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Especialistas alertam sobre riscos de contato entre quatis e humanos

Quatis Marcelo
Quatis podem ser encontrados em muitos lugares de Juiz de Fora que apresentam fragmentos florestais (Foto: Marcelo Ribeiro/ Arquivo TM)
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Não só onça-pintada e capivara já registraram seu momento de fama em Juiz de Fora. Na última semana, o holofote se voltou para um quati, que chamou a atenção ao morder o chef de cozinha e jurado do MasterChef Henrique Fogaça, durante sua passagem pela cidade para gravação de um episódio do programa. A presença do animal na região é mais comum do que se imagina, mas especialistas ouvidos pela Tribuna alertam que não se deve tentar alimentá-lo, para o bem da espécie e do próprio ser humano.

De acordo com Rogério de Oliveira, biólogo e professor do UniAcademia, em Juiz de Fora, é possível encontrar quatis em áreas com fragmentos florestais, como Morro do Cristo, Mata do Vale do Ipê, da UFJF, Parque da Lajinha, Cidade Alta, Jardim da Serra, entre outros pontos. “Eles são ótimos escaladores e podem buscar comida até mesmo no topo de árvores, mas também se alimentam de frutos caídos no chão, o que facilita a visualização dos animais pelos humanos. Quando há abundância de alimentos de origem antrópica (lixeiras e comedouros), podem passar a se alimentar principalmente disso, o que não é bom para a saúde do animal.”

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Além disso, os quatis costumam se adaptar a áreas urbanas, o que pode fazer com que pessoas tentem se aproximar por achá-los “bonitinhos e mansos”. “Vale lembrar que os quatis, ao sentirem-se ameaçados, podem ser agressivos e causar ferimentos, além de transmitir doenças graves”, destaca Oliveira.

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Risco de zoonoses

Para os humanos, o contato próximo com quatis pode trazer os mesmos riscos que qualquer animal silvestre oferece, relacionados a zoonoses – doenças infecciosas transmitidas por animais. Conforme o professor Guilherme Garbino, do Museu de Zoologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), normalmente, o quati tende a fugir caso se sinta acuado ao encontrar com um humano, porém, se ele está habituado a receber alimentos, pode tentar se aproximar.

“Os quatis possuem duas ‘armas’ naturais: as garras compridas e afiadas e os dentes caninos (as ‘presas’), também muito afiados. Se o animal se sentir acuado, pode atacar o ser humano com mordidas e/ou patadas. No vídeo do Fogaça, pelo que vi, o animal não tinha intenção de morder, foi apenas atrás do alimento, mas os caninos grandes acabaram pegando ele”, explica.

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Segundo o especialista, em caso de contato próximo, a orientação é procurar atendimento médico. “Além dos ferimentos, o quati pode estar contaminado com o vírus da raiva (nesse caso, o procedimento de tomar antirrábica foi correto), e pode estar parasitado pelo carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa.” Em Juiz de Fora, o HPS é a única unidade de saúde que realiza aplicação de vacinas antirrábicas.

A orientação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é que o público em geral evite pegar, dar alimentos, acariciar ou brincar com animais selvagens em qualquer hipótese, para que não haja estresse no bicho nem o risco de a pessoa se machucar ou contrair doenças. Caso o animal seja encontrado ferido ou debilitado, é preciso entrar em contato com a Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros ou Guarda Municipal.

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‘O quati é adaptado para conseguir o alimento no seu habitat’

Os riscos do contato entre humanos e quatis também se aplica aos animais. Quando as pessoas os alimentam, isso faz com que eles se habituem e possam se machucar, aponta a professora do departamento de Zoologia da UFJF Aline Santana. “Eles podem sofrer ataques de cães ou até de pessoas, e também atropelamentos quando estão muito próximos das áreas urbanas, além dos riscos nutricionais para esses animais.”

Ao buscar alimento na área urbana, os quatis, mamíferos que apresentam hábito alimentar onívoro (comem quase de tudo), podem revirar lixeiras e ingerir produtos prejudiciais à sua saúde, seja alimentos ultraprocessados ou mesmo não comestíveis. “Há relato na literatura de ingestão de plásticos, borrachas, vidros, entre outros itens não alimentares, porque esses animais não sabem como discriminar. Eles vêm atrás do alimento e acabam ingerindo coisas que não fazem bem pra eles.”

Conforme a especialista, os quatis são importantes para manutenção de florestas por meio da dispersão de sementes, além de se alimentarem de pequenos invertebrados, como aranhas, atuando no controle desses animais. “Existe a questão da conservação da espécie porque muitos pensam assim: ‘eu estou dando alimento, então eu estou ajudando'”, exemplifica Aline. “É preciso entender que ele é adaptado para conseguir o alimento no habitat dele. Se eu dou um alimento, esses animais vão ficando cada vez menos aptos nessa habilidade de conseguir se virar no seu ambiente natural, que é a natureza. Os alimentos que tem ali que são, de fato, saudáveis para eles”, aponta.

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