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Incêndios e fumaça afetam saúde e causam riscos à população de Juiz de Fora

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O alto número de incêndios que têm ocorrido em Juiz de Fora e na região têm impactado a população de Juiz de Fora. O tempo seco e a alta na temperatura são fatores facilitadores para esse tipo de ocorrência, que acaba prejudicando o ar da cidade e gerando riscos diversos para a população. Exemplo disso é o recente incêndio no Morro do Cristo, que teve início na terça-feira (20) e mobilizou os bombeiros até esta quinta (22). O fogo e a fumaça provenientes do incêndio impactaram não somente os bairros vizinhos, como também a região central da cidade.

Fernando Pessôa é morador do Centro e relatou ter ouvido os estalos da mata pegando fogo durante toda a noite. “Umas 18h30 eu desci para passear com meu cachorro e comecei a ouvir muito barulho de estalo. Quando minha mulher chegou em casa, uma hora depois, ela perguntou: ‘Que barulho é esse?’ Disse que era assustador.” Segundo o morador, o barulho continuou durante a noite. “Às vezes parecia que o barulho ia diminuir, e depois voltava a ficar muito forte. Nós ficamos assustados. Só parou no começo da madrugada”. Na manhã desta quinta-feira, o barulho decorrente do incêndio voltou a ser ouvido.

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Além do barulho, a fumaça também incomodou os moradores de diversas regiões da cidade. Camila Brasil, do Bairro Nossa Senhora de Fátima, na Região Oeste de Juiz de Fora, falou à Tribuna sobre a grande quantidade de fumaça na terça-feira. “Estava insuportável, horroroso. Minha respiração não existia mais, de verdade. Conversei com um motorista por aplicativo que me atendeu, e ele falou da fumaça e até ligou o ar condicionado, porque ele também estava ficando com muita dor de cabeça.”

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Ela só se deu conta de que a fumaça vinha do Morro do Cristo quando abriu o Instagram e viu uma postagem. “E aí a gente vê o impacto. A fumaça foi até o Bairro Nossa Senhora de Fátima. O fogo meio que deu uma volta, passou aqui nos bairros adjacentes todos”, relatou à Tribuna. Ela tinha saído de casa para um compromisso, mas ficou preocupada com seu gato de estimação e retornou para casa, sendo obrigada a enfrentar o mal-estar provocado pelo contato excessivo com a fumaça. “Quando eu cheguei em casa de novo, me deparei ainda com um cheiro de fumaça insuportável. Passei a madrugada respirando fumaça, sem falar na dor de cabeça e mal-estar. Fiquei nesse desespero de não conseguir respirar.”

Partículas de fumaça entram nos pulmões

A professora do Departamento de Internato da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, Arise Garcia de Siqueira Galil, explicou que o fogo leva à formação de partículas muito pequenas, que são capazes de entrar nos pulmões e atravessar as barreiras de proteção. Esse processo faz com que as partículas entrem rapidamente em contato com a corrente sanguínea, podendo fazer mal para a saúde. Essas partículas, quando em decorrência do incêndio, se formam em grande quantidade e de maneira muito abrupta, facilitando o acometimento tanto pulmonar quanto de vias aéreas superiores, garganta, faringe, laringe e os olhos, isso traz malefícios a saúde para pessoas de qualquer idade. As crianças e os idosos, porém, são os mais afetados. “Crianças vão ser muito afetadas, idosos que já têm uma saúde vulnerável serão muito afetados, mas, na verdade, o acometimento é para a grande maioria das pessoas.”

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Registro da mata do atingida pelas chamas na manhã desta quinta-feira, próximo ao Morro do Cristo (Foto: Divulgação / Corpo de Bombeiros)

A médica também explica que a fumaça produzida por incêndios possui grande quantidade de monóxido de carbono, o que atinge o sistema cardiovascular. “Essa fumaça tem uma grande quantidade de monóxido de carbono, que tem uma ação de vasoconstrição, ou seja, ele fecha os vasos. A nível cardiovascular, a gente vai ter um aumento da incidência de vasoespasmo do coração. As artérias se contraem, e isso pode ser uma vulnerabilidade maior para aquelas pessoas que já têm alguma doença cardíaca incipiente”. 

Por isso, a fumaça de queimadas e incêndios tem efeito semelhante à da fumaça do cigarro: afetam o coração e as artérias. “Só que a fumaça do cigarro vai gerar malefícios de uma forma lenta, crônica. Mas quando a gente tem uma queimada, é como se a gente pegasse os malefícios do cigarro e fizesse uma tempestade, ou seja, de uma forma muito mais grave.”

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Focos isolados ainda queimavam na mata na manhã desta quinta-feira (Foto: Leonardo Costa)

Prevenção

Especialistas recomendam evitar ao máximo o contato direto com a fumaça. Mas, se não for possível, a orientação é dar preferência a lugares arejados. “Aconselhamos evitar o contato direto com a fumaça, mas sabemos que, na prática, isso se torna muito difícil. Então, se possível, o ideal é ficar no ambiente mais arejado da casa. Quanto menos tempo sob a ação da fundação, menores serão os danos”, recomenda Arise, que também fala sobre a importância da implementação de medidas preventivas. “As comunidades, os gestores e as autoridades devem tentar ao máximo esclarecer a população sobre o porquê de se evitar as queimadas. Ter órgãos para proteger o ambiente também é de extrema importância”, completou. 

Aumento no número de incêndios

Nesta quinta, a Tribuna também noticiou sobre o aumento significativo do número de incêndios em relação ao mesmo período do ano passado. Somente neste ano, entre de 1º janeiro até 21 de agosto, foram registradas 781 ocorrências de incêndio em Juiz de Fora, número maior que o registrado durante todo o ano de 2020, em que foram registradas 637 ocorrências. 

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