Conheça a força do ciclismo de estrada em Juiz de Fora
Juiz de Fora continua celeiro de grandes atletas, é palco de treinos do técnico da Seleção Brasileira de Ciclismo de Estrada e de competidores de alto nível
“Juiz de Fora sempre foi um celeiro de grandes atletas. Já tivemos vários campeões nacionais e pan-americanos. A cidade te propicia isso. O clima, os locais de treinamento, ela está no meio de montanhas, é rodeada de boas estradas. Então aqui é um lugar perfeito para você evoluir no ciclismo.” Esta não é uma opinião qualquer. Trata-se de relato do técnico da Seleção Brasileira de Ciclismo de Estrada, Wolney Morais, 38 anos, paulistano, mas que vive na cidade há 35 anos.
A presença do comandante da Seleção e da equipe da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma das principais do país, não é a única que encorpa o já histórico ciclismo na cidade. Alguns dos principais atletas do país na modalidade também escolheram ou têm em Juiz de Fora um dos melhores locais para a prática e o aprimoramento da modalidade sobre duas rodas. Este é o caso do trio da UFF, Dinartt Fagundes, Felipe Marques e Emerson Santos, ciclistas profissionais de estrada. Dinartt, 46 anos, é tricampeão pan-americano master e, natural de São João Nepomuceno, iniciou a prática em Juiz de Fora, aos 18 anos, num cenário bem diferente do atual.
“Havia muitas dificuldades no início, como falta de equipamentos, mas hoje temos um apoio maior da equipe UFF e de patrocinadores, que nos propiciam participar de competições nacionais e internacionais. Juiz de Fora tem uma raiz no ciclismo de estrada e no mountain bike. Temos diversos campeões nacionais e internacionais, então a cidade representa bem o Brasil no ciclismo. Há boas estradas e estradas vicinais que permitem treinamentos tanto de subidas, como no plano, então há uma diversidade muito boa”, diz.
Ao lado de Wolney, o trio da UFF busca, a partir de 2018, voltar a competir no exterior. A equipe da UFF e a da Funvic, de São José dos Campos (SP), são as únicas que possuem chancela continental para atuar fora do país. A tendência é que este exemplo de sucesso fomente ainda mais a prática do ciclismo em Juiz de Fora. “Quando comecei, tínhamos uma turma de cerca de 20 pessoas. Hoje o ciclismo é o esporte que mais cresce no mundo. Saímos para treinar na estrada e não tem um dia que não encontramos cinco, dez pessoas. Aos sábados e domingos são centenas de praticantes. O esporte está em evidência no mundo, tanto para competições, quanto para o bem estar”, analisa Dinartt.
Já Felipe, mais conhecido como Felipinho, 26, nasceu em JF e acompanhou de perto o sucesso de Dinartt e outros profissionais, o que o impulsionou. “Comecei em 2006 por hobby e estou desde 2011 no ciclismo de estrada profissional. Acumulei resultados como pódios em etapas na Volta de Santa Catarina, no Tour do Rio e na Volta Internacional de Guarulhos, além do 5º lugar no Brasileiro. Estar com tantos campeões na região ajuda porque, como você está perto, vê que possui capacidade para chegar naquele degrau e tudo fica mais fácil”, conta o atleta que costuma realizar treinos na BR-040 com distâncias entre 100km e 200km.
Paixões
A paixão de Emerson pela cidade ultrapassa, inclusive, os limites profissionais. Conhecido como “Baiano”, já que é de Juazeiro (BA), está há quase cinco anos na cidade, onde criou laços familiares. “Quando cheguei a Juiz de Fora percebi que possuía vários tipos de terreno. E treinando aqui consegui obter os melhores resultados da minha carreira. Fui vice-campeão brasileiro sub-23 em 2012, terceiro no contra-relógio individual do nacional de 2014, e 5º geral do Brasileiro um ano depois. Vi que meu rendimento aumentou bastante também com a ajuda da minha equipe e investi em Juiz de Fora. Até já tenho meus documentos na cidade, me considero um juiz-forano. Me casei, minha filha acabou de nascer, então já construí família. Tudo tem dado certo”, conta o atleta que sonha com ouro no Brasileiro.
Entrevista /Wolney Morais, técnico da Seleção brasileira de ciclismo de estrada
“Estamos evoluindo muito”
A Tribuna aproveitou para ter uma conversa especial com o técnico da Seleção Brasileira de Ciclismo de Estrada e da UFF, Wolney Morais, na BR-440, a Via São Pedro. Segundo ele, Juiz de Fora é uma cidade propícia á prática do esporte e também do mountain bike pela proximidade das trilhas e estradas para treinamento. Sobre o trabalho com a Seleção, ele diz que 2017 foi um ano “meio parado por conta da crise no país”, mas acredita que 2018 será diferente. Confira.
Tribuna de Minas – Qual é o cenário atual do ciclismo de estrada nacional?
Wolney Morais – Nessa experiência com a equipe profissional já tive passagens pela seleção e competições internacionais por América do Sul, EUA e Europa. O ciclismo ainda está muito longe do que é lá fora, mas estamos evoluindo muito com a profissionalização do esporte, além do aumento em massa de atletas pedalando.
– Em Juiz de Fora também há esse crescimento?
– Acompanhei essa evolução em Juiz de Fora. Antes eram só atletas de competição, mas hoje temos entusiastas, amadores, todos estão crescendo e querendo pedalar. Juiz de Fora é perfeita para o ciclismo de estrada e mountain bike. Você sai do centro da cidade e rápido está nas trilhas e na estrada.
– Quais os locais você costuma escolher para treinar?
– Aqui no mountain bike as mais usadas são a Trilha do Aroeira, a da Pepsi, as de Humaitá, Piau e a estrada principal é a BR-040 por ter um asfalto, piso e acostamento muito bons e o tráfego não ser tão intenso.
– Há quanto tempo você está na Seleção Brasileira?
– Com a experiência na UFF e nossa evolução fui convocado há um tempo para ser o técnico da Seleção. Disputamos algumas provas fora do país muito importantes como um Mundial. Com essa crise no Brasil tivemos uma parada, porque para fazer uma viagem para a Europa se gasta ao menos R$ 200 mil. Vamos ver se viramos o ano e começamos a trabalhar novamente. Mas a experiência foi muito boa, estivemos com os melhores atletas do mundo, campeões mundial e olímpico.
– E como é o trabalho na Seleção?
– A Seleção de Ciclismo de Estrada possui geralmente oito atletas e cinco pessoas da comissão técnica. Como os atletas costumam ser de várias partes do país, acompanhamos virtualmente. Sabemos o que todos estão treinando, mas para competições normalmente nos encontramos 15 dias antes para os ciclistas se entrosarem e conseguirmos ver como está o nível de cada um.