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Maria Íris Lo-Buono lança ‘Meu feminino está de prosa’ na Hiato

Meu feminino está de prosa
Meu feminino está de prosa
“Eu costumo dizer que os poemas seriam pétalas e, na minha crônica, eu junto essas pétalas e formo uma corola”, afirma Maria Íris Lo-Bueno sobre seu livro (Foto: Divulgação)
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A Hiato Galeria sedia, neste sábado (16), a partir das 11h, o lançamento do livro “Meu feminino está de prosa”, de Maria Íris Lo-Buono. Este é o quarto livro da autora, que também é médica, e é fruto de sua incursão na crônica. A edição conta ainda com ilustrações do artista visual Petrillo. O evento dá continuidade às celebrações propostas pela Hiato no mês dedicado às mulheres.

As primeiras lembranças de Maria Íris são dentro do escritório de seu pai, imersa na biblioteca que abarcava o espaço, brincando com dicionários que serviam de inspiração para criar discursos que seriam ditos em brincadeiras com outras crianças ou para impressionar os adultos que rodeavam as relações de casa. “Imprimimos muitas crenças na nossa infância que vão permanecer nos guiando pelo caminho”, acredita.

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Apesar de ter se formado médica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há 40 anos, essa sua habilidade com as palavras e as letras permaneceu guiando as escolhas que fez, inclusive na profissão escolhida. Seu foco sempre foi a área comportamental e, como resposta a isso, em 2004, fez especialização em Neurociências e Comportamento Humano, para dar continuidade ao trabalho que já fazia de treinamentos comportamentais e de relacionamentos profissionais, que envolve, entre outras coisas, ouvir e fazer com que a palavra e os contatos tenham efeitos ampliadores.

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“O palco e o falar nasceram ali na infância. A gente vai acostumando a usar nossa língua e a trabalhar a musicalidade dela. A sonoridade. E isso foi me levando para o caminho dos versos”, afirma. O primeiro livro que lançou foi corporativo, sobre a empresa onde trabalhava em são Paulo. Mas foi na pandemia que as outras possibilidades se mostraram ainda mais claras. “As pessoas estavam muito no escuro, sem saber no que ia dar. Eu tentei colocar luz nesse túnel.”

Primeiro, na poesia

Enquanto tomava sol na fresta na janela, começou a observar a vizinhança, objetos inanimados. Entre a paisagem, um boldo seco chamou a atenção de Maria Íris. “Imediatamente peguei meu caderninho e comecei a escrever um texto pedindo água, como se eu fosse o boldo morrendo de sede. E eu percebi que aquela seria minha terapia, o que me voltaria para o centro de mim mesma seria a escrita”, confessa. Dessas observações, nasceu seu primeiro livro de poesia, o “Namoradeiras em quarentena – Poemas nas janelas”, de 2020.

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Os poemas do livro são, principalmente, fruto desse olhar da janela, inclusive para aquilo que não é óbvio. “Eu olho um caramujo passando e, para mim, ali tem poesia. Eu posso encontrar poesia justamente em uma lata de lixo”. Essa experiência, fez surgir um outro livro, também de poesias, com o nome de “Namoradeiras em terapia – Poemas no divã”, mas, dessa vez, partia principalmente da observação dos sentimentos que percebia em contato com as pessoas que atendia também nesse período da pandemia.

“Eu fiz poemas baseados nesse meu lado profissional, não só eu me colocando no lugar daquelas pessoas, porque também tinha um pouco de mim: eu estava também atravessando a pandemia. Eu fiz poemas que aquela namoradeira que me chegava está trazendo o incômodo (no primeiro livro), e já a outra (do segundo livro) está a ajudando a lidar com o incômodo. É um livro ‘sarador’. Melhor que um chá de cidreira”, ri.

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Possibilidade da crônica

Seu trabalho como médica e sua verve observadora e tradutora do comportamento em verso, fizeram com que ela também decidisse escrever crônicas. “A crônica é mais ao resto do chão, enquanto a poesia é sintética”. Mas até neste gênero, ela imprime uma prosa poética que permeia o livro “Meu feminino está de prosa”. “Eu trago o meu mundo poético para a crônica. O poema é uma linguagem mais para o inconsciente, e a crônica te coloca mais ao pé do chão. Eu costumo dizer que os poemas seriam pétalas e, na minha crônica, eu junto essas pétalas e formo uma corola.”

Assim como os livros com poemas de Maria Íris, “Meu feminino está de prosa” é também fruto da observação, e ela transcreve experiências pessoais e de mulheres que a rodeiam. “Eu sou uma pessoa que escreve o cotidiano. Eu saio por aí para caminhar e também para colher informações, observando a vida. Eu ganho insumos para escrever: uma fala, uma cena, algo que me incomoda. E me incomoda tanto para uma sensação boa quanto para uma sensação desagradável – os dois polos são substrato para a escrita”. E são as mulheres o assunto principal deste seu lançamento.

São cinco os capítulos que compõem o livro: “Coração e ventre”; “Pele e alma”; “Olhos e pés”; “Ouvidos e bocas”; e “Mãos e colo”. De forma abstrata, “Meu feminino está de prosa” passa por questões que, ao mesmo tempo que são específicas, falam sobre todas as mulheres. Maria Íris afirma ainda que não se restringe ao gênero feminino, e é como forma de pensar no agora, refletindo sobre o passado e a maneira como caminha a humanidade e as questões universais.

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“Meu feminino está de prosa” conta com ilustrações do artista visual Petrillo (Foto: Reprodução)

“Meu feminino está de prosa” é leve e profundo

“Eu quis colocar um feminino que parte da mulher, mas não fica nela. É como um vetor para o mundo. É como se o mundo pudesse perceber os comportamentos, analisar os momentos, pensar sobre isso, e despadronizar e também honrar. As mulheres vão se encontrar dentro das histórias ou vão imaginar outras mulheres com as quais tem relação. O livro tem uma leveza e uma profundidade. Eu misturo o antigo com o novo. Essa convivência é necessária: a gente reverencia o passado, mas olha para o futuro estando aqui nesse presente.”

Maria Íris passa por várias crônicas presentes no livro para mostrar essa presença: a forma como ela reverencia as mulheres; como ela usa de uma receita de bolo para apontar caminhos mais condizentes com o momento de agora; a crença inabalável daquelas mulheres com mais de 90 anos que passaram pelo patriarcado e sobreviveram de forma longeva. Usa, ainda, do humor, porque acredita que o riso é necessário para seguir. E além de guiar quem ler o livro, serve como um guia para a própria escritora.

Encontro da poesia com a ilustração

“Meu feminino está de prosa” vai ser lançado primeiro em Juiz de Fora, cidade onde morou por mais de 20 anos. Não em Belo Horizonte, onde nasceu; nem em São Paulo, onde mora. E essa escolha tem muito a ver com a parceria com Petrillo. Eles se conheciam há tempos e ele acompanhava, pela rede social, o processo do livro. O artista visual perguntou sobre a capa da edição e sugeriu de um encontro em Juiz de Fora para pensar nela. Além dela, eles pensaram também no título, e foi essa a frase que tocou os dois. Então, não tinha como ser outra.

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Petrillo sugeriu que Maria Íris escolhesse uma crônica de cada capítulo e lesse para ele. Enquanto ela lia, ele ia desenhando o que ia sentindo. “Ele captou exatamente o que eu queria com as crônicas”. As imagens estão ilustrando os capítulos de “Meu feminino está de prosa”. Sobre a capa, Petrillo foi pensando no que a autora dizia: os questionamentos, os reposicionamentos, as crenças, e também o acolhimento, as reverências, os sonhos e os devaneios. “Petrillo entendeu isso e desenhou. Na capa, eu estou ao mesmo tempo gritando ao mundo e acolhendo.”

Ao finalizar a entrevista, Maria Íris lembra da frase que usa na sua apresentação do livro e que resume toda a conversa e sua ligação com a escrita. Ela diz: “O estranhamento me fisga. Se me incomoda, aí tem. Só um lápis e papel me devolvem o ar”.

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