A taxa de diagnósticos positivos e a busca por testes de Covid-19 voltaram a aumentar em Juiz de Fora durante o mês de maio, segundo apuração da Tribuna junto a laboratórios da cidade. O projeto JF Salvando Todos, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), também apontou aumento na transmissão da doença, reclassificando o nível como moderado, após semanas em que a cidade tinha índice classificado como baixo. Apesar do aumento, os percentuais ainda seguem distantes da explosão de casos que atingiu o município em janeiro, ocasionando até escassez de insumos para testes.
O crescimento do índice de exames positivos e da procura por testes são apontados pelo Lemos Laboratório. De acordo com a responsável pelo setor de testagem do laboratório, Isabella Barreto, o percentual de exames que detectaram a infecção por Covid-19 também teve aumento considerável: de 13%, nos dois meses anteriores, para 40% em maio. Ao longo da última semana, houve dias com até 88% de testes positivos para a doença.
A demanda por testes também cresceu e saltou de dez testes por dia, entre março e abril, para 40 testes ao dia no mês de maio. A solicitação de testagens aumentou sobretudo nas duas últimas semanas, segundo Isabella. “Houve aumento no número de casos. O número de testes ainda não chega perto do que a gente fazia em janeiro mas, mesmo reduzido, ainda teve aumento na procura”, diz Isabella Barreto. Nas primeiras semanas deste ano, o laboratório chegou a processar até 400 exames em um único dia.
No laboratório Carlos Chagas, o aumento também foi notado. Segundo o biomédico responsável pelos testes de Covid-19, Elias Bahia, somente em maio foram realizados 143 testes, número 66% maior do que a quantidade de testes demandados no mês anterior – apenas 86. Antes deste mês, a queda era sucessiva desde o início do ano. “Em janeiro, fizemos 1.981 testes, em fevereiro, 712, ou seja, nessa época, já notamos uma queda de mais de 60%. Em março, fizemos 108 testes e em abril, 86. Somente em maio que esse número voltou a subir, principalmente nas últimas duas semanas.”
Segundo Elias, a base de dados do laboratório não permite saber ao certo quantos dos testes deram positivo, mas, com base em sua experiência, ele afirma que o índice de positividade também tem aumentado. “Dos poucos testes que recebemos em abril, a grande parte deu negativo, já neste mês, estamos observando que o número de testes positivos tem aumentado. A procura também cresce devido ao início do período mais frio, com o aparecimento de doenças respiratórias, as pessoas geralmente fazem o teste para descartar a possibilidade de se tratar da Covid-19.”
Já na rede de farmácias Lawall, o administrador, Henrique Lawall, afirma que, nos últimos meses, o aumento da procura por testes não foi observado. De acordo com ele, em 2022, a demanda foi maior nos meses de janeiro e fevereiro, já a partir de março o número de testes passou a cair progressivamente, mantendo-se baixo inclusive em maio.
‘Somos contrários à flexibilização do uso de máscaras’
O projeto JF Salvando Todos, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), reclassificou o nível de transmissão da Covid-19 na cidade como moderado, após semanas em que o município tinha índice classificado como baixo. O novo nível acontece quando Juiz de Fora chega à taxa de 14,2 casos confirmados por 100 mil habitantes. “Esse número ainda é muito menor do que observamos entre janeiro e abril, mas esse aumento pode ser um sinal de alerta”, diz Marcel Vieira, professor do Departamento de Estatística do Instituto de Ciências Exatas da UFJF e coordenador do JF Salvando Todos.
Na semana entre o dia 15 (domingo) e o dia 21 (sexta), o monitoramento do projeto apontou 82 novos casos de Covid-19 registrados em Juiz de Fora. Os dados mostram aumento de 54,72% no número de diagnósticos em comparação à semana anterior, compreendida entre os dias 8 e 14 de maio.
Por outro lado, o número de mortes causadas pela Covid-19 está estável e próximo de zero, segundo o acompanhamento do projeto, embora óbitos sigam sendo registrados.
“Consideramos importante que continuemos avançando com a vacinação, mantendo o uso das máscaras, o distanciamento e as medidas de higienização”, afirma Vieira, que critica a liberação do uso de máscaras de proteção contra a doença em alguns espaços. “Deixamos aqui registrado que somos contrários à flexibilização do uso de máscaras em salas de aula e em outros locais fechados e aglomerados”.
Demanda pelos autotestes sobe em Minas
Em contato com a Tribuna, via assessoria, a Drogaria Araujo destacou a procura pelos autotestes de Covid-19, produto que teve a venda liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro. “Entre os meses de março e abril, a demanda teve uma queda de 21%. Em maio, até o momento, já apresentou um aumento de 28% no comparativo com o mês anterior”, informa, citando dados levantados pela drogaria até a última quinta-feira (19) e referentes a todo o estado de Minas Gerais.
A procura por testes rápidos, por sua vez, teve quedas consecutivas na Drogaria Araujo desde janeiro de 2022. Ainda assim, para maio, a empresa projeta “aumento de 47% até o fim do mês, comparando com abril” para o estado.
A nível nacional, levantamento do Instituto Todos pela Saúde (ITpS) apontou que o percentual de testes positivos de Covid-19 subiu de 8,5% para 23,6% entre abril e maio no país. A maior parte dos exames analisados pelo ITpS foi coletada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Prefeitura recomenda máscara a sintomáticos
Ao longo da última semana, a Secretaria de Saúde da PJF chegou a ficar às cegas com os dados da Covid-19, uma vez que um problema no sistema do e-SUS, do Ministério da Saúde, impediu a atualização dos números entre o dia 17 e a última terça-feira (24). Posteriormente, as informações epidemiológicas voltaram a ser publicadas, e o Executivo garantiu que o Comitê Juiz de Fora Viva “continua com o monitoramento constante do cenário epidemiológico (…) para acompanhar qualquer eventual agravamento da situação no município”.
A Prefeitura ainda recomenda a utilização de máscaras para “pessoas sintomáticas ou potencialmente em contato com transmissores; com sintomas de resfriado e gripe; profissionais de saúde e atendimento ao público; indivíduos não vacinados contra a Covid-19 ou que receberam imunização incompleta (menos de três doses); e imunossuprimidos”.
Cidade vem de flexibilizações
Juiz de Fora passa por várias flexibilizações de medida restritivas de enfrentamento à pandemia nos últimos meses. A mais significativa aconteceu na última semana, quando a Prefeitura decretou o fim da situação de emergência em saúde e encerrou o programa JF Viva. Com o fim do programa, as atividades econômicas estão liberadas em sua totalidade e uso de máscaras tornou-se facultativo em todos os locais.
Antes, os abrandamentos das medidas restritivas versavam principalmente sobre o uso de máscaras de proteção. Ainda em março, a cidade alcançou a terceira etapa do Juiz de Fora Viva, e o Município desobrigou o uso do equipamento de proteção em ambientes abertos. A medida foi anunciada quando 85% da população estava vacinada com a segunda dose de imunizante contra a Covid-19.
Em abril, foi tornado facultativo o uso de máscara em grande parte dos locais fechados na cidade. A utilização passou a ser exigida apenas em salas de aula (exceto nas aulas de educação física), estabelecimentos de saúde e no transporte público, escolar, por aplicativo, táxis e similares. Naquela altura, Juiz de Fora havia alcançado 97,24% da população com a primeira dose de vacina e 88,33% com a segunda.
No dia 19 de abril, a PJF voltou a declarar obrigatório o uso de máscaras em elevadores do município. Antes, o Executivo havia deixado a determinação da liberação ou da obrigatoriedade aos gestores do espaço. Por fim, no último dia 16, a Prefeitura tornou facultativa a proteção em unidades estudantis do município.