Com o objetivo de mapear como a situação financeira dos consumidores foi afetada durante a pandemia da Covid-19, seu poder de compra durante esse período, assim como a percepção sobre a própria situação financeira, o Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP disponibilizou no site um questionário com 16 perguntas no período de 8 de fevereiro a 15 de março deste ano.
Ao todo, 5.007 pessoas participaram da pesquisa. Mais da metade, 69,76% (3.493) delas, afirmou que sua renda individual diminuiu, enquanto para 23,93% (1.198,) o rendimento segue inalterado. E, somente para 6,31% (316), houve aumento nos ganhos.
Questionados sobre a razão do declínio da renda individual, 40,45% (1.413) afirmaram ter sido em decorrência da paralisação parcial ou total de suas atividades de autônomo ou empresário. Enquanto 23,33% (815) apontaram a redução salarial como causa e, para 19,32% (675), a queda foi em decorrência de demissão. Para 16,89%, a diminuição foi gerada pela necessidade de ter que passar a contribuir para a renda familiar em decorrência de desemprego e/ou morte de algum parente.
Participação na renda familiar
A pesquisa perguntou aos entrevistados a respeito da importância de sua renda individual na composição da renda familiar, independentemente de ter havido alteração ou não nos ganhos. Os resultados apontaram que 39,64% (1.985) são responsáveis pela totalidade do salário da família, ou seja, sua renda individual é a renda familiar. Enquanto, um percentual muito próximo 34,49% (1.727), é responsável pela maior parte da renda familiar. Apenas 7,13% dos entrevistados têm renda desvinculada de uma família, já que 4,49% (225) afirmaram que não contribuem para a renda familiar. E 2,64% (132) declararam não ter família.
Aumento nos gastos individuais
O estudo apurou, também, se os participantes consideram que seus gastos habituais sofreram aumento durante a pandemia. Em resposta, a grande maioria, 86,88% (4.350), afirmou que sim. Já 71,47% (3.109) afirmaram que esse aumento foi em decorrência de gastos com alimentação.
Especialistas do Procon-SP acreditam que esse resultado decorreu, dentre outros possíveis fatores, do aumento de preços dos alimentos. Em 2020, de acordo com a pesquisa da Cesta Básica do Procon-SP/Dieese, os alimentos tiveram alta de 31,69% em São Paulo. Outro aumento observado por 14,16% (616) foi em relação às contas de consumo, como água, luz e gás.
“Não é hora de os fornecedores obterem aumento de seus lucros, mas procurarem manter os mesmos patamares existentes à época anterior ao início da pandemia. Tudo porque o consumidor não tem mais condições de consumir, e se o Procon-SP não agir, não intervir e não fiscalizar será agravada ainda mais a situação já dificultada pela pandemia do coronavírus”, afirma o diretor executivo do Procon-SP, Fernando Capez.
Redução ou corte de gastos habituais
Foi questionada, aos consumidores, a necessidade de reduzir e/ou cortar consumos habituais. A grande maioria, 88,86% (4.449), confirmou a mudança na rotina. Sobre os setores em que ocorreu essa redução, alimentação liderou a lista, com 69,18% (3.078), seguida por telefonia e internet, 33,67% (1.498), contas de consumo (água, luz, gás), 33,06% (1.471) e saúde, com 26,88% das respostas (1.196).
Comoso os setores apontados são considerados essenciais, especialistas do Procon-SP indicam que está havendo uma piora na qualidade de vida. Mesmo a telefonia e a internet, em um momento em que o isolamento social é uma das medidas indicadas para conter o avanço da pandemia, se tornam fundamentais para trabalho, estudo e comunicação com parentes e amigos, assim como para compras à distância.
Endividamento
Também conforme a pesquisa, mais da metade dos entrevistados (55,30%) afirmaram possuir dívidas em atraso. A grande maioria, 88,73% (2.457), aliás, assegurou que elas aumentaram durante a pandemia. Para 9,93% (275), não houve alteração, o que pode indicar que já estavam com dívidas em atraso antes da pandemia. Somente 1,34% (37) alegaram ter diminuído as contas a pagar.
As principais dívidas em atraso mencionadas pelos consumidores foram: cartão de crédito, 58,97% (1.633); contas de consumo, 45,68% (1.265) e empréstimos bancários, 43,40% (1.202).
Para os especialistas do Procon-SP, o cartão de crédito é um meio acessível para compra, no entanto, as taxas de juros cobradas ainda estão muito altas, podendo levar ao descontrole e ao endividamento, especialmente quando utilizado para complementar a renda. Além disso, atrasar contas de consumo é também um forte indicador de que os rendimentos não estão sendo suficientes nem para cobrir o básico.