Juiz de Fora cria quase dois mil empregos em 2018
Após a perda de mais de 8 mil vagas entre 2014 e 2017, cidade registrou saldo positivo no Caged
Após quatro anos consecutivos amargando perdas de emprego com carteira assinada, Juiz de Fora voltou a criar vagas. A cidade encerrou o ano de 2018 com 1.924 novos postos de trabalho, resultado entre as 53.392 admissões e as 51.468 demissões realizadas no período. Os números são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) que foram divulgados nesta quarta-feira (23) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Os resultados também foram positivos em Minas Gerais e no país.
A criação de novas oportunidades no mercado formal representa um fôlego para a economia juiz-forana, mas ainda não configura a retomada do crescimento. Apesar de o número de admissões superar o de demissões, o resultado está longe de recuperar o total de 8.112 empregos que foram extintos no período entre 2014 e 2017. O saldo também é inferior quando comparado ao de outros anos da série histórica em que houve geração de empregos. O ano de 2010 segue como o ápice da empregabilidade no município, quando foram criadas 6.805 oportunidades (ver quadro).
Na avaliação do economista e professor da UFJF, Fernando Perobelli, o resultado reflete a mudança de perspectiva do empresariado, que se mostrou mais confiante em 2018. “A economia também é influenciada pelas expectativas, e os empregadores se mostraram mais otimistas com a mudança de governo e os novos rumos que o país pode tomar com uma liderança de direita, mais conservadora. No entanto é cedo para falar em retomada, precisamos esperar para ver os números deste primeiro semestre. Há muitas reformas que são aguardadas e irão provocar impactos econômicos.”
Na análise mensal, outubro foi o melhor mês
Na análise mensal do Caged, Juiz de Fora teve o pior resultado em dezembro, com a perda de 960 vagas. Desta forma, interrompeu um ciclo positivo de quatro meses consecutivos gerando empregos, entre agosto e novembro. A avaliação do desempenho mês a mês mostra que em novembro foram criados 148 empregos formais. Outubro apresentou o melhor resultado do ano, com 1.360 oportunidades com carteira assinada. Em setembro houve a criação de 327 postos de trabalho, enquanto em agosto, foram 523.
Nos três meses anteriores, Juiz de Fora fez o caminho inverso, mais demitiu do que contratou. Em julho, houve a extinção de 251 empregos com carteira assinada. Em junho, o resultado foi negativo em 19 vagas e, em maio, o déficit foi de 254 postos. No início do ano, de janeiro a abril, a performance foi positiva. Em janeiro foram abertas 179 vagas formais, em fevereiro, 96, em março, 117 e, em abril, 492.
Serviços é destaque na criação de oportunidades
Confirmando a vocação econômica da cidade para os setores de comércio e serviços, estas foram as duas atividades que fecharam o ano com saldo positivo. O segmento de serviços criou 1.976 vagas, enquanto o comércio registrou 379. Em 2017, os dois ramos extinguiram oportunidades, refletindo em saldo negativo em 556 e 180 oportunidades, respectivamente. Os demais segmentos (indústria de transformação, construção civil e agropecuária) também sofreram perdas.
De acordo com Perobelli, além da matriz econômica do município ser direcionada ao comércio e serviços, outros fatores contribuíram para o bom desempenho destas atividades. “São setores que sentem o impacto mais rápido das oscilações econômicas. No caso, esta perspectiva positiva que aumentou a confiança e o otimismo do empresariado interferiu diretamente nas contratações. Além disso, estamos falando de dois setores que são intensivos em mão de obra e que também enfrentam a questão da sazonalidade.” Ele exemplifica que a abertura de vagas temporárias para as festas de fim de ano está atrelada às perspectivas do empregador. No caso dos outros setores, ele afirma que a resposta às movimentações na economia acontecem de forma mais lenta.
Para o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio), Emerson Beloti, o setor de serviços tem se configurado como a grande alavanca para Juiz de Fora. Ele destacou o número de microempreendedores individuais criado na cidade (1.407 registros em 2018), o terceiro maior do estado, e a demanda crescente do consumidor.
No varejo, o presidente citou a chegada de empresas à cidade, especialmente nas áreas alimentícia e farmacêutica, além da perspectiva otimista do empresariado em relação à mudança de governo. Para Beloti, novembro tem sido um mês especialmente positivo para o comércio, em função da Black Friday, cujas vendas foram consideradas melhores até do que as do Natal.
Indústria faz caminho inverso e reduz quadros
A indústria de transformação fechou o ano cortando 256 postos de trabalho. Em 2017, foram abertas 197 vagas na cidade. A construção civil cortou 94 vagas, contra saldo negativo de 117 postos verificado no ano anterior. Já a agropecuária teve redução de 52 vagas. Em 2017, o saldo foi deficitário em 60 oportunidades.
Em relação à indústria da transformação, o analista de negócios da Fiemg Regional Zona da Mata, Matheus Savio Sant’ana, avalia que o setor, de modo geral, começou o ano de 2018 entusiasmado, acreditando em recuperação econômica, queda no desemprego e evolução do PIB. No decorrer do ano, avalia, diversos fatores conduziram a esse desempenho negativo, como a paralisação dos caminhoneiros, que impactou diretamente o faturamento das empresas, e o longo período de indefinição por conta das eleições. Esse conjunto, afirma, afugentou investimentos, diminuiu de forma consistente as vendas e refletiu na empregabilidade.
O analista avalia que o resultado deficitário não foi percebido em toda a cadeia. Segundo Matheus, houve setores que geraram emprego, como material de transporte (270 postos de trabalho), metalurgia (57) e mecânica (38). Por outro lado, a industria têxtil, de vestuário e artefatos fechou 454 vagas formais no ano passado. No segmento de alimentação, a redução foi de 111 empregos. Os dois setores, explica, estão diretamente vinculados à disponibilidade de renda. Um agravante enfrentado pela área têxtil, acrescenta, é a concorrência com os produtos chineses.
Já a construção civil, considerada termômetro da economia, refletiu a dificuldade enfrentada pela falta de disponibilidade de renda e restrição na concessão de crédito, apesar dos lançamentos de empreendimentos e dos canteiros de obras vistos na cidade. Para o analista, o elevado número de consumidores com restrição de crédito também influencia, negativamente, a empregabilidade no setor.
Para 2019, comenta, a Fiemg trabalha com boas perspectivas, de taxa de juros em patamar favorável para investimentos, crescimento do PIB e redução dos índices de desemprego, além da realização de reformas estruturantes e controle das contas públicas. “Alguns empresários já falaram em retomar investimentos, mas a gente precisa que o governo faça a sua parte.”
Para PJF, resultado é satisfatório
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Rômulo Veiga, o resultado do Caged em 2018 é satisfatório. Para ele, o setor de serviços se mostra mais aquecido no município quando comparado a Minas e Brasil, com a geração de 1.976 postos de trabalho (um para cada 285 habitantes), enquanto o mesmo setor obteve saldo positivo de 45.485 empregos (um para 461) no estado, e 398.603 (um para 522) no país.
A vocação histórica de Juiz de Fora para o setor, destaca Rômulo, considerando que a cidade é reconhecidamente um polo de ensino superior, formadora de mão de obra qualificada, e referência regional de saúde, é um dos fatores que justificam esse resultado.
No país, foi o primeiro saldo positivo desde 2014
No país, o estoque de 529,5 mil novos empregos formais foi o primeiro saldo positivo desde 2014, quando houve geração de 420,6 mil vagas. Em dezembro, em decorrência da sazonalidade negativa do mês em alguns setores de atividade, o mercado formal teve retração. A queda no mês (-334,4 mil postos) foi resultado de 961,1 mil de admissões e 1,2 milhão de desligamentos. O comércio se destacou positivamente, com abertura de 19,6 mil novos postos. O resultado foi impulsionado pelo subsetor do comércio varejista (21,9 mil vagas formais).
No acumulado do ano, o emprego celetista cresceu em todas as regiões do país. O Sudeste teve o melhor desempenho, com 251,7 mil novos postos (1,27%). Entre os estados, 23 registraram expansão do emprego. Minas Gerais ficou em segundo lugar, com 81,9 mil vagas, só perdendo para São Paulo, com 146,5 mil novos postos.
Entre os ramos de atividade, o setor de serviços liderou a retomada do emprego no ano também no país, com saldo de 398,6 mil novos postos. Destaque para os subsetores de comércio e administração de imóveis, valores mobiliários e serviço técnico (165,9 mil empregos), serviços médicos, odontológicos e veterinários (88,9 mil) e serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação (68,1 mil). O comércio teve o segundo melhor desempenho, com saldo superior a 102 mil novas vagas, seguido pela construção civil, que abriu 17,9 mil novos postos de trabalho, e os serviços industriais de utilidade pública, com 7,8 mil vagas abertas.
Novas modalidades
No acumulado do ano, o Caged registrou 163,7 mil desligamentos decorrentes de acordo entre empregador e empregado. Na modalidade de trabalho intermitente, houve 69,9 mil admissões e 19,9 mil desligamentos de trabalhadores em 2018, com saldo superior a 50 mil empregos. O mercado também registrou abertura de novas vagas em tempo parcial em 2018, com um total de 68,9 mil admissões e 47,5 mil desligamentos. O saldo foi de 21,3 mil novos empregos nessa modalidade.
O salário médio de admissão em dezembro de 2018 foi de R$1.531,28, e o salário médio de desligamento, de R$1.729,51. Em termos reais (deflacionado pelo INPC), houve crescimento de R$ 2,88 (0,19%) no salário de admissão e de R$ 40,59 (2,40%) no de desligamento, em comparação ao mês anterior. Em relação a dezembro de 2017, houve aumento real de R$ 3,14 (0,21%) para o salário médio de admissão e perda real de R$ 24,43 (-1,39%) para o salário de desligamento.