Em um evento que reúne sabores de todos os cantos do país – e alguns temperos de fora -, ver a culinária de seu estado reconhecida como referência para a gastronomia nacional é motivo de orgulho para qualquer mineiro (mesmo aqueles que mais “comem quieto”). É essa a chancela que o chef Rafa Costa e Silva, um dos convidados especiais do Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes, atribui à comida das Minas Gerais, quando fala de sua participação no evento. “Para mim, vai ser um grande aprendizado viver e participar de um dos festivais mais importantes do Brasil. Teremos que falar, viver e aprender sobre gastronomia, e não existe lugar melhor que a meca da gastronomia típica brasileira : Minas Gerais”, observa Rafa, formado em The Culinary Institute of America (2003), em Hyde Park, Nova York, e hoje no comando de seu próprio restaurante, o Lasai, no Rio de Janeiro (RJ).
Em sua 18ª edição, o festival será realizado de 21 a 30 de agosto na vizinha charmosa de Juiz de Fora, Tiradentes, a pouco mais de 150km daqui. Um dos objetivos do evento é promover a cadeia produtiva gastronômica e celebrar as tradições culinárias, com a participação e valorização de produtores locais. Prova disso é a apresentação de produtos como doces, cachaça artesanal e café, que serão apreciados pelo grande público e apresentados a empresários ligados ao setor. A programação inclui roteiros gastronômicos na região, e os restaurantes de Tiradentes oferecerão cardápios especiais.
Os jantares são a menina dos olhos do festival, quando quatro restaurantes receberão 16 chefs, de regiões variadas do Brasil e da França, país com que o evento promove um intercâmbio, recebendo uma comitiva de gastrônomos franceses.
Criatividade à mesa
Responsável pelo jantar do dia 28 de agosto, Rafa Costa e Silva ensina, neste domingo, a preparar um prato com beijupirá, peixe típico do Nordeste brasileiro, e meca rosa, muito popular no litoral paulista. “A meca e o beijupirá se assemelham muito. Ambos possuem sabor intenso, são bastante gordurosos e, quando bem cozidos, devem ficar com uma textura quebrando em lascas”, explica o chef. Na receita, o meca é utilizado como um toucinho, como normalmente costumamos usar o bacon. “Inclusive ele pode ser substituído pela parte branca do bacon ou por gordura de jamón”, orienta Rafa. “Fiz faculdade de gastronomia para que as pessoas não me enganassem tanto! Acabei gostando, estudando e levando a coisa a sério. Não sou do tipo que tem memórias de minha avó ou mãe cozinhando em casa para a família… eu gosto porque gosto.”
Elaborada, a receita requer atenção durante o preparo, e alguns ingredientes especiais são encontrados em lojas especializadas ou supermercados gourmet, como é o caso da pasta miso, disposta sobre o beijupirá. “É uma pasta de soja fermentada, bastante salgada, que substitui o sal e dá aparência de falsa pele”, diz o chef.
Sobre o toucinho de meca, é imprescindível prepará-lo com dias de antecedência. “O papel é dar uma untuosidade ao prato e um sabor mais profundo, usamos uma parte do peixe que geralmente iria para o lixo, a barriga.” Rafa destaca que, apesar de parecer difícil, a receita é simples e pode ter seus ingredientes substituídos com pequenas alterações no tempo de cocção. “Já fizemos esta mesma receita com peixe bonito e usamos purê de couve-flor com castanha e muito limão”, conta ele, destacando a combinação entre os diversos ingredientes do prato.
Arte no cardápio
Além da programação gastronômica, o Festival Cultura e Gastronomia Tiradentes tem uma vasta agenda cultural. Nesta edição, o evento terá 83 apresentações artísticas, sendo 21 cênicas e 62 musicais distribuídas em dois palcos. No cardápio musical, nomes como Yamandu Costa, a Orquestra Ouro Preto e o premiado bandolinista Hamilton de Holanda estarão presentes. No teatro, há opções para as crianças, como a interpretação de “O Pequeno Príncipe” pelo Grupo Girino (BH) e o “Folclore do Mestre André”, pela Cia. Candongas, também da capital mineira. A programação completa pode ser conferida no site www.farturagastronomia.com.br/tiradentes/.