A variedade da flora, presente no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), localizado na Mata do Krambeck, pode não ser facilmente notada a olho nu. Na verdade, pode até passar despercebida a amplitude de árvores, arbustos, ervas e outros tipos de vida presentes na região. Ao longo dos últimos anos, pesquisadores da UFJF se dedicaram a mapear todas as espécies que existem no local por meio de um estudo tão extenso quanto a ampla variedade de seres encontrados durante o trabalho.
No levantamento, o mais profundo realizado no Jardim Botânico até então, foram 436 espécies identificadas. Dessas, 404 (92,6%) são nativas, da Mata Atlântica, bioma de floresta tropical que envolve o espaço da UFJF. Outras 14 (3,2%) são espécies cultivadas, 11 (2,5%) exóticas e sete (1,6%) naturalizadas. Do total, dez delas estão ameaçadas de extinção, como são os casos da braúna, do cedro, do ipê-roxo e do pau-brasil, árvore nativa que se apresentava em abundância na mata.
A região do Jardim Botânico foi identificada como um corredor ecológico, como é chamada a faixa de vegetação que liga fragmentos florestais ou unidades de conservação impactados pela urbanização. No caso da floresta de Juiz de Fora, há características do litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Embora ela seja bem representativa da floresta semidecidual, possui elementos que mostram a transição com a floresta ombrófila, que é característica do litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo”, explica a pesquisadora Camila Neves, professora na UFJF e idealizadora do estudo. “Como corredor ecológico, a região tem uma área de importância biológica muito alta. O que é uma característica do município de Juiz de Fora, que liga a Serra do Mar à Serra da Mantiqueira”, complementa.
Apesar das semelhanças com outras áreas florestais do município, os 82,7 hectares de área preservada do Jardim Botânico, equivalentes a 116 campos de futebol, apresentam características próprias que diferem dos demais espaços. Entre elas, o formato de anfiteatro, pela inclinação do solo e presença de áreas planas, chamou a atenção dos pesquisadores. “Isso faz com que as encostas ao redor, pela declividade e a vegetação, gerem uma área central mais úmida. As áreas altas ficam mais expostas à incidência da luz solar. Isso cria uma vegetação bem típica destes dois ambientes, mais e menos úmidos. E essa estrutura é bem diferente de outros pontos da cidade”, esclarece Camila.
O estudo
A pesquisa envolveu nove acadêmicos ligados à UFJF e ganhou reconhecimento após publicação de artigo na revista científica Rodriguésia, do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, neste mês. O mapeamento, no entanto, é realizado desde 2011 e surgiu como um projeto de mestrado da professora Camila Neves, encerrado em 2013. Após a apresentação do trabalho, a pesquisa seguiu a muitas mãos, necessárias para realizar coleta de amostras na extensa área, em trabalho de campo que durou até 2014. “A equipe é fundamental nesse tipo de trabalho. Sem a participação de todo esse pessoal, teria sido muito mais difícil”, afirma Camila.
Idealizadora do projeto há nove anos, Camila acredita que o estudo abre as portas para diversos outros trabalhos a serem realizados na região, em fertilidade que perpassa a flora local e atinge também o setor acadêmico. “Foi o primeiro levantamento da flora da área do Jardim Botânico. Foi muito importante para aumentar a visibilidade do município e da área que é fundamental para Juiz de Fora. Abre espaço para outros estudos que vierem depois”, completa.