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Onça-pintada leva ao fechamento temporário do Jardim Botânico

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Espécie em extinção, uma onça pintada foi registrada, nesta quinta-feira (25), no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), localizado na Mata do Krambeck, uma das maiores áreas remanescentes de Mata Atlântica em perímetro urbano. Surpresa com o aparecimento do felino, dada a ausência de registros há, aproximadamente, oito décadas, a instituição, em medida de segurança, fechou, temporariamente, nesta sexta (26), o espaço a visitações. Junto a professores da UFJF, Elildo Alves de Ribeiro Carvalho Junior, analista ambiental e biólogo do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio), visitará o Jardim Botânico nesta noite.

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“A presença de uma onça-pintada no Jardim Botânico tem uma relevância ambiental, do ponto de vista da preservação de espécies, muito importante. A presença de um animal como esse na região é algo com registros muito antigos de ocorrência. Avaliamos que, por medida de segurança, deveríamos interromper a visitação. (…) A medida cumpre dois objetivos: garantir a segurança para os usuários, mas, também, a do animal”, diz o reitor da UFJF, Marcus David. Registradas nesta quinta, à noite, as imagens foram feitas por um dos vigilantes do espaço; a onça-pintada é espécie de hábitos noturnos. A espécie integra a Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, instituída, em 2014, por meio de portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA) – nº 444/2014.

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A visita do analista ambiental definirá as próximas medidas a serem tomadas em relação à permanência ou à transferência da espécie para unidades de conservação. “Estamos muito seguros de que, se, por um lado, não precisamos criar nenhuma comoção e nenhum pavor na população, por outro, precisamos ser responsáveis, zelosos e cuidadosos”, pontua Marcus David. Em relatório de Avaliação do Estado de Conservação dos Carnívoros de 2014, o tamanho populacional da onça-pintada é estimado menor do que 10.000 animais. Conforme o diretor do Jardim Botânico, Gustavo Soldati, a presença da onça-pintada será um meio de educação ambiental para Juiz de Fora. “Neste fim de semana, teremos um norte técnico. Ainda que as atividades do Jardim Botânico estejam paralisadas, estamos discutindo para que a aparição da espécie seja um processo educativo.”

Reunião do Conselho Técnico
Desde a notificação da aparição da onça-pintada, conforme a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, a UFJF entrou em contato com entidades, como o Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Prefeitura de Juiz de Fora e a Polícia Ambiental. “Neste sábado (27), às 10h, faremos uma reunião do Conselho Técnico do Jardim Botânico para avaliar as informações do técnico do ICMBio, e, também, tomar uma medida o mais rapidamente possível para garantir a vida do animal, preservar os princípios de educação do Jardim Botânico e, sobretudo, garantir a segurança da população e dos visitantes.”

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Felino parece ser um “jovem adulto”

“Estudo fauna silvestre há muitos anos. Vim para a UFJF em 2002 e sabia da raridade da ocorrência das onças-pintadas, animal símbolo da conservação, da biodiversidade brasileira. Quando a notícia chegou para mim, fiquei extremamente alegre. Como alguém que lida com pesquisa e espécies que são ameaçadas de extinção, com alguns trabalhos procurando entender melhor as relações dos seres humanos com a vida silvestre, tem sido uma oportunidade muito grande de reflexão sobre quais são os caminhos que desejamos enquanto sociedade”, conta Artur Andriolo, professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF. O registro da aparição da onça-pintada deu-se somente por meio de imagens; os especialistas da universidade carecem ainda de contato físico com o felino.

Da esquerda para a direita: o diretor do Jardim Botânico, Gustavo Soldati, a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, o reitor Marcus David, a vice-reitora Girlene da Silva, e o professor Artur Andriolo durante coletiva concedida na tarde desta sexta (Foto: Fernando Priamo)

Em análise audiovisual, entretanto, Andriolo identifica algumas características do animal. “Aparentemente, parece um jovem adulto. Não consigo dizer se é macho ou fêmea, mas, pela biologia da espécie, sabemos que são animais solitários. Quando chegam nesta fase, já desapegaram da mãe e procuraram novas áreas.” É impreciso dizer sobre a existência de outros felinos da espécie nas redondezas do Jardim Botânico. “As onças são animais caminhadores. Vagam por áreas muito extensas. A população de onças no Brasil é muito reduzida; existem maiores populações no Pantanal e na Amazônia, por exemplo. Quando animais de determinada unidade de conservação começam a se manter harmoniosos com o ambiente, e a população cresce, é natural que os filhotes se dispersem da área natural”, detalha Andriolo.

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Plano de Ação
Conforme o especialista em comportamento animal, as medidas a serem tomadas estarão em consonância com o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Grandes Felinos, instituído em 2018, cujo objetivo é “reduzir a vulnerabilidade da onça-pintada e da onça-parda, em cinco anos, com vistas a melhorar o estado de conservação de suas populações”. Tal estudo é posterior ao Plano de Ação Nacional para Conservação da Onça-pintada, encerrado em 2016, com 41% das ações concluídas e 18% ainda em execução.

Receio com a caça

Questionado sobre as iminentes presenças de animais de grande porte em razão de a área ser um bioma da Mata Atlântica, o diretor do Jardim Botânico, Gustavol Soldati, assinala a segurança como “um dos principais pilares” da direção. “Nossos manuais de práticas sustentáveis foram construídos pelo Conselho Técnico, em parceria com os engenheiros de segurança da UFJF e algumas entidades que trabalham com segurança em Juiz de Fora”, diz. “É uma área natural, que oferece riscos inerentes, mas a gente tem um plano de minimizar, ao máximo, estes riscos. A conduta é andar só em trilha e andar sempre acompanhado dos monitores. Todos os riscos inerentes do jardim foram minimamente pensados.”

Além disso, há a preocupação com a possibilidade de caça ao animal, dada à raridade da espécie. “Caçadores há, existe a possibilidade, mas é importante saber que, a partir de hoje (sexta), o animal passou a ser acompanhado. Não só por nós. Mesmo não sabendo precisamente onde (ele) está, mas nas redondezas. Vamos ter gente monitorando diariamente, procurando pegadas e tudo mais. Espero que (a caça) não passe pela cabeça de ninguém. É um receio, não só por conta desta onça, mas de outras belezas e riquezas que temos”, diz o professor Artur. O Jardim Botânico tem sistema de vigilância e monitoramento.

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