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Muriel Lorensoni conquista Miss Brasil Gay e aponta ‘pioneirismo’ em sua trajetória

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Da academia para a passarela: “Quero dar poder para essas pessoas estarem em espaços de destaque e se tornarem referências profissionais no que fazem”, afirma Muriel (Foto: Divulgação)
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Muriel Lorensoni, do Espírito Santo, foi quem recebeu a coroa no tradicional concurso Miss Brasil Gay, realizado em Juiz de Fora, na noite do último sábado (19). As provas para conquistar o título incluíram um desfile com trajes típicos, traje de gala e a avaliação através da oratória, que é uma das novidades que o concurso trouxe este ano. A vencedora já havia tentado o concurso, em 2022, quando Letícia Valentinni conquistou a coroa, e, neste ano, recebeu diretamente dela o legado. A vontade do transformista Muryllo Lorensoni em participar vem de uma pesquisa que fez em seu doutorado, no Programa de Pós Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal do Mato Grosso (ECCO/UFMT), que virou uma paixão. Este ano, para vencer, conta que foi preciso “se preparar emocionalmente e viver o momento”.

A jornada de Muriel começou pelo interesse acadêmico, mas ainda sem pensar que um dia de fato iria concorrer em um concurso assim. “Considero que meu processo de preparação teve essa somatória de fatores e ações que foram acontecendo ao longo de cinco anos”, explica. Foi em 2017 que iniciou seu doutorado, e isso fez com que tivesse uma visão mais detalhada sobre o que era o Miss Brasil Gay. “Eu não imaginava um dia conquistar esse título, porque quando comecei a minha intenção era basicamente acadêmica, e não de ser um ator transformista. No decorrer desse processo, se tornou um grande sonho”, conta. Portanto, em 2021 concorreu pela primeira vez, no estado em que residia, o Mato Grosso, e venceu a fase estadual. Este ano, no entanto, retornou representando o Espírito Santo. “A escolha de representar esse estado se deu porque o Espírito Santo é um estado que tem uma coordenação muito capacitada, assim como tantos outros, e hoje é o detentor do maior número de coroas do Miss Brasil Gay”, revela.

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A preparação incluiu, principalmente, entender que tinha uma mensagem a passar, independentemente de conquistar o título ou não. “Como eu já havia pisado na passarela e já entendia a emoção de estar ali, o grande diferencial, de verdade, foi a preparação emocional para que eu estivesse tranquilo e curtisse o momento. E entendesse que, no final das contas, o evento se trata de uma grande festa que celebra a diversidade e as resistências”, revela. Para Muriel, fica claro que sua participação não seria uma vitória necessariamente pela “obrigatoriedade em vencer” ou “medo de perder”, mas por “aproveitar ao máximo cada etapa”. “Graças a Deus, foi um resultado muito positivo. Estou muito satisfeito, realizado, feliz e disposto a construir um reinado que vai ser transformador, vai inspirar outras pessoas e vai me fazer ser ouvido. Isso é o mais importante de tudo”, ressalta.

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O doutorado de Muryllo foi concluído em 2021, em um caminho “da academia para o concurso”, o que considera inclusive um tanto pioneiro neste meio de concursos de beleza. Por isso, o Miss Brasil Gay também acaba sendo uma forma de seu trabalho acadêmico ser mais conhecido: “Estar aqui é uma realização em todos os sentidos, até porque traz mais visibilidade para a minha tese. A tese às vezes é algo que escrevemos com tanto carinho e dedicação, mas que pode ficar somente ao redor de uma limitada área acadêmica. Com esse título e a visibilidade que a coroa dá, até mesmo a tese pode ser mais disseminada”.

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Desafios e conquistas

Durante todo o processo, o que considera ter sido mais desafiador foi a própria aceitação: “Foi justamente acreditar em mim. Ver beleza em mim no auge dos 36 anos, com pessoas lá pelos 20 concorrendo. Foi um preparo psicológico para que eu conseguisse chegar aqui bem comigo mesmo”. Além disso, Muriel explica que, ao longo do tempo, foi entendendo que o concurso, que existe desde 1977, passou por mudanças importantes – apesar de se tratar, sim, de um concurso de beleza, teve reformulações que passaram a considerar também “valores e potenciais” dos participantes. Inclusive, em sua visão, esse é um ponto capaz de “elevar a arte” do transformismo e fazer com que a responsabilidade da Miss seja mais interessante do ponto de vista público.

Nesse sentido, Muriel enxerga que sua missão durante este reinado é propagar respeito, amor, igualdade e empoderamento. Em sua visão, isso acontece através da arte, representada ali, mas também abraçando diversas ideias e aceitando diferenças de forma ainda mais ampla. “Quero dar poder para essas pessoas estarem em espaços de destaque e se tornarem referências profissionais no que fazem”, diz.

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A Muriel de Muryllo

A arte do transformismo ainda gera dúvida entre o público, e por isso a coroada esclarece: “Muriel é uma personagem, essa é a potência do transformismo, o ir e vir. Mas costumo dizer que Muriel e Muryllo coabitam este corpo, quando estou Muriel não deixo de ter os mesmos valores e as mesmas percepções que Muryllo. Muryllo usa esse corpo performático da Muriel para lutar por aquilo que ele acredita”. Sendo assim, o transformista não assume uma identidade de gênero, como transexuais e travestis.

Por isso, a partir da coroação, o Miss Gay se torna uma plataforma para que ele possa abrir muitas portas e elevar para outros lugares os seus ideais. “Entendo que o objetivo final nunca foi só a coroa, mas tudo que a coroa pode me proporcionar. Entendo que tenho muito mais possibilidades, e vejo que é uma plataforma potente para que eu possa me fazer ouvir”, diz.

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