O homem de 40 anos, preso depois de confessar que estuprou a filha por dez anos, irá responder pelos crimes de atentado violento ao pudor, estupro de vulnerável e estupro, como informou, nesta sexta-feira (31), a delegada Ione Barbosa, responsável pela apuração do caso. Três tios da vítima – irmãos do pai dela – e a mãe da adolescente irão responder pelo crime de estupro por omissão, uma vez que tinham conhecimento dos fatos e não os denunciaram às autoridades. A pena para todos os crimes varia de oito a 15 anos de prisão e pode ser aumentada, porque os indiciados são parentes da vítima.
Conforme a titular da Delegacia de Mulheres, na última segunda-feira (27), uma tia e um tio da adolescente abusada, moradores do Rio de Janeiro, estiveram na unidade policial para prestarem depoimentos. Segundo Ione, o testemunho deles era importante, porque, quando tomaram conhecimento da violência, levaram a vítima e seus irmãos para o Rio. Já o terceiro tio da garota, que mora em Juiz de Fora, foi ouvido na semana passada, também porque tinha ciência do que vinha ocorrendo com a sobrinha. Além deles, uma conselheira tutelar prestou depoimento, uma vez que a Polícia Civil apurou que, em 20 de julho de 2015, uma denúncia anônima foi realizada ao órgão. Tal denúncia comunicava que havia a suspeita de que a vítima fosse abusada sexualmente pelo genitor. Não havia informações sobre a periodicidade dos fatos, nem informações se a mãe da adolescente tinha conhecimento.
Diante disso, a conselheira tutelar, responsável à época pela investigação do caso, foi ouvida, nesta quinta-feira (30). De acordo com a delegada, a mulher relatou que recebeu a denúncia e foi até a casa da vítima. Ela e o pai receberam a conselheira, mas ambos negaram os fatos, o que resultou no fim da investigação. Ione ressaltou que essa denúncia ao Conselho Tutelar nunca foi repassada à Polícia Civil, que soube do abuso apenas quando ocorreu a prisão em flagrante do suspeito, no último dia 19.
O inquérito mostrou que muitos moradores do condomínio onde a vítima residia questionavam como a adolescente era tratada pelo pai. “Várias pessoas estranhavam o fato de o pai tratar a filha como se fosse mulher, diferentemente dos outros dos filhos”, disse Ione, acrescentando que a investigação concluiu que os outros dois irmãos da adolescente não foram abusados. “Eles falaram em depoimento, inclusive, que eram tratados de forma desigual pelo pai e, às vezes, até agressiva, o que não acontecia com a vítima. Eles não presenciavam os abusos, mas contaram que, várias vezes, percebiam que o quarto era trancado, e o volume da televisão era aumentado”, ressaltou a delegada.
Outra situação trazida à tona pelos irmãos é que, aos sábados, o pai usava a desculpa de ter que limpar a casa junto com a adolescente, com o objetivo de ficarem sozinhos, mas, quando voltavam, estranhavam o fato de a residência permanecer desarrumada. “Ele ainda dava dinheiro para os outros filhos para saírem. Em janeiro de 2017, quando a adolescente resolveu contar tudo para família, o pai alegava que ninguém acreditaria na história dela. Assim, ela começou a ceder, pois perdeu as esperanças”, afirmou Ione, completando que o homem apresentava comportamento ciumento em relação à filha, rastreava o celular dela e não gostava que a menina arrumasse namorado.
Ainda como pontuou a delegada, a mãe da adolescente disse que desconfiava da situação e que teria denunciado ao Conselho Tutelar, mas o fato foi negado pelo órgão. A mulher não vivia com a filha, uma vez que havia se separado do pai dela, quando a menina ainda tinha 10 meses. A adolescente e os irmãos foram criados pelo pai e pelos avós paternos, que tinham a guarda deles. A vitima ainda tem outra irmã, de 4 anos, filho do pai com outra mulher. Nesta sexta-feira, a delegada recebeu o resultado dos exames periciais, que constaram que não houve conjunção carnal entre pai e filha no dia em que ele foi preso em flagrante pela Polícia Militar. Mas a delegada explicou que, como não era a primeira vez que a adolescente havia sido abusada, esse resultado não muda o indiciamento dele pelos crimes. “O suspeito, que continua preso no município de Leopoldina, também foi ouvido e negou o estupro, mas confessou que teve atos libidinosos com a menina”, disse Ione. Atualmente, a guarda da adolescente está com a mãe de uma amiga dela, responsável por denunciar os abusos à PM. Já os irmãos dela estão sob a guarda de uma madrinha.
Frieza
De acordo com registro policial, uma das amigas da adolescente procurou a PM, no último dia 19, alegando que precisava ajudar a vítima, que, há dez anos, vinha sofrendo abusos por parte do pai. Segundo a PM, a frieza com que o homem confessou os crimes deixou os militares “estarrecidos”. Ele teria dito já ter pesquisado na internet que incesto, nome dado à relação sexual entre parentes, não era crime, mas sim contravenção penal. A vítima teria afirmado à colega que “não suportava mais e que precisava de ajuda urgente, pois não tinha mais com quem contar”, inclusive que teria tentado falar com familiares, mas, como não tinha provas, ficou sem apoio, abrindo brecha para que o crime continuasse a ocorrer.
Como o pai mantinha constante monitoramento do celular da filha, ela não conseguia pedir ajuda e conversar com as pessoas sobre o que sofria, principalmente devido às ameaças de morte. Porém, ela e as amigas criaram um código para conversar sem que o suspeito desconfiasse das confissões. Todas as vezes que a vítima era estuprada, ela mandava uma mensagem escrito “oi…” para as amigas. Como os militares não tinham o depoimento da vítima e nem provas materiais do crime, não puderam ajudar neste primeiro momento. Porém, cerca de uma hora mais tarde, a menina enviou o código a outra amiga, que também procurou a polícia.
Diante da possibilidade de comprovar o fato, os militares foram até o bairro onde ela mora e fizeram contato com a garota abusada. Segundo o boletim, ela estava em prantos e confirmou os abusos. A menina contou também que era violentada sexualmente pelo pai desde os 6 anos e que, desde esta idade, o pai a tocava em suas partes íntimas, obrigando a fazer sexo oral. A partir dos 11 anos, começaram as relações sexuais, sempre sem preservativo. Ela ainda disse ter medo do homem, e o último estupro havia ocorrido no quarto do pai, logo após ela sair do banho. Na ocasião, ele a esperou na cama e a segurou pelo braço dizendo: “está na hora de fazer”, consumando o ato sexual em seguida.