Juiz de Fora é uma cidade especial e pela qual tenho imenso carinho, mas que, a cada dia, desperta em mim mais indignação. O apreço se deve à boa acolhida que tive quando me mudei de Itaperuna – RJ para cá, em 2015, para cursar Jornalismo na UFJF. A indignação é porque quanto mais ando e vivo seus espaços, mais percebo o quanto de segregação, injustiça e racismo estão escondidos na “princesinha de Minas”. Pessoas em situação de rua, comunidades invisibilizadas, bairros com problemas de infraestrutura básica, segurança seletiva e marginalização injusta de alguns grupos sociais. A velha história das cidades brasileiras, histórias estas que são covardemente naturalizadas e colocadas num lugar de indiferença também em Juiz de Fora.
O cenário não é dos mais animadores, mas ainda há o que se celebrar. Juiz de Fora tem as boas características de uma cidade grande, como uma vida cultural rica e mais valorizada do que em municípios menores, um comércio variado e mais opções de lazer, ao mesmo tempo em que as questões relacionadas à violência, inacessibilidade e outros problemas urbanos não são tão graves como nas metrópoles do país. Para os estudantes, essa lógica também é aplicada: há postos de trabalho para o início da vida profissional ainda na graduação, e o estudante não lida com alto custo de vida e problemas de trânsito tão alarmantes como no Rio de Janeiro e São Paulo. No aspecto da vida estudantil, acredito que vale um destaque ao Bairro São Pedro. Como estudante da Universidade e moradora do bairro há dois anos, vejo o São Pedro como um lugar de harmonia e tranquilidade na convivência entre alunos da UFJF e população local.
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A comunidade acadêmica, artística e trabalhadora faz de Juiz de Fora potência para a superação de velhas questões. No entanto, este lugar de promessa não deveria ser tão demorado e as melhorias deveriam começar a acontecer. Juiz de Fora tem recursos para se tornar modelo para outras cidades do país em termos de políticas públicas, desenvolvimento tecnológico, valorização de pequenas empresas locais, saúde, incentivo artístico e acessibilidade urbana. Só o fato de contarmos com uma Universidade Federal já nos dá condições de sair na frente e ir além do lugar-comum deste país. Apesar das grandes indignações diárias, deposito fé nesta cidade e na população que aqui estuda, trabalha e resiste.
Christinny Garibaldi
Estudante de jornalismo
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