Filme ‘Cereja do bolo’ é exibido no Festival Brejo Maldito, em Juiz de Fora

Com reconhecimento internacional, curta chega à mostra com uma proposta inovadora para o terror nacional


Por Mariana Souza*

31/10/2025 às 07h00- Atualizada 31/10/2025 às 07h51

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Com um novo conceito de terror, curta apresenta críticas ao consumo e à exploração ambiental (Foto: Divulgação)

Contrariando os padrões tradicionais do gênero, a paulista Laura Reis apresenta em “Cereja do bolo” um “terror rosa” – uma proposta estética que mistura delicadeza e doçura a elementos sombrios e inquietantes. O curta integra a programação do Festival Brejo Maldito, que será realizado neste sábado (1º) e domingo (2), no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. O evento traz o selo Novas Criaturas, voltado a produções universitárias que exploram o terror e o fantástico sob novas perspectivas.

Idealizado como trabalho de conclusão de curso em Direção Cinematográfica, o filme nasceu do fascínio de Laura por histórias de terror desde a infância. A diretora e roteirista conta que se surpreendeu ao ver sua produção independente ultrapassar o ambiente acadêmico e alcançar novos públicos. “É gratificante por quebrar barreiras linguísticas e representar o país com um filme de terror”, afirma em entrevista à Tribuna.

Premiado com Melhor Direção de Arte no Horror Underground Film & Screenplay Festival, no Canadá, e também reconhecido em premiações nacionais, “Cereja do Bolo” combina o fantástico e o grotesco com um toque de humor e inocência.

A protagonista é Cabeça de Coelho, uma jovem com cabeça de coelho que tem a vida marcada pela fuga de seres humanos famintos por sua carne animal. Em uma de suas tentativas de escapar dos caçadores, ela acaba se perdendo em uma floresta misteriosa – um antigo refúgio de animais agora dominado por um estranho silêncio e um aroma irresistivelmente doce.

Guiada pelo perfume, Cabeça de Coelho encontra um acampamento que parece saído de um conto infantil: uma mesa de piquenique repleta de guloseimas, onde um grupo de escoteiras – Alcatra, Acém, Filé, Cupim, Picanha e Mignon – a recebe com simpatia. O que ela ainda não sabe é que, por trás da doçura e dos sorrisos, esconde-se uma seita canibal, disposta a transformá-la no prato principal.

‘O olhar maior que a barriga’

A narrativa, atravessada por um alerta ambiental, reflete sobre as consequências das ações humanas. Laura busca discutir o aquecimento global, a extinção diária de espécies e o impacto da indústria da carne, temas que se misturam ao universo simbólico do terror.

A protagonista vegana ou, como descrito por Laura, herbívora, representa os jovens que temem herdar um planeta devastado. A dualidade entre a doçura e o meio ambiente aparece como metáfora para os limites da exploração humana. “As pessoas sempre querem mais e mais – é o olhar maior que a barriga”, reflete a diretora.

Para ela, o filme é um convite à reflexão. “A essência primária é um filme colorido que atrai os olhos, mas traz camadas sociais e vitais. Que as pessoas façam uma boa digestão – para pensar sobre o filme, sobre o lugar onde vivemos e sobre o que já destruímos. Eles arruinaram um mundo e estão em busca de destruir outros.”

A obra também traz metáforas sobre a passagem da infância para a vida adulta, a urgência de cuidar do planeta, a importância do vegetarianismo e veganismo para o futuro e o sentimento de não pertencimento que move quem busca seu próprio espaço.

Um filme comestível

Criado e produzido por mulheres, “Cereja do bolo” apresenta sua história sem diálogos, apostando na força das imagens, na estética nostálgica e nas cores vibrantes – marcas do conceito defendido por Laura: o terror rosa.

A diretora conta que o projeto nasceu das suas próprias criações visuais e das referências que a formaram: o surrealismo de “Daisies” e “Hausu”, e a fantasia açucarada de “A fantástica fábrica de chocolates”, filme que a inspirou a criar algo que fosse “não apenas doce, mas também comestível”.

“O filme é um chamado para: não deixe para amanhã o que você pode comer hoje”, resume Laura.

 

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Confira a programação completa do Festival Brejo Maldito

Sábado (1º)

  • 13h – Abertura da casa
  • 13h30 – Abertura oficial do Festival
  • 14h – Sessão 1 – Curtas de Fora (Nacionais)
  • 16h – Sessão 2 – Curtas de Fora (Nacionais)
  • 18h – Sessão Curtas do Brejo (Juiz de Fora e Região)
  • 20h – Debate com realizadores do Brejo Maldito
  • 21h às 23h – After Maldito no Trilhos da Penha

Domingo (2)

  • 14h30 – Abertura da casa
  • 15h às 18h – Mostra Organizadores e Entrega dos prêmios
  • 18h – Debate com os diretores Breno, Vinícius, Bruno, Piétro, Raphael, Johnny e Danni
  • 19h – Cerimônia de Encerramento
  • 19h30 às 23h – After Maldito no Trilhos da Penha

 

Resumo desta notícia gerado por IA

  • O curta “Cereja do bolo”, dirigido por Laura Reis, leva o conceito de “terror rosa” ao Festival Brejo Maldito, em Juiz de Fora.
  • A obra combina estética delicada e crítica social, abordando temas como aquecimento global, veganismo e exploração ambiental.
  • Premiado no Canadá e no Brasil, o filme narra a jornada de Cabeça de Coelho, personagem que foge de uma seita canibal em meio a metáforas ambientais.
  • Produzido por uma equipe feminina, o curta aposta na força das imagens e nas cores vibrantes para discutir consumo e sustentabilidade.

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