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O 2º dia da Mostra Regional do Festival Primeiro Plano

A PARADA DO FIM DO MUNDO
A parada do fim do mundo, de Eduardo Malvacini
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Qual será a trilha urbana de Juiz de Fora? O curta-documentário “Diálogos em silêncio”, dirigido por Ana Carolina Mendes, faz uma montagem remetendo a artes de protesto que tomam pouco a pouco as ruas da cidade. Lambe-lambe, stencil e graffiti são os personagens desse filme, enquanto imagens corriqueiras de Juiz de Fora, involuntariamente, seguem o tom de protesto das ainda poucas marcas nos muros.

Os entrevistados são artistas de rua que falam sobre a cidade como plataforma para criação e suporte para a arte que criam, sempre em movimento e sofrendo intervenções. A comunicação é evidenciada em seu molde mais subversivo “sem passar por um edital”, conclui uma das falas. Um dos takes é exatamente do paredão branco, com letras em vermelho dizendo: “o afeto é revolucionário”, imagem que circulou pela internet logo que foi grafitada por aqui. Essa é a mensagem principal, de como essas três linguagens criam um afeto em quem vive no centro urbano, se deparando cotidianamente com dizeres e desabafos do outro.

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A autoralidade do curta “Dentadura postiça” é mais evidenciada na temática da música do que propriamente na construção do filme, de Daniel Madão e Thiago Lopes. Narrativa sobre amigos, sonhadores, brigando por espaço para sua arte, em meio à censura dos tempos de ditadura. Retrato do que muitos músicos passam, também, atualmente com a produção musical, cultural e a indústria que rodeia esse panorama no Brasil.

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A filmagem é de câmera na mão, assumindo a truculência e o desfoque como recurso estético, em alguns momentos os próprios personagens se filmam simulando uma imagem analógica em quadro 4:3. Os diálogos entre os personagens, pouco silenciosos, é a levada da história, embora seja dito que “esse negócio de não dizer nada tenha um porquê”. O nome do curta, que levou três anos para ser feito, é uma brincadeira entre as sonoridades das palavras “ditadura” e “dentadura” e faz parte do próprio texto do roteiro.

Críticas e mais críticas

Arcos de balões, de Gustavo Burla

Curtas com temas políticos como centro da obra criaram um conceito para a mostra regional desta quarta, “Agnus Dei” foi o terceiro filme, capaz de estremecer não somente o personagem real – Frei Tito de Alencar Lima – interpretado por Gustavo Burla, assim como quem o assistiu. É discurso que ferve na diretora Táscia Souza, que, junto a José Eduardo Brum, lança um curta inspirado livremente no depoimento do Frei sobre as torturas do período da ditadura militar.

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A produção do grupo Hupokhondría evidencia a característica teatral deste curta, um monólogo sofrido, em que a atuação de Burla, somada ao texto, é o todo. Transações lentas das câmeras só ressaltam angústia e dor. Enquanto fala sobre como esperava sua morte – chegando quase a implorá-la por não suportar os ferimentos -, a impressão que se tem é que o personagem narra sua própria história, como Jesus contando uma passagem, ao fim, simbolicamente, se enforca (ou é enforcado) com a mesma corda em que amarra sua batina.

Uma questão que amarra as sessões regionais é a noção de colaborativismo das produções cinematográficas, embora a participação esteja bastante rica, alguns nomes aparecem em mais de um filme. Outra questão são os profissionais multifacetados, capazes de desempenhar funções complementares do audiovisual. “Arco de balões”, por exemplo, é dirigido por Burla, ator de “Agnus Dei”. Dessa vez, José Eduardo Brum sai do papel de direção e assume o roteiro e a produção executiva. O roteiro é uma adaptação de um de seus contos, em que tudo começa com um pedido de divórcio no dia da preparação da festa de aniversário do filho, Bruno.

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Os balões amarelos, vermelhos e pretos, que formam o arco da festa, seguram toda a tensão daquelas cenas. Enquanto ele pede o divórcio desabotoando o colarinho e soltando a gravata, aliviado, ela aperta a boca de uma das bolas de soprar, segurando tudo dentro de si. A primeira letra da plaquinha “Feliz Aniversário” está caída, só sobrou um aniversário sem sentido embalando uma família falsa, marcada por machismo, submissão e mentiras. O curta é claramente uma crítica à família tradicional, escancarando verdades comuns em histórias que nos cercam. A virada do roteiro é exatamente quando ele assume que está a traindo com um homem.

História documentada

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O majestoso Cine-Palace, de Cibele Sales e Victor Sobral

Outra característica das produções da mostra foi a presença de documentários, o segundo da sessão foi uma homenagem ao último cinema de rua de Juiz de Fora, que se encerrou neste ano. Os diretores do “Majestoso Cine-Palace”, Cibele Sales e Victor Sobral, recolheram longas falas de frequentadores do espaço, além de terem mesclado com algumas poucas imagens de arquivo próximas de quando houve a inauguração, mostrando exatamente a diferença de hábito e indumentária que se usava no cinema. O filme começa com a fala de uma das entrevistadas perguntando-se retoricamente: “Já pensou se eu tivesse nascido antes dos irmãos Lumière?”.

O Primeiro Plano é o lugar de experimentar no cinema, buscando a própria autoralidade. Eduardo Malvacini, diretor e roteirista do curta-ficção “A parada do fim do mundo”, teve a ideia de filmar um curta como se fosse um trecho de um filme maior, um recorte avulso de uma história que já envolvia dois personagens, anteriormente àquela cena.

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Foi feito como um exercício, filmado utilizando apenas um plano, sendo que as opções de imagem, envolvendo também cenário e figurino, saíram um pouco dos filmes do diretor russo Andrei Tarkovski. Aquele é um espaço ruidoso, escuro, “como se uma das pessoas tivesse feito um ponto de parada nas estradas que ainda existem no fim do mundo”, explicou o diretor.

Ao final da mostra, “Íris da Candinha” é um doc produzido por um protagonista do próprio bairro Santa Cândida, com histórias reveladas através de um projeto da Escola Municipal de Santa Cândida, uma grande conquista para o bairro que fica na zona leste da cidade. Adenilde Petrina, com sua força e palavras de motivação para que a cultura da comunidade seja mantida, é uma das entrevistadas, que conta sobre o papel das mulheres para a construção do bairro. Foram elas que correram atrás de água, escola e demais infraestruturas básicas sociais. A história do hip-hop como resistência e prenúncio de todo o movimento que existe hoje pelos quatro cantos da cidade é, também, um dos pontos ressaltados no filme. Outro personagem, morador antigo, faz uma analogia do Santa Cândida com o Mangueira, no Rio de Janeiro. No período pós abolição, os negros não podiam morar nas áreas centrais e começaram a ocupar essas áreas, por isso são bairros situados em morros, explica.

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