2020 ‘começa’ com otimismo e ações que visam ao desenvolvimento regional
Sem definições concretas sobre a chegada de novas empresas a JF, Poder Público busca alternativas para fortalecer economia da Zona da Mata
Se para muitos o ano só começa depois do Carnaval, no âmbito econômico a situação é diferente, sobretudo, em tempos de crise. O clima é de uma verdadeira corrida contra o relógio para promover mudanças que ofereçam um cenário mais favorável à geração de emprego e renda. Neste aspecto de urgência, a economia da Zona da Mata tem sido pauta de uma agenda permanente entre Poder Público, lideranças setoriais e instituições de pesquisa. O encontro mais recente ocorreu na última quarta-feira (19), realizado entre representantes do Governo de Estado e da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Para estes agentes, a atração de novos investimentos para a cidade e a criação de um ambiente que propicie a expansão dos negócios já instalados são fundamentais para o desenvolvimento local que, depende, ainda, do fortalecimento econômico dos demais municípios da região.
Sobre a prospecção de novos negócios, a informação da Agência de Promoções de Investimento e Comércio Exterior de Minas Gerais (Indi-MG) é que ainda não houve, em 2020, assinatura de protocolos de intenção de empresas interessadas em Juiz de Fora. “Mas a cidade está concorrendo com outros municípios em vários projetos que estamos buscando para o Estado”, afirma o diretor de cadeias produtivas de base natural, Ronaldo Alexandre Barquette. Sem informar quais seriam os projetos, ele avalia que a vocação econômica local garante boa estrutura para o recebimento de empresas dos setores automotivo, aeroespacial, metal-mecânico, logística e ciências da vida.
Destacando que o Indi-MG apresenta as possibilidades, mas a decisão final sobre o local de instalação é da empresa, Barquette caracteriza como “excelente” o potencial da cidade. “O Porto Seco é um grande diferencial. Temos, ainda, terrenos disponíveis, um sistema elétrico fantástico, gasoduto, ferrovia”, enumera. “A cidade é do lado do aeroporto regional e está muito próxima do Rio de Janeiro, que também tem o porto. A economia conta com arranjos produtivos locais, como o da cerveja artesanal, um setor metal-mecânico forte e um mercado consumidor que engloba municípios da Zona da Mata e do estado do Rio.”
No entanto, ele ressalta que a realidade regional pode ser um entrave para o desenvolvimento local. “Juiz de Fora é uma ilha desenvolvida localizada em uma área carente. A quantidade de pessoas de fora que dependem da cidade, principalmente na área da saúde, cria uma sobrecarga”, analisa. “É preciso apoiar o fortalecimento econômico dos municípios vizinhos. Por isso, os esforços estão sendo realizados para desenvolver a Zona da Mata como um todo.”
Plataforma de Bioquerosene
Dentre as iniciativas em prol do desenvolvimento regional está a criação da Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata. A proposta é que, em 2031, a região esteja produzindo cerca de 230 milhões de litros de bioquerosene de aviação. “Enquanto trabalharmos apenas localmente, Juiz de Fora sempre irá crescer abaixo da sua potencialidade”, declara o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária, Rômulo Veiga. Ele explica que a proposta é criar ações de curto, médio e longo prazo que priorizem oportunidades estruturais a partir de projetos que movimentem toda a cadeia produtiva. No dia 2 de abril, o Governo de Estado irá realizar um evento para a divulgação da Plataforma de Bioquerosene.
Indústria ganhará agenda de inovação
O ano de 2019 não foi fácil para a indústria. Logo no início, o rompimento da barragem da Vale na Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, trouxe impactos diretos para toda a cadeia da mineração. Posteriormente, Juiz de Fora acompanhou a redução das atividades da Mercedes-Benz e a desistência do projeto da M. Dias Branco.
Responsável por empregar 19.758 trabalhadores e movimentar cerca de R$ 44 milhões por mês em salários, o setor possui grande relevância para a economia local, mas vem enfrentando um histórico de altos e baixos nos últimos anos. A principal proposta do Município para o setor, em 2020, é fortalecer as empresas já instaladas na cidade a partir da criação de uma agenda de inovação, que ofereça capacitações sobre como realizar a transferência de recursos para a aplicação em pesquisa. “É uma ação de curto prazo e perene. A ideia é promover eventos para levar informações sobre a Lei do Bem, que garante esta possibilidade aos empresários, mas ainda é desconhecida por muitos”, informa o secretário Rômulo Veiga.
A Lei 11.196/05, chamada de Lei do Bem, prevê o abatimento no recolhimento do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas para empresas de qualquer área que invistam em pesquisa, desenvolvimento e inovação. “É uma iniciativa muito interessante, pois promove a renda dentro do município”, explica Rômulo. Segundo ele, as primeiras capacitações sobre o assunto irão ocorrer ainda no primeiro trimestre do ano.
Aproveitando o otimismo de muitos empresários do setor e o cenário de juros baixos, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Regional Zona da Mata ressalta, mais uma vez, a importância da criação de uma cultura de exportação entre as empresas do município. “Nós temos produtos de muita qualidade que podem ser competitivos lá fora, mas muitas empresas não consideram a possibilidade de vender para o exterior por desconhecerem o processo”, afirma o presidente Aurélio Marangon.
A unidade regional realiza gratuitamente o Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), em parceria com a Apex Brasil, que capacita empresas de toda a região para exportarem. Os interessados devem se cadastrar na sede da unidade regional da Fiemg (Avenida Garcia Rodrigues Paes, 12.359, Bairro Industrial). Um novo edital do programa está previsto para maio.
Codeme pretende expandir atividades
No ano em que completa 40 anos, a Codeme, empresa referência no setor de construções em aço, planeja a expansão dos negócios. “Abriremos 95 vagas diretas neste primeiro semestre para aumentar em 50% a nossa produção”, adianta o diretor industrial Dalton Utsch. As oportunidades são para as áreas de caldeiraria, soldagem e operação de máquinas. “Já preenchemos 35 vagas, dentre estas, tivemos a contratação de pessoas que passaram pelo programa Jovem Aprendiz.”
O projeto de expansão, afirma o executivo, se deu pelo aumento da demanda. “A procura cresceu por conta das obras do setor de mineração. Após o rompimento da barragem, em Brumadinho, as empresas estão criando outro tipo de estrutura para armazenarem os rejeitos. Isto aqueceu o nosso setor.” Além disso, Dalton destaca as mudanças econômicas. “Os juros mais baixos facilitaram o crédito e estimularam o consumo.”
Por conta disso, a expectativa para o segundo semestre é ainda melhor. “Se o cenário for mantido, esperamos abrir mais 50 vagas e aumentar a produção em 80%.” Segundo ele, o crescimento irá representar uma grande mudança para a empresa. “Nós vivemos nosso pior momento em 2018. No ano passado, começamos a trabalhar para reverter esta situação. Acreditamos que, em 2020, este trabalho será consolidado.”
Comércio e serviços também vivem expansão
Os setores de comércio e serviços também têm apostado em um 2020 mais promissor. “Os juros mais baixos facilitam a quitação de dívidas e o retorno dos consumidores que estavam negativados ao mercado”, enfatiza o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL-JF), Marcos Casarin. “Isto gera otimismo nos empresários para investirem.”
No comércio, alguns projetos de expansão já foram anunciados. O Grupo Bahamas, maior rede juiz-forana de supermercados, pretende investir R$ 100 milhões para a abertura de, pelo menos, dez novas lojas, na Zona da Mata, no Triângulo Mineiro e no Sul de Minas. O Independência Shopping e o Jardim Norte confirmaram a chegada de novas lojas aos empreendimentos. Também para este ano foi anunciada a ativação gradativa do Moinho JK Center.
No setor de serviços, a área de eventos tem sido uma das mais promissoras, mostrando-se resistente mesmo diante da crise. “Juiz de Fora é reconhecida por este trabalho”, destaca o CEO da Viva Eventos, Renato Menezes. A empresa juiz-forana, que se tornou a primeira franqueadora do ramo de eventos no país, também tem perspectivas positivas para 2020. Iniciamos um processo de expansão nacional em 2019. Agora, com o ambiente mais favorável por conta da redução dos juros, esperamos dar continuidade a este trabalho.”