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Centro Cultural Bernardo Mascarenhas está em processo final para reabertura completa

CCBM Felipe Couri
Com o espaço de portas abertas, a proposta é recuperar o espírito dos artistas do “Mascarenhas, meu amor” e fortalecer a ideia de que o CCBM é uma fábrica de criação (FOTO: Felipe Couri)
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Foram mais de três anos com as portas coladas no chão. No piso, uma marca desse tempo: um rastro que até tentaram limpar com mais força para fazer esquecer. Fato é que as portas levantaram. Um símbolo. No último domingo, a Tribuna contou a trajetória de um movimento composto por artistas e intelectuais de diversos lugares do Brasil, sobretudo ligados a Juiz de Fora, que culminou na criação de um centro cultural. Se, hoje, aquele prédio imponente ainda toma conta de um bom pedaço da Avenida Getúlio Vargas no Centro da cidade, isso se deve a aqueles artistas que, incansavelmente, em 1983, hastearam a faixa e entoaram a frase: “Mascarenhas, meu amor”. Nesse ensejo, 40 anos depois, anos esses marcados por ocupação intensa em todos os pavimentos do lugar que já foi fábrica, após um período de obras para a preservação de sua estrutura, as portas do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) foram abertas. Justo a tempo de celebrar um marco. E, para o futuro, espera-se recuperar exatamente aquele sentimento coletivo da campanha “Mascarenhas, meu amor”.

Foi só em 1987 que, oficialmente, o CCBM foi inaugurado. Isso porque a prefeitura, na época responsável pelas obras de revitalização e reconstrução do espaço, levando em conta sua arquitetura original, precisou mesmo de tempo e técnica para trazer de volta um lugar que se encontrava praticamente destruído, como a Tribuna contou na semana passada. A reabertura muito esperada. E, já naquela reunião que aconteceu logo após uma passeata, pensava-se como seria a gestão do CCBM. Os artistas eram praticamente unânimes nas propostas de, assim como o movimento, fazer uma gestão coletiva, que representasse os ideais da época. E assim foi feito, no primeiro momento.

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Guilherme Bernardes, o Gueminho, que participou do movimento, é ator, e, hoje, é gerente do Departamento de Dinâmicas Culturais da Funalfa, conta que, naquela época, essa maneira de gerir o espaço funcionou. Porque os artistas tinham mesmo uma certa liberdade com o lugar que acabou por carregar, em sua estrutura, um tanto de afeto. Mas ele pontua que, em seguida, cada gestão da prefeitura e, por consequência, da Funalfa, definiu uma maneira de gestão que considerasse a mais adequada. E essa gestão coletiva, com participação ativa dos artistas, acabou.

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Ainda assim, nesses quase 40 anos de funcionamento do CCBM, o que os artistas queriam que fosse uma fábrica de arte realmente funcionou. O primeiro pavimento, que de um lado tem uma galeria e do outro mais uma galeria com várias salas no meio; o segundo com um salão e outras salas de aula e videoteca; o próprio castelinho que tem mais um espaço amplo; e, então, o teatro, estiveram a todo vapor, independente da gestão. Mas, por se tratar de um prédio antigo, é sempre necessário uma série de reparos para manter sua estrutura. E foi o que aconteceu e fez com que as portas estivessem fechadas nesse tempo.

“A gente encontrou esse espaço em uma situação complicada. Ele estava fisicamente degradado, precisando de alguns reparos que não foram feitos. Tanto que o telhado tinha vários problemas. A falta de manutenção nas calhas causou infiltração. Tem alguns pontos que a infiltração comprometeu a estrutura das paredes e das vigas e das colunas”, explica Gueminho. O primeiro passo, então, nessa gestão, foi começar os reparos no telhado, de cima para baixo, que era o lugar mais essencial para a manutenção do lugar. De acordo com ele, as obras do telhado já foram feitas em sua maioria. “Boa parte do telhado já está pronto. Tem problemas pontuais. A obra foi feita fora do período de chuva. E, agora, a gente identifica alguns outros pontos problemáticos.”

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Além disso, ele pontua que, na medida em que as obras iam sendo feitas, novos problemas na estrutura foram aparecendo, o que necessitou de ainda mais tempo de recomposição. “São processos que precisam de anos”. A que ele considera mais demorada é a da galeria do lado esquerdo: a única que ainda não foi finalizada, porque precisa de mais tempo, já que infiltração e cupins comprometeram o contato de algumas colunas com o chão. Enquanto se caminha para a resolução dessa parte, foi colocado andaimes que garantem a sustentação.

Adequações do espaço

A obra foi e está sendo um processo que demanda de outros. Agora, outra questão é o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). Gueminho explica que algumas exigências dos bombeiros não são possíveis de serem executadas, principalmente aquelas que, de alguma forma, comprometem o complexo arquitetônico, por se tratar de um imóvel tombado. No segundo andar, é sugerido que se crie uma saída de emergência. Para isso, seria necessário abrir uma escada para fora, o que não é possível exatamente por afetar a fachada. É a mesma situação que fez com que, de 2016 a 2018, o CCBM ficasse fechado. Na época, foi encontrada uma saída que possibilitou a reabertura.

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Agora, Gueminho afirma que, da lista encaminhada pelo Corpo de Bombeiros, grande parte já foi realizada. “A gente faz reunião constantemente com o Corpo de Bombeiros. Na última, ficou decidido que eles vão apresentar uma última lista de exigências e vamos criar uma espécie de termo de ajuste com o que pode ser feito e em que condições”. Ele ainda garante que todos os funcionários são constantemente treinados para lidar com as situações adversas.

O gerente ainda explica que, apesar de não ter, ainda, o AVCB, isso não impede que algumas atividades sejam, esporadicamente, realizadas. “Aos poucos. Essa falta de autorização não proíbe nosso funcionamento. Se acontecer alguma coisa, a gente vai ser responsabilizado. Mas a gente tem segurança para ir reabrindo aos poucos”. A estratégia foi fazer atividades com pequena quantidade de público. “A gente foi fazendo alguns testes, com pequenas atividades, público controlado, e o nosso pessoal atento também”. Até então, foi realizado um mutirão de emprego da própria prefeitura, que teve uma movimentação total de mil pessoas, em um dia, e o JF Rock City, que usou parte do CCBM com exposição e lugar de apoio aos artistas. Atualmente, o lugar também sedia parte do Festival Internacional de Cinema e Cultura da Diversidade (Festidici). Além desses eventos, o CCBM ainda abriga algumas oficinas e aulas – tudo com o público controlado.

Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (FOTO: Felipe Couri)

Artistas devem voltar a gerir o CCBM

A Funalfa, agora, pensa na gestão do lugar. Gueminho afirma que, no dia 17 de outubro, será oficializada no Conselho Municipal de Cultura (Concult) a proposta de criação de uma comissão com representantes das áreas artísticas que mais usam o espaço, como música, dança, teatro e artes visuais, dentre outros, para discutir a gestão do lugar com a participação da sociedade civil. “Esse vai ser o grande salto. E a gente se reconecta com os 40 anos do ‘Mascarenhas, meu amor’, porque volta a entregar à cidade a gestão do espaço. A supervisão do espaço vai cuidar da parte administrativa, inclusive – tudo. E a sociedade civil cuida da agenda, do relacionamento, da criação de propostas”. Esse momento atual do CCBM será discutido, de acordo com ele, com a oficialização da proposta, apresentando a importância de retornar a forma da primeira gestão do espaço: feita pelos próprios artistas representantes da sociedade civil.

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“A gente está nesse movimento de, aos poucos, abrir as portas mesmo. E, enquanto tiver atividade aqui dentro, a porta vai ficar aberta. E tudo é um processo. E a gente está fechando essa curva de trazer a comunidade para cá”, afirma Gueminho. E ele ainda pontua que a proposta é mesmo recuperar o espírito dos artistas do “Mascarenhas, meu amor”, e fortalecer a ideia de que, mais que um espaço de exposição e apresentação, o CCBM é uma fábrica de criação, e a ideia é que ele se mantenha, principalmente, para além disso, como um lugar para ensaios, que, para ele, é a grande demanda dos artistas.

Quando Jorge Sanglard foi entrevistado sobre o “Mascarenhas, meu amor”, foi perguntado o que sentia vendo, atualmente, aquele espaço com suas portas fechadas. E ele disse: “Eu acho que deveria ter pressão popular mais uma vez para reabrir. Ninguém lutou para conquistar o espaço e ele permanecer fechado. Para ficar precisando de ‘re-recuperação’. Obriga a gente a voltar a lutar”. E Gueminho, de certa forma, concorda, agora como servidor público. “A sociedade precisa reviver a campanha. A sociedade precisa nos ajudar. E cobrar de nós, servidores públicos. E isso aqui só existe por causa dos artistas. Foram eles que deram para a cidade. Nossa obrigação, agora, é reafirmar que aqui é a casa dos artistas.”

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