Uma criança de 10 anos morreu na noite desta quinta-feira (25) em decorrência de meningite bacteriana. A informação foi confirmada na tarde desta sexta (26) pela Secretaria de Saúde, assim como o tipo da doença, apontado por laudo como meningite pneumocócica. O óbito é o único ocorrido por meningite em Juiz de Fora, esclareceu a pasta.
A vítima, Ana Beatriz Felizardo Reis, era estudante do 5°ano do ensino fundamental do Instituto Estadual de Educação (Escola Normal) e apresentou sintomas da doença na semana passada, sendo encaminhada ao hospital. Por conta da suspeita de meningite, seguindo protocolo do Ministério da Saúde, bem como por medidas de segurança, profissionais da secretaria realizaram quimioprofilaxia nos colegas de sala da menina, na professora e nos pais dela, com administração de antibiótico, já que, inicialmente, ainda não se sabia qual era a bactéria que poderia ter causado a doença. A quimioprofilaxia, de acordo com a secretaria, é indicada para casos de meningites bacterianas causadas por Neisseria meningitidis (Meningococo) ou por Haemophilus influenzae.
Pediatra do Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente, Márcia Mizrahy afirma que o cartão vacinal da Ana Beatriz não foi verificado, mas há a possibilidade de que ela não tenha recebido a vacina contra a doença. “Não vimos o cartão vacinal da criança, mas ela tinha 10 anos e a vacina pneumocócia entrou na rede pública em 2010, então tem uma possibilidade desta criança não ter recebido a vacina. Não tem como afirmar, mas existe essa possibilidade.”
De acordo com o diretor da escola, Leonardo Ferreira, Ana Beatriz começou a apresentar forte dor de cabeça durante aula na quarta-feira (17). Profissionais da unidade comunicaram os responsáveis pela aluna, que foi encaminhada, na quinta (18), para o Hospital Regiona Dr. João Penido. Conforme Leandro, no dia seguinte, a paciente foi transferida para a Santa Casa.
“No sábado (20), eu e a professora dela, que já estava muito abalada, fomos ao hospital e pedimos informações. Eu conversei com alguns profissionais da Santa Casa e nos passaram que, possivelmente, seria meningite. No próprio sábado eu pedi uma orientação para os médicos porque fiquei preocupado com as outras crianças. Entrei em contato com a Vigilância Sanitária e com a Vigilância Epidemiológica. Eles falaram que, geralmente, a transmissão se dá apenas pelo suor, saliva ou convívio prolongado, e que os estudantes da sala, apesar de conviverem diariamente com ela, não tinham risco de terem tido maior contato físico”.
Ainda conforme o diretor, além da administração de antibióticos em alunos e profissionais próximos à aluna, a sala de aula foi higienizada. Na última terça (23), profissionais de saúde da Vigilância Epidemiológica (PJF) também compareceram à escola para conversarem com pais e alunos sobre o caso e esclarecem dúvidas e informações conflituosas sobre a meningite.
‘Caso é isolado e não há motivo para alarde’
Apesar do óbito, a pediatra Márcia Mizrahy destaca que não há motivo para alarde e que a cidade não registra surto de meningite. “Todos os anos existem casos esporádicos, não só em Juiz de Fora, mas em todo o Brasil, e estes casos não significam uma epidemia”, explica. A médica cita que a cobertura vacinal na cidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS) “é excelente”. “A vacinação é a única forma de prevenção. Dados de 2018 apontam que 98% das crianças menores de 1 ano foram vacinadas contra a meningocócica, 106% contra a pneumocócica e 99,86% com a vacina pentavalente, contra a bactéria haemophilus”.
Segundo Márcia, os sintomas mais recorrentes de meningite em crianças são febre, dor de cabeça intensa, vômito e o agravamento é rápido. “Nos bebês, quando acontece algum caso de meningite, normalmente, os sintomas não são tão exuberantes quanto na criança grande, mas sempre vêm acompanhados de febre, muitas vezes prostração e irritabilidade excessiva. A criança para de aceitar alimentação. Quaisquer crianças que tenham febre súbita, prostração e dor de cabeça exagerada devem procurar atendimento médico. Só assim vai se conseguir chegar ao diagnóstico e ao tratamento precoce. O mais importante na meningite é que, na suspeita, já seja feito o exame e o tratamento se inicie”, alerta.
Os tipos da doença causados por agentes infecciosos bacterianos podem ser prevenidos por meio da vacinação. No sistema público de saúde, são disponibilizadas vacinas contra a meningite. Márcia explica que com 2, 4 e 6 meses de idade a criança deve ser imunizada contra meningite pneumocócica e contra haemophilus. Já aos 3 e 5 meses, a imunização é contra a meningocócica C -, sendo que o reforço é dado com um ano de idade e pode ser estendido até 5 anos, 11 meses e 29 dias. O segundo reforço deve ser administrado entre 10 e 14 anos.
A pediatra informa ainda que há a possibilidade de expandir a proteção por meio de vacinas disponibilizadas na rede privada, “como a pneumocócica 13, que previne contra mais algumas cepas do pneumococo e a meningocócica B e a ACWY, que previnem contra algumas cepas a mais do meningococo”.
Sequelas
Sobre a gravidade da doença, a médica alerta: “A meningite meningocócica C é a mais comum, mas todas as meningites são graves e podem deixar sequelas. Além das bacterianas, também tem as meningites virais. Para essas não existe prevenção e o tratamento é mais de suporte, porque não existe um tratamento específico para o vírus, mas as virais também são graves e podem deixar sequelas. A diferença é que, normalmente, os tipos causados por bactérias são mais graves e com mais sequelas”, alerta. As sequelas graves podem incluir cegueira, surdez, déficit neurológico, dificuldades de aprendizado e dificuldades motoras. A vacinação é a única forma de prevenção contra a doença.