Com a temporada de chuvas se aproximando, a população do Bairro Santa Luzia, na Zona Sul, fica apreensiva. Historicamente, o bairro é afetado por enchentes devastadoras, concentradas sobretudo durante os temporais de verão. Quando o volume das precipitações é alto, o local é um dos mais atingidos em toda a cidade de Juiz de Fora. O problema é especialmente grave ao longo das avenidas Ibitiguaia e Santa Luzia, que margeiam o córrego Santa Luzia, notório por invadir imóveis e estabelecimentos. Na semana passada, por exemplo, o bairro registrou o maior volume de água da cidade, com 50 mm registrados em 30 minutos, apesar de o córrego não ter transbordado. Moradores e comerciantes do bairro contabilizam anos de prejuízos, não raramente relatando vezes em que “perderam tudo”.
Em seu primeiro mandato, a prefeita reeleita Margarida Salomão deu o pontapé inicial em trabalhos que prometem solucionar o problema, chegando a entregar a fase inicial de obras programa de macrodrenagem da bacia do córrego de Santa Luzia, dentro do projeto Juiz de Fora +100, que busca eliminar os problemas históricos de enchentes e alagamentos em diversas regiões do município.
A Tribuna esteve no bairro Santa Luzia durante a tarde da última segunda-feira (21), depois de um fim de semana marcado por chuvas intensas, para conversar com os comerciantes e moradores do bairro sobre o impacto e o temor que as chuvas ainda causam no local.
‘Quando chove, a gente já se preocupa’
Marcos Antônio Ferreira atua há 11 anos no bairro com diversos comércios, e conta que já perdeu mais de R$ 30 mil com enchentes no local. No entanto, ele conta que antigamente a água que voltava dos bueiros era limpa, e não chegava a entrar nas lojas que ficam na Avenida Ibitiguaia. Mas segundo ele, de três anos pra cá, o volume de água aumentou. “Era questão de cinco ou dez minutos e a água baixava. Mas de uns três anos pra cá piorou, a água começou a entrar nas lojas, antes tinha que chover muito pra encher, hoje em dia qualquer chuva já enche e uma água barrenta invade as lojas”, disse.
Em uma chuva em novembro de 2023, famílias ficaram ilhadas em um deslizamento de terra na Rua José Orozimbo. Já em tempestade forte em dezembro de 2021, a Rua Ibitiguaia ficou alagada com transbordamento. Na ocasião, os próprios moradores foram responsáveis por boa parte da limpeza no local. Todas essas situações fazem com que o medo seja constante durante a temporada de chuvas. “De outubro até abril a gente fica nessa angústia, temos que ficar atentos. Quando começa essa época (de chuvas), eu acordo de madrugada pra olhar as câmeras de segurança pelo celular, a gente fica preocupado”, desabafa o lojista.
Percorrendo o bairro, não é difícil achar lojas que foram construídas com altura superior à da calçada, incluindo duas lojas do Marcos que, segundo ele, têm essa estrutura porque antigamente essa altura era a suficiente para evitar que a água entrasse nos estabelecimentos. “Os antigos fizeram assim porque naquela época não entrava água, mas hoje entra!”.
Mas a temporada chuvosa não preocupa apenas os comerciantes. Cristiane da Silva Oliveira é moradora do Santa Luzia há seis anos e, além de residir na Ibitiguaia, também trabalha nas imediações. A chuva a preocupa não apenas pelo seu local de trabalho, que já foi invadido pela água várias vezes, mas também porque a mínima chuva já pode significar horas ilhadas sem poder ir pra casa. “Quando chove, a gente já se preocupa, por não saber como vai ser. Dependendo da chuva, eu tenho que esperar baixar a água pra poder conseguir entrar em casa. Muita gente entra nas lojas para se proteger, pois a água sobe muito rápido.”
Cristiane também contou à Tribuna sobre a correria na farmácia onde trabalha quando a chuva começa. “A gente tem que subir todas as mercadorias, pois mesmo com a placa (de proteção) na porta, a água dentro da loja chega na altura da canela.”
Pacote de obras busca resolver questões infraestruturais em definitivo
Para a sua segunda gestão enquanto prefeita da cidade, Margarida Salomão (PT) colocou em seu plano de governo a realização de obras de contenção de encostas nos bairro. Além disso, pretende dar continuidade ao programa de despoluição do rio Paraibuna, que inclui obras no córrego Santa Luzia, e ampliar o sistema de macrodrenagem no local, com o objetivo de acabar com as inundações.
Em abril de 2024, a PJF inaugurou o vertedouro do Parque da Lajinha, primeira etapa do programa de macrodrenagem da bacia do córrego de Santa Luzia, que engloba os córregos do Teixeiras e do Ipiranga. De acordo com a PJF, a obra levou nove meses para ficar pronta, e custou R$ 1,9 milhão. O objetivo da intervenção é fazer com que o lago do parque retenha as águas das chuvas que descem da região do Bairro Aeroporto, na Cidade Alta. Com a modernização, a estrutura que controla o nível da água do lago passa a ter capacidade de retenção de até 12 milhões de litros de água, o equivalente a seis piscinas olímpicas.
As intervenções no Santa Luzia integram um projeto maior, o “Juiz de Fora +100”, que, nas palavras da prefeita, “é o projeto de Juiz de Fora para daqui a cem anos com essas questões de infraestrutura resolvidas.” O conjunto de ações contempla o financiamento de grandes obras para enfrentar problemas históricos de enchentes e alagamentos nos bairros Santa Luzia, Industrial, Mariano Procópio, Democrata, Linhares e na Rua Cesário Alvim. Os trabalhos, que custarão R$ 356 milhões, serão inteiramente custeados por recursos do Governo federal, por meio do PAC.**
Em resposta à Tribuna, a PJF confirmou que já finalizou, com sucesso, a primeira etapa da obra de macrodrenagem do bairro. Para as próximas fases, é necessário esperar a liberação dos recursos do PAC, previstos para início de 2025.
*Sob supervisão da editora Júlia Pessôa
** Informação retificada