Ibitipoca. No entanto, o Município diz que ainda aguarda a destinação dos recursos para a obra. Segundo a Administração, toda a documentação já foi enviada, e a expectativa é de que o convênio possa ser firmado ainda nos primeiros meses de 2022.
A Tribuna tentou contato com a assessoria da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), porém, até o momento, não obteve retorno.
Surto de Covid-19
Diante das condições da estrada, moradores e comerciantes sofrem com a falta de acesso ao distrito, situação que se agravou após o Réveillon, uma vez que a cidade registrou um surto de Covid-19. “É revoltante”, afirma a moradora e empresária Flávia Oliveira, “essa situação toda é ainda mais preocupante nesse momento pandêmico que estamos vivendo. Realmente estamos sem acesso, é descaso total com os moradores, empresários, turistas, porque todos nós somos contribuintes, pagamos nossos impostos, é nosso direito básico possuir esse acesso. Já não sabemos nem mais de quem cobrar, se é da Prefeitura ou do Governo do estado. Muitas das vezes foram os próprios moradores de Ibitipoca que arcaram com a manutenção da via, mas agora já estamos cansados, é nosso direito e merecemos que essa intervenção ocorra de forma definitiva”.
Em relação ao aumento de casos da Covid-19 no município de Lima Duarte, a Administração afirmou que tem feito testagens em massa em toda população, inclusive no distrito de Ibitipoca. O atendimento médico no local é realizado por um carro da Secretaria de Saúde, que faz a viagem até Ibitipoca duas vezes por semana com a equipe médica. No momento, o trajeto continua sendo feito, apesar das intercorrências causadas pelo barro na estrada. A principal delas, segundo o motorista Marciano Júnior, mais conhecido como Chinha, é o tempo de espera que os veículos menores enfrentam em situações de atolamento. “Hoje pela manhã, um ônibus ficou mais de 30 minutos atolado, foi preciso que o trator da Prefeitura fosse retirá-lo. Isso acontece sempre, com ônibus, caminhão de leite, carros mais pesados que agarram fácil.”
Chinha faz viagens turísticas e conta que, na última semana, tem observado a condição da estrada deteriorar de maneira significativa, bem pior que nos últimos anos. “Mesmo que a máquina da Prefeitura retire o excesso de lama, coloque cascalho, saibro, o fluxo de carros está muito intenso, e sempre tem um que agarra e acaba com todo o trabalho. Isso é péssimo para o movimento na cidade.” Ele, que também é proprietário de uma pousada, afirma que já realizou dois cancelamentos essa semana por conta das adversidades do trajeto. “Cinco pessoas que desistiram de vir por causa da estrada, e eu vou ter que reembolsar elas.”
Comércio e turismo prejudicados
O cancelamento de estadias em Ibitipoca, em tempos de chuva, já é esperado. No caso de Felipe Mattos, proprietário de uma pousada no distrito, o número de desistências foi grande durante as últimas semanas, “principalmente porque haviam turistas que viriam de excursão, sendo impossível a chegada na vila de veículos pesados como vans e micro-ônibus”. Ele ainda reitera que o descaso com a via de acesso a Ibitipoca é de longa data, e a responsabilidade nunca assumida. “Em outras ocasiões, como quando caíram pontes de acesso, a situação foi resolvida com “vaquinha” dos moradores. Vale ressaltar o quanto irônico é essa situação acontecer enquanto o processo de concessão do Parque Estadual caminha sem que nenhuma contrapartida de melhoria e infraestrutura para a vila seja estabelecida.”
As intercorrências no caminho, também prejudicam os comerciantes de Ibitipoca, para eles, o período de chuva é sinônimo de apreensão. Como conta Carolina Cunha, funcionária de uma padaria do distrito, o planejamento para garantir os mantimentos deve ser realizado pensando nos contratempos do trajeto. “O percurso, que geralmente é feito em 30 minutos, está levando quatro horas, porque sempre tem carro agarrado na estrada. Então, para garantir os produtos da padaria, nós temos que descer para Lima Duarte já contando com esses empecilhos. No final de semana, o movimento aumenta demais, e nós precisamos ter estrutura para atender essa grande quantidade de gente.”