Ícone do site Tribuna de Minas

Cardiopatias continuam sendo principal causa de morte em JF

Cardiopatias Marcelo Camargo ABr
Em geral, conforme alertam profissionais de saúde, casos de doenças estão associados a fatores de risco importantes como pressão e colesterol altos (Marcelo Camargo/ABr)
PUBLICIDADE

No mês em que se dão o Dia Nacional da Saúde e o de Combate ao Colesterol Alto, lembrados em 6 e 8 de agosto, respectivamente, dados relacionados à saúde da população juiz-forana preocupam. Isso porque, as doenças associadas ao sistema circulatório continuam sendo as que mais matam em Juiz de Fora, desde 2013. De acordo com dados da Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora (SRS-JF), levantados a pedido da Tribuna, entre 2020 e agosto de 2023, foram 3.565 óbitos causados por estes distúrbios, número que representa cerca de 31% do número total de óbitos por doenças no período.

Já entre 2013 e 2018, foram registrados 5.987 mortes decorrentes de doenças associadas ao coração, conforme mostrou matéria publicada pela Tribuna em 2019. À época, o total no período representava cerca de 23% do número total de óbitos por doenças. Na ocasião, os dados foram cedidos pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) que, entretanto, não divulgou o balanço desta vez.

PUBLICIDADE

De acordo com dados da SRS-JF, portanto, só este ano Juiz de Fora já notificou quase 500 mortes causadas por cardiopatias. Entre elas, as mais prevalentes são a hipertensão essencial ou primária, que fez 80 vítimas este ano na cidade, e infarto agudo do miocárdio, que vitimou 77 pessoas. Insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC) também foram a causa da mortes de 51 e 36 pessoas, respectivamente, em 2023. Os dados referentes a este ano foram levantados até a última sexta-feira (11).

PUBLICIDADE

Tumores aparecem em segundo lugar

Conforme o levantamento disponibilizado pela SRS-JF, a partir do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, entre 2020 e 2022, o número de casos de óbitos por neoplasias (tumores) foi 2.386 – média de 795 casos por ano.

Já neste ano, as taxas parciais indicam que a média anual tende a se repetir, e que os tumores são a segunda causa de morte por doença na cidade. Até a última sexta, foram constatados 408 óbitos por doenças relacionadas ao aparecimento de tumores. Para a oncologista do OncoSinai, Christiane Meurer, a incidência e mortalidade precisa ser avaliada ao longo de um período, a partir das taxas.

PUBLICIDADE

No país, o quadro se repete, segundo observa a especialista. “As neoplasias seguem como segunda causa de morte atrás das doenças cardiovasculares no país”, explica. Sobre as causas que fazem os aparecimentos de tumores despontarem em segundo lugar tanto em Juiz de Fora quanto em todo o Brasil, ela revela que alguns aspectos devem ser levados em conta.

“O envelhecimento da população, assim como hábitos de vida estão relacionados com a ocorrência de neoplasias”, esclarece. Em estimativa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), sobre a incidência de câncer no Brasil, a entidade colheu dados que revelam que são esperados 704 mil novos casos para cada ano, a partir do triênio de 2023 a 2025.

PUBLICIDADE

Mais da metade desses casos se concentra nas regiões Sul e Sudeste. O diagnóstico não significa, porém, a letalidade. Por isso, a profissional da saúde reitera que o diagnóstico precoce é fundamental para a redução de risco, e que a prevenção passa pelo rastreamento da condição e hábitos saudáveis.

No levantamento disponibilizado pela SRS-JF, as doenças no aparelho respiratório, com 267 óbitos este ano, e doenças infecciosas e parasitária, 171 mortes em 2023, aparecem em seguida como as que mais levaram pessoa a óbito no município este ano.

Fatores de risco em alta

Semelhante ao cenário do município, no país, casos de morte por infarto vêm chamando atenção para o problema que atinge cada vez mais brasileiros. Em Juiz de Fora, entre 2020 e agosto deste ano, as mortes por infarto somam 546 e são a segunda causa de óbito relacionada ao aparelho circulatório. E, em muitos casos, conforme alertam profissionais de saúde, os casos não são espontâneos, mas decorrentes de fatores de risco importantes como, por exemplo, o colesterol.

PUBLICIDADE

Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), publicados pela Agência Brasil, no país, nos últimos seis anos, ocorreu um aumento de 25% de internações em decorrência de infarto. Índices elevados de colesterol LDL (considerado ruim) são um dos maiores responsáveis pela ocorrência dessa doença, configurando como um dos principais fatores de risco para a doença, segundo especialistas.

Silencioso e letal, o colesterol alto acomete, principalmente, pessoas com uma alimentação não saudável, idosos, mulheres no período pós-menopausa, homens e pessoas como a Suenya Sena Saffe que herdaram pela genética esse composto de gordura em excesso. Ela descobriu que tinha colesterol alto ainda na adolescência. Com 15 anos de idade, Suenya já enfrentava uma realidade em que alimentação saudável e exercícios não eram suficientes para frear sua condição.

Assim como ela, milhares de crianças e adolescentes são identificados com colesterol alto no Brasil. Segundo uma pesquisa da Escola de Enfermagem da UFMG, mais de um quarto das crianças e adolescentes possui colesterol alto e uma em cada cinco tem o que é considerado colesterol ruim, conforme os parâmetros usados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

PUBLICIDADE

Com o colesterol alto acometendo as pessoas cada vez mais em faixas etárias menores, a nutricionista Júlia Carneiro analisa que isso está atrelado a outros fatores, além de condições genéticas. “Muito tempo de telas em detrimento de brincadeiras que envolvam atividades físicas, não prestar atenção no que se come e grande quantidade de ultraprocessados”, elenca sobre hábitos que contribuem para o distúrbio.

Ainda que essas doenças estejam atingindo um público cada vez mais jovem, os dados da SRS-JF evidenciam que as principais vítimas são pessoas com idades acima dos 50 anos. Embora o colesterol seja visto como um grande vilão, ele é necessário para o funcionamento do corpo e só se torna prejudicial quando em taxas inadequadas. Neste caso, ele pode provocar o entupimento das artérias, ocasionando doenças como insuficiência renal, infarto, AVC, pressão alta e outros quadros de risco.

Saúde equilibrada

Na expectativa de encontrar um modo de vida mais saudável e com o colesterol equilibrado, muitas pessoas recorrem ao suplemento de Ômega 3, conta a chefe da cardiologia no Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ) e médica do Monte Sinai, Marselha Barral. Entretanto, estudos evidenciaram a ausência dos benefícios procurados para redução do colesterol na substância.

Para desmistificar elementos milagrosos como esse, Marselha Barral apresentou outras formas de colocar a saúde em dia. “Adotar uma dieta adequada evitando alimentos gordurosos, principalmente com gordura de origem animal. Nesse contexto, também se enquadram alimentação processada, porque ela tem uma série de conservantes que prejudica a saúde e o metabolismo do organismo”, explica a médica.

A alimentação saudável aliada à atividade física faz com que o indivíduo tenha uma melhor circulação. Deste modo, esses hábitos fazem com que o organismo melhore como um todo. Para a nutricionista Júlia Carneiro, outro aspecto deve ser difundido sobre a dieta de quem tem colesterol alto.

“Se trata mais de acrescentar os alimentos no planejamento alimentar do que retirar (da dieta)”, indica a profissional. Segundo ela, é certo que alimentos industrializados, que possuem uma grande quantidade de gordura saturada e açúcares em sua composição, precisam ser substituídos. “Principalmente por comidas como azeite, castanhas, berinjela e frutas como o abacate. No caso do abacate, por exemplo, ele possui bastante gordura (considerada boa), ainda sim ele é um alimento protetor cardiovascular. Então temos que pensar na diferença entre as gorduras”, explica.

Outros alimentos que devem ser acrescentados na dieta são frutas vermelhas como maçã, morango, uvas e leguminosas, como feijões e soja. “Além disso, se tornam indispensáveis uma fonte de fibras em todas as refeições, como gergelim, linhaça, psyllium, chia ou preparações que contém algum desses ingredientes” explica, Júlia Carneiro, sobre o planejamento alimentar que envia a pacientes com a condição.

Aposta continua sendo a prevenção

Na perspectiva da nutricionista, a prevenção continua sendo a melhor forma de lidar com as doenças do aparelho circulatório. Entretanto, aspectos do cotidiano como pressa e estresse dificultam o cuidado com a saúde. Para além de reconhecer as dificuldades impostas pelo cotidiano, a falta de letramento em nutrição pela população também aparece como um obstáculo na prevenção à doenças cardiovasculares. A solução proposta por Júlia parte da necessidade de aumentar ações governamentais voltadas à conscientização.

Na esfera municipal, a PJF afirmou que vem realizando, “com frequência”, atividades de educação em saúde. Inclusive, em alusão ao Dia Nacional da Saúde, o Executivo informou ter feito uma ação nesse sentido. “Onde os cidadãos receberam diversas orientações e puderam realizar aferição de pressão e glicemia, dentre outros serviços”, apontou em nota.

Sair da versão mobile