Nas últimas semanas, a procura pela vacina contra a dengue aumentou em todo o Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC), entre setembro do ano passado e janeiro de 2024, houve crescimento de 709 para 4.923 no número de doses aplicadas. Em Juiz de Fora não foi diferente, as clínicas ouvidas pela reportagem afirmaram que a busca pelo imunizante disparou, tendo como público-alvo as crianças. Neste momento, no entanto, não há previsão de disponibilização de doses para o município pelo SUS, e a vacina também não é encontrada em consultórios da rede privada consultados pela Tribuna, inclusive sem previsão de chegada de novos imunizantes.
Nos cinco estabelecimentos consultados pela reportagem, localizados nas regiões Sul, Centro e Norte da cidade, alegaram não ter mais estoque da vacina. O imunizante Qdenga foi aprovado pela Anvisa e a aplicação é permitida em pessoas entre 4 e 60 anos. Desde o meio do ano passado, o produto já está disponível em clínicas particulares de Juiz de Fora. Conforme levantamento realizado pela Tribuna, o valor do imunizante variava entre R$ 420 a R$ 497 cada dose. A aplicação é feita em duas doses, com intervalo de três meses.
A aplicação do imunizante pelo Sistema Único de Saúde (SUS) teve início nesta semana em algumas regiões do país. O público-alvo da rede pública é a população entre 10 e 14 anos, faixa etária que concentra maior número de hospitalizações por dengue, atrás apenas dos idosos. Porém, não são todos os municípios que irão receber a vacina. O Ministério da Saúde determinou que a Qdenga será aplicada em 521 municípios com maiores incidências de dengue.
Apesar do elevado número de casos, Juiz de Fora ainda não foi incluída na lista. Segundo o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), a cidade tem 681 casos prováveis de dengue e outros 569 confirmados. Além disso, a primeira morte por suspeita da doença no município em 2024 está sendo investigada.
Fabricante diz que irá priorizar SUS
No início de fevereiro, a Takeda, responsável pela fabricação da Qdenga, afirmou que, com a inclusão da vacina no SUS por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), e os registros crescente da dengue no Brasil, “a empresa está concentrada em atender de forma prioritária ao Ministério da Saúde”. Com isso, novos contratos não serão realizados. A fabricante ainda esclareceu que a decisão ocorreu “para suprir e priorizar o quantitativo necessário para que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada completem seu esquema vacinal”.
A Takeda informou que garante a entrega de 6,6 milhões de doses este ano e o provisionamento de mais nove milhões de doses para 2025. Isso representa capacidade de fornecer imunização para 7,8 milhões de pessoas (duas doses para cada). A empresa ainda disse buscar soluções para aumentar o número de doses disponíveis no país. “A empresa está fortemente comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina.”
Escassez gera incerteza em relação à segunda dose
Uma leitora da Tribuna, que preferiu não ser identificada, manifestou sua preocupação com a falta de imunizantes. No início do mês, ela buscou pelo serviço particular motivada pelo aumento dos casos da doença e conseguiu se vacinar, mas agora teme não receber a segunda dose, que está prevista para o mês de maio. “Nunca tive a doença e também não tinha medo de ter. Mas, como esse ano muitas pessoas próximas começaram a ter, eu decidi tomar, por precaução”, explica.
A jovem, de 23 anos, procurou a clínica em que tomou o imunizante, e a informação recebida foi a de que a vacina está em falta. Porém, o próprio laboratório fornecedor garantiu, em comunicado divulgado no dia 5 de fevereiro, que iria entregar a quantidade de doses necessárias para aqueles que já receberam a primeira dose conseguirem ter a imunização completa com a segunda.
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