Morreu na madrugada de quarta-feira (23) a artista Lívia Pinheiro Lucas, conhecida como Nêga Lucas. A cantora, poetisa e atriz morava em Barcelona há 14 anos, mas retornou a Juiz de Fora no ano passado para realizar tratamento contra um câncer de mama. Dos seus 39 anos de vida, 20 foram dedicados à arte. Nêga tinha quatro discos lançados: “Canto de casa” (2009), “Férias de mim” (2012), “Naif” (2016) e “Temporal” (2022), além de três livros de poesia. Seu último show em Juiz de Fora aconteceu em novembro de 2019. O corpo foi cremado na manhã desta quinta-feira (24), em Juiz de Fora.
“Nêga construiu uma obra extensa na música, na poesia, na performance, na prosa e na oralidade, obras publicadas e muitas ainda por serem descobertas. Nêga conheceu meio mundo, fez turnê na rua, morou em vários países, aprendeu a falar seis idiomas e jogou muitas sementes no coração de cada um que cruzou o seu caminho. Intensa, mas intensa de verdade de tanta doçura”, diz uma postagem compartilhada no Instagram oficial da artista. Amigos e companheiros de trabalho também lamentaram a perda nas redes sociais.
Para a cantora e compositora Laura Januzzi, amiga próxima de Nêga, a artista era um dos grandes nomes da música mundial, nunca se limitando a ser somente uma cantora local. Ela conta que conheceu a amiga em 2012, e o contato rendeu algumas canções, incluindo Temporal, música título do último álbum de Nêga, que também está presente no disco de Laura. “Nos últimos meses, tivemos mais uma conexão mágica e fizemos “Vagalume”, nossa última parceria, música feita para o Luiz Felipe, irmão e alma gêmea da Nêga. Ela era uma força da natureza, tinha um coração gigante, era uma artista genial, vai deixar muita saudade e muita inspiração pra gente seguir fazendo muita arte por aí.”
O cantor e compositor Dudu Costa, também descreve a amiga como uma “força da natureza, impossível de conter”. Ele afirma que a partida de Nêga é uma perda para a cultura e para a arte de todo o mundo. “Ela não se limitava a um território só, isso em todos os sentidos possíveis. Ela transcendeu diversas fronteiras e ocupou diversos espaços artísticos, saiu de Juiz de Fora, foi para Espanha, foi para a África, e fez muita coisa no campo artístico e pessoal nesses lugares. Ela deixa para mim um exemplo de muita força, muita coragem e muita vida. Sai hoje do velório dela com essa urgência de viver, porque a Lívia era assim, todos nós amigos percebemos isso, ela sabia que a vida era urgente, porque sabia que a vida era um sopro.”
Outra amiga de Nêga, a cantora e compositora Juliana Stanzani relembra o contato que teve com a artista e as parcerias musicais que desenvolveram ao longo dos anos. “Conheci a Nêga assim que cheguei na cidade, ela já estava morando fora, mas ela vinha sempre, anualmente. Nós fizemos um curso juntas de canto e ela sempre foi uma pessoa muito fácil de lidar, muito acolhedora e agregadora. Eu sou muito fã da Nêga, foi uma das primeiras coisas que eu vi e ouvi aqui em Juiz de Fora, com aquela presença muito bonita, extravagante, iluminada, me impactou logo de cara. Ela sempre foi essa pessoa de encontro, maravilhosa, que vai fazer uma falta enorme.”
Juliana ainda relembra a gravação da música autoral “Valsa Blues” por Nêga, que foi lançada no último disco da cantora. “Me senti muito honrada e feliz, tive esse presente. Minha parceria musical com ela é mais afetiva do que qualquer coisa, além de ser uma referência na minha história, também tem essa parte concreta.”