Com o objetivo de esclarecer à população os cuidados a serem tomados diante da transmissão comunitária da variante Delta do coronavírus em Juiz de Fora, a secretária de Saúde do município, Ana Pimentel, realizou uma live pelo Instagram, nesta quinta-feira (26), com a médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Maria Pretti Dalcolmo. A especialista alertou que a cepa de origem indiana é considerada de cinco a seis vezes mais transmissível e exemplificou que cem pessoas contaminadas podem infectar até outras 600. Para evitar a propagação do vírus, a pesquisadora recomenda o uso de máscaras mais eficazes, como a do tipo PFF2, e também a testagem prévia no caso de encontros e reuniões com mais pessoas.
Os esclarecimentos foram feitos no mesmo dia em que o secretário de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, anunciou que a Delta já é a variante de maior circulação no estado, com 101 casos confirmados, após estudo genômico. Apesar da transmissibilidade maior, permanece a tendência de queda em internações e óbitos pela Covid-19 em Minas.
“A questão da circulação da variante Delta é muita séria e grave, nos preocupa muito, mas não surpreende. Sabíamos que isso iria acontecer, quando olhamos o Rio de Janeiro sendo epicentro da transmissão comunitária da cepa. Era só questão de tempo, porque Juiz de Fora é do lado. Em São Paulo também está aumentando muito. Não tenho dúvida de que será predominante no Brasil, porque tem todas as condições”, avaliou a pesquisadora da Fiocruz.
Ela lembrou que mesmo as pessoas vacinadas com as duas doses estão suscetíveis e ressaltou a importância da terceira aplicação, já anunciada pelo Governo federal a partir de setembro, começando pelos grupos prioritários que tomaram a última vacina há mais de seis meses. “Estou de acordo que a situação é desigual no mundo. Mas, por outro lado, é importante garantirmos a imunização daqueles com mais de 70 anos e dos imunossuprimidos. Sabemos que a maioria tomou a Coronavac, que tem eficácia um pouco menor. Então não há dúvida de que o Brasil teve atitude correta em oferecer a terceira dose, que deverá ser com a Pfizer.”
Sobre os sintomas provocados pela Delta, Margareth disse que são mais semelhantes a um resfriado comum. “Temos visto que o quadro clínico é bem diferente, com coriza, dor de garganta. Mas a carga viral da pessoa contaminada é enorme, a cada tossida, a cada espirro. Como essa variante não respeita vacinados, não tratamos mais uma pessoa só quando fazemos diagnósticos: tem pai, mãe, filho, funcionário, motorista, pessoas que conviveram, independente de estarem vacinadas.”
Aerossóis
Segundo ela, a transmissão continua sendo principalmente por aerossóis, ou seja, pelas partículas respiratórias geradas durante contato entre pessoas. Portanto, as medidas preventivas chamadas de não farmacológicas passam pelo uso de máscaras de boa qualidade. “Hoje não estamos mais com dificuldade de comprar máscaras do tipo PFF2. E ficou claro, há muito tempo, que a transmissão, em sua maior parte, não é por superfície ou objeto, mas por aerossol, quando há uma pessoa contaminada no mesmo local, mesmo que seja assintomática. Se alguém quer dar uma festinha, mesmo que sejam só 20, 30 pessoas, deve testar todo mundo na véspera, porque podem ter assintomáticos. O critério tem que ser esse. Eventualmente, você vai descobrir alguma pessoa que testou positivo e que estava sem sintomas.”
A especialista ainda recomenda os testes mais seguros, do tipo PCR. “Alguns de farmácia são bons, outros não. O PCR é muito mais confiável, por isso tem valor mais alto.” Margareth foi enfática ao dizer que os principais cuidados são mesmo com os contatos pessoais. “Limpar sacola de supermercado, sola de sapato, esquece isso. Vida que segue. O problema é a transmissão respiratória. Proteja sua família e a você mesmo. Tudo é uma questão de bom senso: se puder entrar sozinha no elevador, melhor, porque você não sabe se alguém vai dar um espirro lá dentro.”
Sobre as crianças, que ainda não foram alvo da campanha de vacinação, a pesquisadora observou ser normal que comecem a ficar mais doentes, exatamente pelo fato de não estarem vacinadas. Por isso, podem também transmitir o vírus, mesmo assintomáticas. “Aquelas acima de 3 anos devem usar máscara. E as crianças acabam sendo um exemplo, porque elas não tiram.”
Margareth tem liderado estudos sobre a Covid-19 no país e é uma das principais especialistas sobre a pandemia. Ela finalizou a participação ao vivo pelo Instagram reforçando a importância da terceira dose. “Lutamos muito por isso. Quem tiver pais em casa, familiares acima de 70 anos, sobretudo quem tomou Coronavac – sabemos que a proteção é um pouco menor -, não deixem de tomar a dose ‘booster’, que será com a Pfizer e vai resgatar a imunidade, produzindo mais anticorpos.”