O carneiro estilizado fixado no portão de um dos galpões da Faculdade de Engenharia, próximo ao Restaurante Universitário, sinaliza o local onde foi idealizado e construído o carro baja, pertencente à equipe Rampage, que tem o animal como mascote. Formada por alunos das engenharias, bacharelado interdisciplinar em Ciências Exatas, Artes e Design e Economia da UFJF, a equipe se prepara para a etapa regional da Competição Baja SAE Brasil, que acontece em Piracicaba (SP). A Rampage disputa a competição com outras 33 equipes de universidades de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, prometendo surpreender os jurados com o protótipo do veículo e um projeto completo, resultado de um ano e meio de trabalho e dedicação.
A primeira fase da competição, que ocorre neste sábado (19), consiste na apresentação teórica dos projetos e na verificação dos veículos. Nela, os jurados vão avaliar itens de segurança, motor, conforto e frenagem. Depois, são realizadas as provas dinâmicas, envolvendo suspensão, capacidade de tração e dirigibilidade. No domingo (20), é a fase mais aguardada: o enduro de resistência, quando o carro é posto à prova em um circuito off-road. Esta prova tem quatro horas de duração. “O objetivo da equipe é passar por todas as etapas e chegar ao enduro”, destaca o capitão da Rampage, Otávio Arruda.
No ano passado, a equipe participou da competição pela primeira vez, mas teve problemas na fase estática e acabou não conseguindo disputar a dinâmica. Cientes dos erros cometidos, a Rampage passou por uma reformulação. Mesmo com poucos recursos, foram atrás de patrocínios e aproveitaram alguns subsistemas criados pela última equipe. “Usamos como ponto de partida e aprendizado. Já o chassi foi desenvolvido por membros da atual equipe, assim como o design e o powertrain do carro. Caminhamos, hoje, analisando como esses subsistemas respondem em testes, melhorando-os quando possível e já levantando requisitos para o próximo veículo que deve ser construído ano que vem”, destaca Otávio.
Os protótipos criados pelas equipes precisam, necessariamente, apresentar estrutura tubular em aço, monopostos para uso fora-de-estrada com quatro ou mais rodas e motor padrão de 10HP. Todos esses elementos têm que ser capazes de transportar pessoas com até 1,90 m de altura e peso de 113,4 kg. Os sistemas de suspensão, transmissão e freios, assim como o próprio chassi, também devem ser desenvolvidos pelas equipes. “Tudo é especificado, inclusive os tipos de aço e as espessuras de tubos. O foco é a segurança do piloto durante as provas. Nosso carro, por exemplo, é feito de aço 1020 com parede de 2mm. Nosso motor é um Briggs&Stratton com 305 cilindradas e 10HP de potência. Temos que levar nota fiscal e laudo técnico comprovando tudo”, explica o capitão.
O baja da Rampage funciona à base de gasolina e chega a uma velocidade de 50 km/h. Como é um carro voltado para off-road e pistas mais irregulares, não há necessidade de chegar a velocidades muito altas, uma vez que as mesmas podem contribui para agravar qualquer tipo de acidente com o veículo durante a competição, como um capotamento, por exemplo.
Mais que um carro, trabalho em equipe
Quem pensa que o maior desafio da Rampage foi construir o baja, engana-se. Para a equipe, manter o foco, o comprometimento e a dedicação foram essenciais para o trabalho. “O projeto demandou muito tempo dos membros e foi necessário aprender conceitos e técnicas por nossa conta, além de trabalhar em grupo, deixando egocentrismos de lado. Durante todo o processo, tivemos que correr atrás de serviços de corte, solda, usinagem e material para construir o protótipo. Se os membros não estiverem em sintonia, comprometidos em dar o melhor de si, o carro não sai de jeito nenhum”, afirma a gerente de gestão da Rampage, Brenda Felix.
Independente de qual carreira o estudante pretende seguir após terminar seu curso, ter passado pela experiência do baja, para Brenda, criou em cada um competências para encarar todo e qualquer tipo de situação. “O projeto é muito completo. Os conceitos e as técnicas que usamos ao longo do seu desenvolvimento nos capacitou para diversas situações da indústria em geral. Saímos do baja preparados para diversos desafios. Hoje é possível encontrar ex-bajeiros em cargos de liderança na indústria e no mercado, desenvolvendo soluções inovadoras e buscando mais resultados”, observa.
Sobre a competição
O programa Baja SAE Brasil é um desafio lançado aos estudantes de engenharia de todo o país para que eles possam aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, testar habilidades e se prepararem para o mercado de trabalho. O objetivo é desenvolver um veículo off-road, a partir da sua concepção, projeto, construção e testes. Essa iniciativa da SAE Brasil, associação que tem como objetivo promover atividades que envolvam o conhecimento e atualização tecnológica focada em inovações e tendências da mobilidade brasileira e internacional, culmina na Competição Baja SAE Brasil, que ocorre em três etapas regionais: Sul, Sudeste e Nordeste.
A etapa nacional acontece no primeiro semestre de 2018. Os vencedores da etapa nacional seguem para a etapa internacional, que acontece nos Estados Unidos. Foi na Universidade da Carolina do Sul que surgiu a primeira competição do Baja, em 1976, disputada no Deserto de Baja, na Califórnia. As competições no Brasil passaram a acontecer a partir de 1991, marcando o início das ações da SAE Brasil, que, em 1994, lançava o