Sarah Munck faz sua estreia como escritora no livro ‘O diagnóstico do espelho’

Obra será lançado nesta sexta-feira, na Autoria Casa de Cultura, a partir das 18h


Por Cecília Itaborahy

12/01/2024 às 07h18

Sarah 2
Com “O diagnóstico do espelho”, Sarah se mostra um pouco mais e  fala do que chega a ela de forma sutil (Foto: Divulgação)

Um silêncio no espaço. O cenário lá fora: pandemia. O barulho de uma sirene era ensurdecedor porque era o mais alto de todos. Mexia tanto pela altura quanto pelo fato do que isso representava. Dentro: uma bebê recém-nascida. Um tanto de processos e diagnósticos metafóricos e reais. Sarah Munck, ali, absorvia tudo. O silêncio, que diagnostica o que há de mais profundo, escapou em formato de poesias. Muitas. Um projeto que nasceu primeiro com o título: “O diagnóstico do espelho”, que diz tudo e que guiou o que surgiu a seguir. Esses diagnósticos e esses espelhos, em formato de livro, que faz sua estreia como autora, é lançado nesta sexta-feira (12), na Autoria Casa de Cultura, a partir das 18h. No dia 24 de fevereiro, a obra é debatida no evento Leia Mulheres de Juiz de Fora, no Café e Cultura Planet. 

Sarah é professora do Instituto Federal do Sudeste de Minas e por lá ensina que é bem melhor, primeiro, escrever um texto e, só no final, quando tudo está pronto, pensar em um título. Ela ensina isso porque é, realmente, o mais “comum” de se fazer. Isso como professora. Como escritora é diferente. Ela conta que, primeiro, pensa em um projeto literário. “Eu faço um esqueleto. Com as partes do livro, tudo o que eu vou falar e o objetivo. O título me vem primeiro. É uma palavra que me faz viajar”. Mas, afinal de contas, para onde viajou Sarah quando pensou em “O diagnóstico do espelho”? “Eu viajei para dentro de mim, com um olhar aguçado. Eu encontrei a mim mesmo e a outras pessoas. É o meu espelho e o espelho de outras mulheres”, responde. 

Quando tenta sintetizar o que o seu primeiro livro representa, Sarah fala na alteridade. Isso porque, para ela, ele é o encontro de seu olhar para dentro, indo adiante com o olhar do outro. Ali, submerso, Sarah fala sobre as mulheres, suas fases, mudanças, os ciclos, as cobranças tanto estéticas quanto comportamentais. Fala ainda das violências de gênero e como cada um desses pontos reflete no viver feminino. Tudo tendo o poema como seu contato com outro: a forma como o que escreve chega a quem lê e afeta. “A poesia tem um impacto grande. Porque se fala através das imagens. E isso chega no outro que percebe, entende e sente. É um lugar onde todos podem encontrar a própria voz”, diz.  

Isso tudo chegou a ela no silêncio, quando parou e sentiu que era preciso colocar no papel. “Como uma válvula de escape colocar no papel o que eu sentia enquanto me encontrava comigo mesmo. Um processo que me guardou da pessoalização do meu eu. Colocava no papel o que eu vivenciava”. E foi nesse silêncio também que Sarah foi descobrindo e dando vazão a alguns sentimentos que, de certa forma, sempre estiveram ali, mas ela nunca tinha dado tanto lugar a isso. 

capa O DIAGNOSTICO DO ESPELHO Divulgacao
Capa do livro (Foto: Divulgação)

Diagnósticos

Foi na pandemia, então, concomitante ao processo do livro, que Sarah foi diagnosticada com autismo. “Eu sentia algumas coisas, a hipersensibilidade, e, nesse momento, na pandemia, fui diagnosticada. Tudo isso me levou a um processo de diagnóstico metafórico e meu mesmo”. Ela conta que sempre teve o tempo sozinha, o silêncio, como uma forma de se restabelecer. E talvez por isso tanta coisa tenha surgido durante a pandemia, a licença maternidade, o afastamento das aulas. 

E o ato de escrever ajuda nesse processo. “Porque a escrita, de alguma forma, organiza meus pensamentos, minhas ansiedades. Me ajuda a organizar mesmo e eu me sinto aliviada”. Tanto que o livro veio como enxurrada, em cerca de cinco meses a maioria dos poemas já estava pronto, outros foram incluídos na etapa final do livro, já no ano passado. É muita intensidade, e quando o feminino é entrelaçado pela neurodivergência fica amplificado. E ela entende que é preciso falar sobre isso, as semelhanças e as diferenças entre as mulheres, sejam elas neurodivergentes ou não, com trajetórias que têm violência, mas também bravura. “Creio ser imprescindível (re)considerar a neurodivergência nas discussões sobre feminismo, igualdade de direitos, educação e justiça social”. Sarah dedica alguns poemas para crianças “anestesistas/neurotípicas/atípicas”

É interessante que isso de colocar no papel o que sente é coisa que perpassa a trajetória de Sarah e, inclusive, a faz chegar nesse momento. “Parece clichê, mas o meu interesse pela escrita é antigo. Surgiu ainda na infância”, confessa, de antemão, contando que sempre foi, sobretudo, uma leitora ávida. Seu primeiro poema, escrito quando tinha entre 8 e 9 anos, está guardado até hoje. Seus sentimentos, em seguida, eram expostos em diários, de forma intimista. Na hora de escolher a faculdade, não poderia ser outra: Letras. 

Foi nesse período que ela teve maior contato com o que hoje é referência. Escritores que, de certa forma, sentam junto a ela quando colocam no papel o que pensam. E ela escreve muito, praticamente o tempo todo. “Eu leio de tudo. Desde os escritores que dialogam com meu estilo até os que não dialogam, porque é interessante ver esse outro lado. Esses diálogos, o contato com eles, está ao mesmo tempo submerso e direto no que escrevo, seja nos temas, na forma, no estilo. E a lista de inspirações é extensa, e parte principalmente de nomes como Gabriela Mistral, Isabel Meyrelles, Hilda Hilst, Orides Fontela e Eduardo Galeano.

Lançar-se

Lançar o primeiro livro é como andar para um lugar em que não se sabe, exatamente, aonde vai chegar. Com “O diagnóstico do espelho”, Sarah se mostra um pouco mais, fala do que chega a ela de forma sutil. O mais interessante é o que surge a partir disso: o que o leitor, de fato, vai sentir. “Porque as palavras têm asas e, por isso, voam”, finaliza.

Leia mais sobre cultura aqui

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.

noscript
X