Foi em 2019, quando solicitou sua aposentadoria, que ele percebeu que havia ganhado muito peso devido ao tratamento. Procurou um endocrinologista, que lhe alertou sobre o risco de diabetes e a necessidade de fazer exercícios físicos. No ano seguinte, Anderson começou a se movimentar em casa para melhor qualidade de vida e, em 2022, participou de sua primeira disputa do Ranking de Corridas de Juiz de Fora.
Neste ano, o atleta já disputou a Corrida do Bahamas, e irá participar, neste sábado (15), da Tecnobit, a segunda do Ranking. Anderson é o segundo personagem do “Qual é o Seu Corre?”, série da Tribuna de Minas que conta a história de um corredor a cada prova que integra a temporada oficial da cidade para entender a relação de amor ao esporte e os esforços necessários para estar presente nas provas.
“É necessário mais investimento”
Nas corridas do Ranking, Anderson representa a equipe da Secretaria de Esportes e Lazer (SEL). Mais importante que os resultados esportivos são as melhorias tanto no bem-estar quanto na convivência social, conforme o próprio atleta diz. “Convivemos com pessoas que nos incentivam e praticamos uma concorrência sadia entre nós. Isso é um diferencial importante para pessoas com algum tipo de deficiência, que muitas vezes se sentem excluídas. A inclusão social é muito importante e o esporte é essencial para alavancá-la. Acredito que as famílias com pessoas com deficiência precisam dedicar um tempo para inseri-las no meio social, e o esporte é uma excelente forma de fazer isso. No meu caso, foi minha mãe, Ângela Maria, que me incentivou a participar também, porque ela já era atleta”, conta.
Entretanto, apesar da satisfação que o esporte lhe proporciona, o corredor atenta para a necessidade de melhorias estruturais em Juiz de Fora para que as pessoas com deficiências possam ter uma experiência mais agradável na modalidade. “A Prefeitura e a SEL têm projetos, mas é necessário mais investimentos. Não temos muitas pessoas também, falta divulgação dos órgãos competentes, além de várias famílias não disporem de um tempo para ajudar no deslocamento do PCD”, acredita. O atleta realiza seus treinamentos três vezes por semana, no Museu Mariano Procópio ou na UFJF, mas reconhece que outra dificuldade para os corredores é que “a maioria dos lugares de treinamento são afastados. Quem mora em Benfica, por exemplo, tem muita dificuldade para manter uma regularidade de treinamentos”.
Conciliar trabalho e corrida
Como a corrida não é uma atividade remunerada – em Juiz de Fora, muitas vezes os patrocínios só cobrem os gastos das competições – os corredores precisam fazer outras atividades, assim como Anderson. “Eu ministro palestras em várias empresas sobre o cuidado com o corpo, principalmente com os membros superiores. Instruo as pessoas a terem cuidado durante as atividades do dia a dia, seja no local de trabalho ou em casa, porque a gente às vezes acha que acidentes acontecem apenas no serviço, mas não. A maioria dos acidentes é com baixa gravidade e ocorre em casa, só que isso é menosprezado. Tenho como missão tentar mostrar às pessoas que, por mais cuidado que a gente tenha, estamos sujeitos a sofrer um acidente de baixa ou grande proporção. Com base nisso, converso com as pessoas, dou exemplos do cotidiano e da própria empresa e faço dinâmicas. Tento fazer algo bacana para que as pessoas possam levar isso para casa e conversar com filhos, esposo ou esposa e passar isso adiante”, explica.
Além das palestras, o esportista dedica parte de seu tempo para cuidar dos seus filhos, Matheus e Gabriel, de 7 e 19 anos. “Auxilio nas atividades diárias, principalmente no estudo. Converso com eles sobre as minhas dificuldades e as condições de uma pessoa deficiente. Mostro para eles que temos que dar valor à vida, não reclamar de tudo, porque só damos valor quando perdemos, como foi comigo”, diz.
Futuro no esporte e inspiração
Mesmo que tente evoluir gradativamente e acredite ter condições de representar Juiz de Fora como um atleta do paradesporto, Anderson diz levar as corridas de forma leve, sem se preocupar com suas colocações. “Meu objetivo maior é cuidar da saúde, fazer atividade física, e o que vier (além disso) é lucro. Claro que seria um prazer representar a cidade, Minas Gerais ou o Brasil em competições, mas temos que ir devagar. Quero continuar correndo para ter bem-estar”, declara.
Já reconhecido na cidade, apesar de ter começado a correr no ano passado, ele acredita que consegue inspirar outros atletas e mostrar que é necessário que cada um reconheça seus limites. “É importante nós entendermos o que somos capazes de fazer, sem fraquejar no primeiro momento. Para isso, é importante ter o incentivo de amigos e da família, e não se cobrar demais. A deficiência é uma limitação, mas cada passo dado no dia a dia é uma vitória e não se pode desistir facilmente. É preciso ter boa vontade, esforço e persistência para superar as limitações. Se a pessoa com deficiência fica parada, isso pode agravar seus problemas de saúde e torná-la um fardo pesado para a família. Por isso, precisamos inseri-la na comunidade e no meio esportivo, para melhorar sua saúde e desempenho, e ajudá-la a fazer coisas que antes pareciam impossíveis”, clama Anderson. “Não desistam das pessoas com deficiência, elas precisam de incentivo para obter sucesso na vida, e isso depende dos outros”.