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O Museu Ferroviário de volta ao mapa de Juiz de Fora

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Luiz Fernando Priamo, diretor do Museu Ferroviário, promoveu cerca de 50 eventos no espaço em 2017. (Foto: Fernando Priamo)
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Se me convidassem há cerca de um ano para ir ao Museu Ferroviário de Juiz de Fora, minhas possíveis respostas seriam: “esse museu existe?”, “lá tem alguma coisa pra fazer?”. E falo isso sem me sentir culpada pela falta de informação. Realmente o Museu Ferroviário, embora com seu acervo permanente e valor histórico-cultural, estava desatualizado do mapa.

A visita aos museus, de uma forma geral, tem sido um desafio. É sobre laçar pessoas através de campanhas e tentativas de torná-los mais atrativos. Sempre foi preciso pensar o museu, não somente agora. Primeiro, foi necessário desconstruir a superestima atribuída a eles e transformá-los em espaço de convivência, que necessita sobretudo de ser ocupado por pessoas. Afinal de contas, as obras se completam assim, sendo vistas, despertando o outro. O segundo passo, ainda se tratando desse estigma de formalidade, silêncio e afastamento, foi romper as barreiras de que arte é coisa de classe privilegiada e intelectualidade. A palavra interatividade se tornou o cerne dos museus mais visitados. Depois da internet, nós adquirimos e construímos conhecimento de outras formas, foi preciso os museus começarem a acompanhar esse novo entendimento de mundo. E isso não quer dizer que, necessariamente, estamos falando de aparatos tecnológicos, touch screen e realidade virtual. Talvez o terceiro passo seja justamente o de parar para observar as potencialidades do lugar, da utilização daquele espaço em outros moldes para além dos corredores e salas com objetos de valor.

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É exatamente isso que acontece com o Museu Ferroviário. E há um nome que merece destaque por estar promovendo esta transformação. Desde que Luiz Fernando Priamo, conhecido como Mirabel, assumiu a direção em janeiro, ele trouxe sua bagagem histórica, como atuante no movimento punk, para repensar e propor novos formatos de evento para o local. “O meu contato com o cenário punk, hardcore, pelo Brasil inteiro, me deu um senso de comunidade. Acho que não tem uma pessoa que saiu ilesa tendo atuado neste momento. E quando eu promovia shows, Juiz de Fora estava em um bom momento. Era final dos anos 1990, início dos anos 2000, e bandas do Brasil inteiro queriam tocar aqui”, conta ele, ainda dizendo sobre a identidade que criavam com hambúrgueres caseiros vegetarianos, os zines de literatura “Encontrare” e banquinhas de produtos das bandas.

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Desde os 14 anos, escrevendo poesias para sua banda Rotten, a escrita tomou rumo em sua vida. Lançou livro de poesia pela Lei Murilo Mendes e foi muito atuante no Eco Performances Poéticas, que, inclusive, chegou a acontecer no Museu Ferroviário mesmo antes da reestruturação e, claro, neste ano também, quando o encontro comemorou seus nove anos. 2017 é o ano do Museu Ferroviário. Mirabel, junto ao interesse de artistas e produtores culturais, conseguiu realizar mais de 50 eventos, incluindo show, debate com o MinC, peças de teatro, discotecagem vinil, encontro de colecionadores, feira de disco, palhaçaria, matinê de carnaval, orquestra aula de zumba, principalmente querendo alcançar um desformato dos eventos padrões. As oficinas também foram frequentes, fortalecendo o museu como um espaço de formação.

Senso de comunidade, ampliação do local para outras pessoas e movimentação são filosofias que traduzem suas propostas enquanto gestor de cultura. Sua motivação, agora, é fazer com que as coisas aconteçam, está no papel de promover, mas a cada proposta que aparece não exita em ajudar a montar em conjunto, compartilhando um pouco de sua visão e experiência.

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Museu Ferroviário
Fechado essa semana para manutenção. Reabertura na próxima terça (2 de janeiro). Visitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h (Av. Brasil 2.001 – Centro)

A improbabilidade do lugar

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Lançamento Luísa Moreira - "Todos os sonhos estão no vento" (Foto: Ana Cláudia Ferreira)

O Museu Ferroviário é uma estação, poético por si só, pelo caráter de passagem, dos momentos que acontecem e evaporam. “A gente tem um espaço que convive com o trem, mas que é ocupado de forma diferente para sua finalidade. A partir do momento que uma estação vira um museu, você está deslocando o funcionamento dela, e o exercício constante do museu é esse, de ressignificar as peças, o chão, e eu acho que aqui acontece isso claramente”, afirma Mirabel.

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A área externa, onde estão acontecendo boa parte da programação nos fins de semana, era uma parte completamente improvável. Isso me faz refletir que muitas vezes reclama-se da falta de espaço para escoar a produção cultural e artística, no entanto, o que falta é um olhar sobre as possibilidades dos espaços, principalmente ao se referir a um lugar central e público. E, claro, foi preciso ousadia, apoio e muito empenho para conseguir. A abertura para acontecer tantos eventos diferentes vem muito também por necessidade de divulgar o próprio museu. “Porque se formos analisar o nome ‘Museu Ferroviário’, ele não está no imaginário das pessoas quando você fala ‘museu em Juiz de Fora’, geralmente as pessoas ligam direto ao Mariano Procópio ou ao Museu de Arte Murilo Mendes.” Mirabel está tentando pensar o museu para fora, com todas as ideias – eventos, visitação ao acervo – coexistindo e se ajudando.

Histórico

O Museu Ferroviário está na parte mais central da cidade, ao lado da Praça da Estação, por onde a cidade começou a se desenvolver e crescer (Foto: Ana Cláudia Ferreira)

Mirabel conta que o espaço, ainda com o nome de Núcleo Histórico Ferroviário, foi inaugurado em 1980. Aproveitando a estação, os ferroviários da Rede construíram o anfiteatro e uma das salas, onde tem acontecido aulas e ginástica diariamente. “Nessa época, tinha alguma frequência de festa aqui, não nos mesmos moldes do que tem acontecido agora, mas, por exemplo, cineclube e shows eram constantes, a banda Eminência Parda já tocou aqui lá no começo. Existe um histórico da cultura juiz-forana que já passou por aqui.” Quando se tornou Museu Ferroviário em 2003, o espaço ganhou uma roupagem nova, a expografia também se renovou, mas a parte cultural permaneceu um pouco restrita.

Florescendo cultura

A cultura de Juiz de Fora é tão rica e diversa como um matinho que nasce das frestas entre as pedras, se der uma brechinha, aquilo não para de brotar. Parece que essa abertura de um novo lugar na cidade, como se fosse uma reinauguração do Museu Ferroviário, claramente demonstra como essa metáfora se faz verdadeira na cidade. Em meio a um condomínio de prédios institucionais: MRS, DNIT, Prefeitura, conhecido como Conjunto Arquitetônico Tancredo Neves, a estação é como essa fresta que deixa ventilar.

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Muito sabiamente, Mirabel percebeu que não precisaria ele mesmo produzir, essa característica de convidar pessoas que produzem fora de um circuito já muito fechado, ou seja, pontos de resistência, foi crucial para que alcançasse a abertura diversa que almeja. “Do mesmo jeito que a gente abre para a cidade, a cidade ocupa o museu, nessa eterna lei do retorno”.

Nesse primeiro ano, o diretor do museu passou estudando os limites, problemas e qualidades, foi um ano de bastante pesquisa, para ele mesmo conhecer e enxergar as potencialidades do lugar. E eu estou longe de estar em um estado confortável, estou querendo cada vez mais”, conta Mirabel, que sai da estação de trem e continua maquinando, o tempo inteiro em casa, suas ideias de implementação: “80% da minha vontade no início do ano eu consegui bater e superar, só o abraço que o cenário artístico deu ao museu é um negócio de emocionar. Estou com sensação de missão cumprida, por todo o meu carinho por essa cidade. Nasci aqui, não tenho a intenção de sair, mas espero que a cidade seja menos hostil, que tenha essa troca de carinho”.

“Eu estou longe de estar em um estado confortável” (Foto: Fernando Priamo)
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