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Doação de órgãos: fila de espera em Minas tem quase 3,9 mil pessoas

Doação de órgãos: fila de espera em Minas tem quase 3,9 mil pessoas
(Foto: Arquivo pessoal)
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Em 2022, o pecuarista e morador de São João Nepomuceno Lauro Cesar Varotto, com 49 anos atualmente, começou a emagrecer e perder apetite. Para descobrir o que vinha acontecendo com sua saúde, fez exames no sistema digestivo. Entretanto, nada foi apontado – por isso, foi requisitado um hemograma completo. Já em fevereiro de 2023, ele realizou uma tomografia e descobriu que um de seus rins estava totalmente comprometido, enquanto o outro tinha função renal de apenas 12%.

De início, Lauro negou o tratamento de hemodiálise e realizou uma dieta restritiva. Durante um ano, permaneceu com a mesma medida, até que sua função renal chegou a 6%. Nesse contexto, seu médico afirmou que a hemodiálise seria necessária. Simultaneamente, sua esposa, a também pecuarista Leandra Botelho Varotto, de 42 anos, havia realizado exames que indicaram compatibilidade com o marido e, consequentemente, a possibilidade de transplante do órgão.

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“Há três meses, conseguimos realizar o transplante, na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, sem o Lauro fazer hemodiálise e de uma doadora viva, o que foi muito importante. A fila no Brasil é muito grande para cirurgias que envolvem órgãos de pessoas mortas”, conta. Até a redação desta matéria, na quinta (26), a fila de espera em Minas Gerais, segundo dados do Ministério da Saúde, é composta por 3.886 pessoas. No país, o número chega a 44.634.

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Lauro afirma que tudo normalizou em sua qualidade de vida. “Hoje eu sei o quão importante é a doação de órgãos. Ela evitou que eu precisasse fazer uma hemodiálise e tivesse outras complicações. Isso deve ser muito divulgado, pois pode ajudar muitas pessoas. Estive internado com outros pacientes que estavam fazendo o tratamento, e eles me contaram como era penoso passar por ele.”

Processo de doação de órgãos

O dia 27 de setembro, que acontece nesta sexta-feira em 2024, é marcado pelo Dia Nacional da Doação de Órgãos. “É importante as pessoas saberem que doação por parte de pessoas vivas não compromete a saúde delas e ajuda na fila de espera. Além disso, a recuperação é rápida. Eu saí do hospital com dois dias de cirurgia”, diz Leandra.

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Segundo Gustavo Ferreira, coordenador do Programa de Transplantes da Santa Casa de Juiz de Fora, a doação de órgãos pode ocorrer de duas maneiras principais: em vida e após morte. “A pessoa viva pode doar órgãos como rim, parte do fígado ou medula óssea, desde que não comprometa sua saúde. Para isso, deve ser maior de idade, estar em boas condições de saúde e passar por avaliações médicas e psicológicas para garantir a aptidão. A doação deve ser voluntária e formalizada perante um juiz no caso de doação para não parentes.”

(Foto: Arquivo pessoal)

Já o outro caso ocorre quando a pessoa sofre morte encefálica, geralmente causada por traumas ou acidentes vasculares cerebrais. “Para que a doação seja realizada, a família deve autorizar, mesmo que o indivíduo tenha manifestado o desejo de ser doador em vida. A morte encefálica é a cessação irreversível de todas as funções do cérebro, incluindo o tronco cerebral. Esse diagnóstico precisa seguir critérios rigorosos, envolvendo exames clínicos e complementares feitos por uma equipe médica especializada e autorizada pela legislação”, esclarece.

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“Uma vez confirmada a morte encefálica, a equipe médica contata a família para obter a autorização da doação. Com o consentimento, o paciente é mantido em suporte artificial para garantir a oxigenação dos órgãos até o momento da retirada. Em seguida, uma equipe especializada faz a captação deles, que são rapidamente distribuídos para pacientes que estão na fila de transplante.” Conforme Gustavo, esse tipo de doação permite salvar várias vidas, pois diversos órgãos podem ser aproveitados.

Em relação à hierarquia na fila, Gustavo destaca que cada órgão possui seus critérios de alocação. “Enquanto no rim o principal critério é a compatibilidade, o fígado e o coração, por exemplo, utilizam o critério de gravidade. A compatibilidade entre doador e receptor, especialmente com relação ao tipo sanguíneo (no sistema ABO) e outras características imunológicas, também é um fator determinante.”

Além disso, embora a urgência e a compatibilidade sejam os fatores principais, o tempo de espera também é considerado para aqueles que estão em situação estável, mas aguardam um órgão compatível. Gustavo acrescenta que cada estado possui uma lista: caso o órgão não seja alocado nele próprio, será alocado para todo o Brasil para encontrar o receptor adequado.

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Juiz de Fora e Brasil são destaques

Juiz de Fora é uma cidade importante no cenário dos transplantes no Brasil, de acordo com Gustavo. “A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora se destaca como um dos principais centros de transplante do país nos transplantes renais. Só em 2024, já foram realizados 167 – 22 em setembro. O número no município tem aumentado, o que mostra que ele está se consolidando como um importante polo transplantador no país”, ressalta.

Já em relação ao Brasil, o médico reforça que o país é um destaque mundial no campo, especialmente pela saúde pública e pelas técnicas e tecnologias avançadas. “Possuímos o maior programa público de transplantes do mundo, no qual todos os custos, desde o procedimento até a medicação pós-transplante, são cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o Brasil tem profissionais de alto nível e utiliza técnicas modernas, adicionado ao desenvolvimento de pesquisas em imunossupressores, que permitem taxas de sucesso elevadas em diversos tipos de transplante.”

Gustavo conta que, em termos de volume, o Brasil é o quarto maior transplantador de órgãos do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Índia e China, sendo referência em transplante renal e hepático. O país também se destaca na doação e no transplante de córneas.

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*sob a supervisão da editora Fabíola Costa 

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