Vozes de Juiz de Fora
Passado, presente e futuro encontram-se na elaboração da nova programação da Rádio Solar AM (1010), que estreia nesta segunda-feira, trazendo de volta grandes nomes da história do rádio juiz-forano e programas que fazem parte do imaginário popular (ver quadro). "A cidade precisava voltar a ter uma voz própria no rádio AM, formada não apenas pelas vozes dos locutores, mas pela da população, que andava carente de um espaço tão democrático como o rádio para se expressar", observa o coordenador artístico do projeto, o radialista Gil Horta. Segundo o profissional, o maior investimento para a reinvenção da emissora foi em material humano, desde a fase de definição dos produtos que irão ao ar. "Elaboramos tudo com muito cuidado, com base em pesquisas e com uma equipe muito afinada. Rádio se faz com pessoas. Não adianta ter um estúdio de última geração e todo acesso possível à tecnologia e não ter profissionais qualificados. E qualidade é saber unir o novo ao tradicional."
De fato, a dobradinha tradição e inovação permeia toda a estruturação do retorno da Rádio Solar, o que se reflete mesmo na formulação da equipe. Junto a um time de profissionais recém-formados, caras novas da comunicação, atuarão vozes como as de Paulo César Magella, Carlos Ganimi, Ley Costa, Marcelo Juliani e Cláudia Figueiredo, conhecidas de longa data do ouvinte.
Um clássico que voltará ao ar é a "Ronda policial", sob o comando de Paulo César Magella, diretor de conteúdo da Solar e também editor geral da Tribuna. "A ronda foi mantida exatamente como era, com as mesmas vinhetas e formato, porque está gravada na mente das pessoas, assim como a locução do Paulo César", ressalta Gil Horta, acrescentando que ouvintes sempre perguntavam pelo programa. Para Paulo César, o apelo da "Ronda policial" está em ser um canal de diálogo com a população, com base na afirmação da "solidariedade mineira". "A despeito do avanço de diversas camadas sociais, existe um segmento de cidadãos que precisa de ações sociais, pontuais e imediatas, que são proporcionadas pelo rádio. A ronda, além de fazer um retrato das ocorrências da cidade, presta este serviço."
Âncora do programa "Rádio vivo", Marcelo Juliani também foi resgatado da grade tradicional. "Fiquei muito honrado em fazer parte dessa iniciativa depois de quatro anos fora do rádio. As pessoas estavam cobrando, estavam querendo uma programação local. Vai ser fantástico poder voltar a ser a voz que entra na casa das pessoas", diz Juliani sobre seu programa, que mescla utilidade pública, jornalismo, entretenimento, debates com especialistas, culinária e música. "Só tocaremos música nacional, para valorizar os artistas brasileiros. Além disso, todo o programa tem foco local, apesar de abordar assuntos de cunho nacional também. O canal com o público de Juiz de Fora e região é nossa prioridade", completa Cláudia Figueiredo, produtora de reportagem jornalística, que fará participações ao lado de Juliani. Também de volta à Solar, o jornalista Ivan Elias participa do programa com seu "Toque de bola", abordando o esporte com humor e irreverência.
Jornalismo nos bairros
O retorno da Unidade Móvel de Jornalismo também dará novo gás ao cunho informativo da grade, marcado pela inserção de plantões e flashes da equipe durante toda a programação. Quem estará à frente do jornalismo itinerante da Solar AM é o repórter Maurício Oliveira. "A ideia é cobrir o que estiver acontecendo nos bairros por onde a unidade estiver passando, contando sempre com a interação da comunidade", explica Gil Horta. Maurício relata ter sido um entusiasta da retomada da iniciativa desde que a possibilidade foi cogitada. "Será um desafio, porque esta é uma característica do jornalismo ao vivo. Mas, mesmo com a inclusão digital e a difusão de informações on-line, acho que o retorno da rádio e, especialmente, da unidade móvel, vai cumprir um papel social muito importante, com a credibilidade que nem sempre a internet consegue alcançar."
Outro bom filho continua na casa das ondas AM: o "locutor maravilha" Ley Costa, que assumirá o programa "Tarde maravilha", em menção à sua alcunha. "É um espaço dos ouvintes, com pedido de música, entrevistas, participações especiais e variedades. O programa é bem popular, a minha cara, sou um cara ‘do povo’."
A proposta é que a integração ocorra não só com os ouvintes. "O momento é de convergência também entre os veículos do Grupo Solar – a rádio e o jornal Tribuna de Minas -, que passam a trabalhar em sintonia e com a mesma qualidade", ressalta Suzana Neves, coordenadora do projeto ao lado de Márcia Neves e Paulo César Magella. "A história da Solar é muito bonita e precisa continuar viva", completa Márcia.
História de pioneirismo
Fundada em 1926 por Cardoso Sobrinho, a Rádio Solar AM foi a pioneira do gênero em Minas Gerais, quando surgiu sob o prefixo PRA-J e, mais tarde, PRB-3. Nos anos 1940, passou a fazer parte das Emissoras Associadas de Assis Chateaubriand e, durante a década de 1950 e 1960, foi ícone de programas de auditório, radionovelas, quadros humorísticos e outros embriões dos produtos que hoje integram parte da programação televisiva. Em 1980, o empresário Juracy Neves adquiriu o controle acionário da emissora, que passou a se chamar Rádio Solar AM. Em 1988, foi criada a Rádio Solar FM, que, com a AM e o jornal Tribuna de Minas, passou a integrar o grupo Solar Comunicação.
Para Flávio Lins e Cristina Brandão, autores do livro "Cariocas do brejo entrando no ar: o rádio e a televisão na construção da identidade do juiz-forano", a reformulação da Rádio Solar AM tem valor tanto pela representatividade histórica da emissora quanto pela retomada do rádio como veículo de comunicação. "A rádio AM conversa com as pessoas, e Juiz de Fora estava carente disso. A volta da Solar é uma iniciativa das melhores, pela tradição e pela história do que se foi construído em radialismo e radiojornalismo na cidade", aponta Cristina.
Flávio Lins destaca as peculiaridades da linguagem radiofônica no estímulo do imaginário popular. "É a parceria dos sons do rádio com o imaginário das pessoas que dá o poder a este veículo de construir e transformar a realidade que nos cerca. Este retorno da Rádio Solar se torna ainda mais importante por trazer de volta nomes queridos do rádio para a população, profissionais que podem entrar nas casas das pessoas sem pedir licença, pois já são íntimos e possuem grande credibilidade."