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Empresário nega ter levado dólares para JF em depoimento à Corregedoria

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O executivo do ramo da engenharia e construção Flávio de Souza Guimarães, citado no caso do tiroteio que resultou na morte do policial civil juiz-forano Rodrigo Francisco, 39 anos, negou ter levado dólares em sua viagem a Juiz de Fora. Ele prestou depoimento à Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo na segunda-feira (22) e afirmou ter ido à cidade mineira “negociar empréstimos para sua empresa”, e não trocar dólares de forma clandestina. Com relação à sua escolta, composta por nove policiais civis paulistas, ele alegou ter contratado os serviços da empresa de segurança de Jerônimo da Silva Leal Júnior, como faria rotineiramente. As informações são da assessoria da Polícia Civil de SP.

Crime ocorreu na última sexta-feira, quando policiais de São Paulo foram presos após a morte de agente da Polícia Civil de JF (Foto: Fernando Priamo)

Jerônimo, o proprietário da empresa mencionado por Flávio, foi gravemente ferido no abdômen durante a troca de tiros, ocorrida no estacionamento terceirizado do Centro Médico Monte Sinai, na última sexta. Nesta terça (23), o paciente permanecia internado na UTI do Monte Sinai, em estado grave e sedado, porém estável, conforme a assessoria do hospital. Ele ainda não teve condições de prestar depoimento, mas responde por homicídio qualificado, porque teria disparado os tiros que tiraram a vida de Rodrigo Francisco, conhecido como Chicão.

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Já Flávio compareceu à Corregedoria de SP na segunda-feira após conseguir deixar Juiz de Fora na sexta em uma aeronave particular ou fretada com destino à capital paulista. Supostamente, ele teria levado os dólares que seriam trocados por reais em uma negociação ilegal entre dois grupos, realizada nos subterrâneos da Avenida Itamar Franco. Após o entrevero entre as duas forças, várias malas com R$ 14 milhões, a maioria em notas falsas, foram apreendidas dentro de um carro no estacionamento. Uma das suspeitas é de que o tiroteio teve início após a descoberta de que o dinheiro era falso. A Justiça decretou medida cautelar contra Flávio, proibindo sua saída do país.

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A assessoria da Polícia Civil paulista acrescentou que a Polícia Civil mineira ainda não enviou a carta precatória com a solicitação do depoimento de Flávio à Corregedoria. O órgão afirmou que “continua em contato constante com a Polícia Judiciária de Minas Gerais para auxiliar nos trabalhos realizados em Juiz de Fora”. “Todas as circunstâncias estão sendo apuradas em procedimento administrativo instaurado pela instituição e, se comprovados desvios de conduta, os policiais envolvidos responderão administrativa e criminalmente, de acordo com os atos praticados por cada um”, reafirmou.

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Presos
Os quatro policiais civis de São Paulo autuados em flagrante por lavagem de dinheiro permanecem presos no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte, segundo confirmou nesta terça a Secretaria de Estado de Administração Prisional. Os delegados paulistas Bruno Martins Magalhães Alves, 30, e Rodrigo Castro Salgado da Costa, 31, assim como os investigadores de SP Caio Augusto Freitas Ferreira de Lira, 36, e Jorge Alexandre Barbosa de Miranda, 50, tiveram as prisões preventivas decretadas pela Justiça após audiência de custódia, domingo, no Tribunal do Júri de Juiz de Fora.

Outros cinco policiais de SP identificados no esquema foram liberados, porque não estariam realizando a escolta no momento da negociação, mas também foram autuados por prevaricação, segundo a Justiça. São eles: o carcereiro Leandro Korey Kaetsu, 38, os agentes Cristhian Fernandes Ferreira, 44, e Cezar Raileanu, 47, os investigadores Marcelo Palotti de Almeida, 41, e Eduardo Alberto Modolo Filho, 31.

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Polícia Civil de Minas não se pronunciou nesta terça

A assessoria da Polícia Civil de Minas em Belo Horizonte disse não haver atualização sobre o caso nesta terça. Na segunda, a instituição declarou que a Corregedoria esteve no local na data dos fatos e irá abrir procedimento interno para apuração em relação à conduta dos três policiais civis de Minas que sobreviveram à troca de tiros: o escrivão Rafael Ramos dos Santos, 30, e os investigadores Leonardo Soares Siqueira, 43, e Marcelo Matolla de Resende, 45. Eles foram autuados por prevaricação e estão soltos, mas afastados dos serviços de rua. O crime, previsto no artigo 319 do Código Penal, estabelece detenção de três meses a um ano para quem “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

O chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, Carlos Roberto da Silveira, esclareceu que “eles deveriam ter explicado à chefia o que estariam fazendo no local, o que não foi feito”. Uma das hipóteses cogitadas, inclusive durante a audiência de custódia domingo no Fórum Benjamin Colucci, é de que, junto com Rodrigo Francisco, o grupo de policiais mineiros estaria fazendo a escolta do suposto estelionatário Antônio Vilela, 66, durante a negociação clandestina. Vilela é comerciante de Coronel Fabriciano (MG), no Vale do Aço, e seria responsável pelos R$ 14 milhões em notas falsas apreendidos. Ele também acabou ferido, com um tiro no pé, mas já teve alta médica no domingo e foi conduzido ao Ceresp, autuado em flagrante por tentativa de estelionato.

A tese sustentada pelo trio sobrevivente é de que, junto com Rodrigo, teriam ido até o local atender a uma denúncia de pessoas armadas. O inquérito em Juiz de Fora está nas mãos do delegado de Homicídios, Armando Avolio Neto, mas será remetido à Corregedoria em BH quando for concluído para que a transgressão disciplinar seja apurada. Caso a participação dos policiais seja comprovada, eles poderão ser punidos com advertência e até a perda do cargo.

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Ainda não foi esclarecida a participação o executivo Roberto Uyvare Júnior, que seria “dono de empresas situadas em França, Espanha e Brasil”, e do advogado Mário Garcia Júnior. Naquele dia, eles teriam saído da capital paulista junto com Flávio em um avião particular, acompanhados também de Jerônimo, que seria irmão do policial civil Jorge Alexandre e proprietário de empresa de segurança, e do delegado de SP Rodrigo Castro. Eles estariam juntos na negociação prévia milionária em um hotel próximo ao hospital, mas os destinos de Roberto e Mário após o tiroteio não foram informados. Possivelmente, deixaram a cidade junto com o doleiro na aeronave.

Já os outros oito policiais paulistas envolvidos, viajaram em dois automóveis alugados. Eles estariam fortemente armados, portando armas de grosso calibre, carregadores e muitas munições, além de radiocomunicadores e coletes à prova de balas. Outro homem não identificado, que estaria na operação clandestina, mas do lado de Antônio Vilela, também não foi encontrado. Os policiais paulistas disseram que, após os tiros, ele passou pelos policiais mineiros e, mesmo sendo apontado como envolvido, não teria sido detido pela polícia de Juiz de Fora. O homem misterioso seria intermediário da negociata e captador de clientes, no ramo imobiliário de imóveis rurais.

Ouvidoria de SP pede intervenção da Polícia Federal no caso

“(O que está em curso) é bem diferente de uma conduta extraoficial simples e corriqueira”, diz Mágino Alves, secretário de Segurança Pública de São Paulo (Foto: Gesp)

A Ouvidoria da Polícia Civil de São Paulo solicitou a intervenção da Polícia Federal na apuração das circunstâncias que resultaram no homicídio do policial mineiro Rodrigo Francisco.

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Na segunda-feira (22), o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves, havia afirmado que tratava os nove policiais civis paulistas, que se envolveram em um tiroteio com policiais mineiros em Juiz de Fora, como coautores dos crimes praticados na ação, incluindo a morte do policial civil juiz-forano Rodrigo Francisco, 39 anos. As informações são da Agência Estado.

Mágino Alves afirmou ainda que a apuração da Corregedoria vai além do fato de os agentes estarem fazendo trabalho extraoficial, do tipo “bico”, como seguranças privados. A iniciativa é vedada pela Lei Complementar 2007/79, que proíbe delegados e policiais civis de exercerem, “mesmo nas horas de folga, qualquer outro emprego ou função, exceto atividade relativa ao ensino e à difusão cultural, quando compatível com a atividade policial”.

“(O que está em curso) é bem diferente de uma conduta extraoficial simples e corriqueira. Todos nós assistimos à grande quantidade de dinheiro (R$ 14 milhões) que estava sendo transportada. Isso não permite dizer que era só um trabalho de acompanhamento, de escolta. Era um trabalho em coautoria com o crime que estava sendo cometido pelo particular”, declarou o secretário.

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