
A necessidade do diálogo entre os equipamentos de combate a violência contra a mulher foi o ponto comum durante as discussões do “Fórum Violência contra a mulher: múltiplos olhares, desafios e perspectivas”, realizado nesta quarta-feira (22). Representantes de órgãos de segurança pública, assistência social, sociedade civil, serviços de saúde, entre outros, participaram de mesas e painéis no Teatro Paschoal Carlos Magno durante todo o dia, juntamente a dez mulheres com expertise na temática.
A mediação do evento foi feita pela secretária de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc), Letícia Delgado. De acordo com ela, a ideia do fórum era dar luz à abordagem da violência contra a mulher por múltiplos olhares, além de proporcionar reflexões e pensar estratégias para integrar toda a rede de enfrentamento, desde a Delegacia de Polícia Civil até a Casa da Mulher, para o debate de políticas públicas eficientes para Juiz de Fora.
Para além do debate, o objetivo também era proporcionar conhecimento para que as mulheres vítimas de violência no município sejam adequadamente atendidas. “Aqui também é um espaço para que as pessoas se conheçam e que a gente possa fomentar um debate que seja produtivo para nossa cidade”, disse Letícia.
A coordenadora da Casa da Mulher, Fernanda Moura, também ressaltou o viés informativo do evento. “Traçamos um panorama do que existe de rede de enfrentamento à violência em Juiz de Fora, e é uma forma de divulgar para quem está participando e não faz parte da rede, quais são os equipamentos que existem e uma forma de conhecer os mesmos.”
Diálogo para não ‘perder’ a vítima no processo
Um dos maiores desafios apontados no fórum é o acompanhamento às mulheres vítimas de violência em todos os processos, da denúncia à reabilitação. A delegada responsável pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Alessandra Azalim, afirmou que o diálogo entre as diferentes frentes pode ajudar a não “perder” a mulher no meio desse processo. “A delegacia de polícia é importante, é a primeira porta, mas nós precisamos ter um diálogo com toda a rede de enfrentamento. Se essa rede está fortalecida, a gente consegue empoderar essa mulher a sair da situação de violência doméstica.”
A opinião é compartilhada por Flávia Murta, chefe do 4° Departamento de Polícia Civil em Juiz de Fora. Para ela, é muito satisfatório ver que a preocupação com a segurança da mulher perpassa várias áreas.” Mais importante do que você querer fazer algo para combater a violência doméstica é você entender que esse trabalho tem que ser integrado.” A delegada aponta que ver várias autoridades, membros da sociedade civil e movimento sociais unidos, discutindo a temática, traz um conforto grande para as mulheres no geral, visto que há uma sensação de responsabilidade e certeza na intenção de se ter uma cidade mais segura.
‘Dados relevantes’
Membro do Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial e integrando do Movimeno Negro Unificado, Marilda Simeão ressaltou que a discussão de violência contra a mulher também deve ser uma discussão de raça, visto que as mulheres pretas são as que mais sofrem com esse tipo de agressão. “É excelente chamar a Guarda Municipal e os policiais, para ouvir o que as mulheres pensam e necessitam para continuarem vivas. […] Com dados relevantes e com propostas que a gente espera que virem realidade.”
Representantes de coletivos feministas também marcaram presença, como foi o caso de Leiliane Germano, do Fórum 8M. De acordo com ela, ter dados é importante para sistematizar o processo de combate à violência contra a mulher. “Agora, com o boletim (1º Boletim de Vigilância das Violências), a gente sabe quem são mulheres, de qual região, se elas estão procurando um equipamento e não outro. Com isso a gente consegue alinhar tanto os projetos de movimento social quanto as políticas públicas para que as mulheres que estão fora desses dados também possam ser atendidas.”
Mulheres são 76% das vítimas de violência notificadas pelo sistema de saúde
O Fórum realizado nesta quarta teve como objetivo apresentar dados do 1º Boletim de Vigilância das Violências, produzido pelas secretarias de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc) e de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), por meio do Observatório de Violência e Criminalidade. De acordo com o documento, os casos de violência contra a mulher são os mais notificados no sistema de saúde de Juiz de Fora. Das notificações de violência provocada por terceiros entre 2017 e 2021, 76,8% tiveram como pessoa atendida ou como vítima uma mulher.
Além da apresentação dos dados, foram realizadas duas mesas e dois painéis para tratar da temática vista por “diversos olhares”. Promovido pelas secretarias de Segurança Urbana e Cidadania, Saúde e Especial de Direitos Humanos, em parceria com as forças de segurança e instituições do sistema de justiça criminal, o fórum é parte integrante da programação da Prefeitura de Juiz de Fora, “Março, Mais Mulher, Mais Democracia”.