
Em busca de conscientizar sobre problemas sociais e transformar a realidade que afeta as relações entre os consumidores e o comércio, a Febraban Educação, escola de negócios da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), tem lançado capítulos temáticos para formar a coletânea “Palavras que Transformam – Um Convite para a Comunicação Inclusiva e Empática”.
Neste ano, a equipe debruçou-se sobre o etarismo, o preconceito em razão da idade da pessoa. Como resultado, foi produzido um guia que traz reflexões e instruções sobre como combater a linguagem e a postura violenta no tratamento cotidiano por causa da idade, seja a vítima uma pessoa jovem ou idosa.
“O material propõe uma mudança de mentalidade que vá além da linguagem, incentivando uma cultura que reconhece o valor da diversidade etária como parte essencial de ambientes mais justos, inovadores e humanos”, afirmou Ana Ruiz, especialista em Soluções Educacionais da Febraban Educação. Anteriormente, foram lançados capítulos sobre discursos discriminatórios e antirracismo.
O novo capítulo mostra como o etarismo está presente no dia a dia, desde piadas e expressões a práticas de contratação, promoção, atendimento, comunicação e convivência. No texto, além de uma reflexão sobre o que leva a sociedade a se tornar etarista, como a valorização excessiva da juventude e o medo do envelhecimento, também são apontados como esse preconceito nos afeta: redução da autoestima e da autoconfiança, problemas de saúde mental e a sensação de inutilidade ou perda de propósito. O guia pode ser acessado por meio deste link.
Etarismo
Conforme a psicóloga especializada em envelhecimento humano Iracema Abranches, o etarismo é mais frequentemente voltado às pessoas mais velhas. “É perceptível em atitudes no dia a dia, em políticas públicas (ou na falta delas), em redes sociais, na política de empregabilidade, enfim, em todos os setores da vida humana, associado à capacidade da pessoa, tanto física quanto mental, à utilidade que essa pessoa possa ter na sociedade, ao envelhecimento e às modificações do corpo e da aparência, ao tanto que a pessoa pode produzir para a manutenção da vida social, familiar e econômica.”
Além das relações de trabalho, o etarismo também pode ser identificado nas relações entre comércio e consumidor. A especialista cita, por exemplo, as campanhas publicitárias de celulares somente com pessoas jovens, demonstrando que os idosos não seriam o público-alvo daquele aparelho. Ou ainda no atendimento a clientes, quando pessoas mais velhas são tratadas de forma infantilizada e quando supõe-se que têm dificuldades para usar aparelhos tecnológicos e aplicativos.
Mudanças na linguagem e educação alteram o cenário
“A educação é o primeiro passo, mas não somente a que a pessoa vai receber na escola, e sim a partir daquela que está nas relações familiares, nas creches, nos primeiros momentos de vida. É preciso educar com ações que questionem o preconceito, que demonstrem os prejuízos de ações preconceituosas para todos. Uma reeducação constante é um objetivo que dura a vida toda”, ressalta Iracema.
Entre as ações sócio-educativas destacadas, estão a divulgação de informações sobre o preconceito, a reflexão sobre atitudes cotidianas etaristas, a promoção de discussões sobre o processo de envelhecimento e o incentivo da aprendizagem entre diferentes gerações.
Também deve-se, como cita a especialista, desenvolver políticas públicas para atender as necessidades da população envelhecida, com o oferecimento de capacitação e qualificação para essas pessoas, como, por exemplo, a inclusão digital, além do estímulo ao convívio intergeracional.
“Existem outras cartilhas e informativos sobre o etarismo e outros preconceitos, e que venham mais, mas que sejam desenvolvidas. Os materiais didáticos e informativos são extremamente necessários, mas precisam ser colocados em prática para que realmente atinjam o seu objetivo”, afirma.
Por fim, a especialista orienta a importância do conhecimento sobre os próprios direitos e o entendimento de que a forma de se comunicar é tão essencial quanto o que se comunica. “As vítimas de etarismo podem buscar os direitos legais amparados pelo Estatuto da Pessoa Idosa. A pessoa pode buscar uma solução na legislação, denunciar e processar o agente do preconceito. Já para as mais jovens, o Código Penal pode ser aplicado nas situações em que o etarismo configura um crime de injúria ou difamação”.