Enquanto a equipe da Tribuna entrava na Casa de Passagem Bethânia, que completa dez anos neste sábado (27), chegava conosco uma doação de água de coco, usada para a hidratação nos tratamentos das pessoas atendidas no local. A solidariedade verificada já na chegada pode ser vista por todos os cantos da instituição, que acolhe as pessoas em situação de vulnerabilidade que vêm de outros municípios para tratamento oncológico em Juiz de Fora. No início, os acolhidos eram abrigados pelo padre David José Reis no salão paroquial da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Depois de passar por dois outros endereços na mesma rua, agora, em 2018, a instituição começou a prestar os atendimentos em sua sede própria, em um prédio de seis andares, na Rua Santos Dumont 112, no Granbery.
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O que mudou, ao longo desta década, de acordo com o padre David, idealizador do trabalho, foi principalmente a logística, porque o novo prédio tem uma arquitetura moderna e oferece mais conforto aos hóspedes da casa. Isso permite ainda mais cuidado no tratamento humano. “Todas as áreas sentiram o impacto positivo dessa logística mais apropriada. Pedimos que esse espaço fosse construído para atender as necessidades dos hóspedes. Isso nos livrou de adaptações, porque veio muito dentro do que precisávamos. Do ponto de vista humano, o benefício é poder atender bem as pessoas. Que elas venham para cá e se sintam bem recebidas e que tenham um espaço saudável para ajudá-los nesse processo de recuperação ou do acompanhamento do tratamento que fazem. Seja a quimioterapia ou a radioterapia.”
Apesar de a sociedade viver um momento de acirramento político e enfrentar uma forte crise econômica, o padre ressalta que o diferencial da casa é a experiência com Deus. “Ele nos dá força e nos inspira nessa obra. Ela é fruto da graça dele. Os tempos são difíceis e exigentes. Levar um projeto grande como esse adiante não é fácil, mas não tem nos faltado nada. A providência sempre se faz presente. Como a água de coco que vimos chegar na recepção e em muitos outros momentos. Já aconteceu de alguém estar na cozinha, ter um ingrediente faltando, a pessoa se apressar para buscá-lo no mercado e, quando chega na porta, chegou uma doação com o que ela precisava. Os milagres acontecem!”, diz David José dos Reis.
Terreno fértil
Na homilia feita na missa que celebrou os dez anos de atuação da Casa Bethânia nessa semana, padre David ressaltou a importância de olhar o passado com gratidão, o presente com coragem e o futuro com esperança. “Pensar em um projeto de fraternidade e solidariedade, principalmente em tempos de polarização política, em que há muitos conflitos, confrontos e ódio, é muito difícil. Mas, mesmo que o governo não faça a sua parte e não garanta um atendimento como esse, precisamos fazer a nossa parte e esperar que algo melhor seja feito no futuro. Temos muito o que agradecer também, porque o trabalho que fizemos até aqui reforça que é possível acreditar na obra do humano, onde Deus se faz presente.”
Além do padre David, a presidente da Casa, Maria Elizabeth Vidaurre Nassif, e o vice-presidente da instituição, Paulo Sérgio Nassif, ressaltam que, em Juiz de Fora, encontraram terreno fértil para esse trabalho. “É, de fato, um milagre o que acontece. Porque acreditamos e temos certeza de que nada vai nos faltar. O povo juiz-forano é muito solidário, amigo e sensível ao que eles não podem fazer, mas podem colaborar. Sou apaixonada pelo povo dessa cidade. Posso falar porque fomos muito bem acolhidos”, diz Elizabeth, que relata que nenhum dos três é natural do município.
O carinho e a reciprocidade vêm de outros meios que não das doações, com as quais a casa se mantém. O trabalho voluntário é, também, essencial para o funcionamento da Casa Bethânia. “Temos alguns funcionários que assumem a parte da higiene e da secretaria. Mas o alimento – café da manhã, almoço, jantar e ceia – é feito pelos voluntários. Acho encantador como eles assumem essa missão. Tudo é feito com amor e carinho, eles nos procuram para saber se há alguma restrição na alimentação dos hóspedes. Eles cuidam de maneira atenciosa, e isso é maravilhoso.” Padre David reforça que a casa está aberta para toda a sociedade. Não só para quem é colaborador, mas para quem quer conhecer o trabalho e saber como pode ajudar. “Nossa mola fundamental é a palavra ternura. Acreditamos que ela é o melhor remédio e a encontramos aqui. Juiz de Fora tem essa vocação para o humano e para a solidariedade. Estamos de portas abertas.” Nesses dez anos, a casa já recebeu mais de 14.200 passantes, mais de mil hóspedes oriundos de 150 municípios.