A falta de produtos do Programa de Nutrição Enteral e Oral (PMNEO) do Município é um problema que vem dificultando a situação de usuários que dependem da assistência no fornecimento da dieta e fraldas geriátricas feito por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Como é o caso de Marcia Helena de Almeida, 51, que precisa da dieta enteral de 1.5 e da fralda de tamanho G para o seu filho, Rian, de 16 anos, que sofre com microcefalia e paralisia cerebral, e depende da assistência do programa para repor os nutrientes.
No entanto, de acordo com Marcia, há cerca de 20 dias que a dieta enteral e a fralda estão em falta no PMNEO. Em janeiro, a Tribuna produziu uma reportagem sobre denúncias de dificuldades de acesso à assistência alimentar, por falta de nutricionistas e dieta enteral. Pelos relatos colhidos para a reportagem, a situação de falta dos itens é recorrente no programa, ocasionando problemas financeiros para os que dependem da nutrição e dos outros produtos.
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Em nota, a Secretaria de Saúde informou que a dieta de 1.5 já foi adquirida e a previsão de chegada é até dia 24 de abril. Já a entrega das fraldas G é aguardada por parte da empresa contratada, com previsão de chegada até a próxima sexta-feira (19). A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) também comunicou que a situação com os nutricionistas já foi regularizada, agora o serviço conta com três nutricionistas e duas assistentes sociais. Perguntada sobre o motivo da falta dos itens, a PJF não respondeu.
Custo da dieta para as famílias
Em média, a caixa do alimento da dieta enteral custa R$ 35 nas farmácias. Rian faz uso de uma por dia, conforme Marcia Helena. Isso totaliza um gasto de R$1.050 mensalmente quando o produto falta no programa de nutrição. Atualmente, ela tem preparado para o filho a versão artesanal, a partir de legumes e carne, uma vez que não tem condições para arcar com o produto. Contudo, os médicos informam que a mistura não é o suficiente para repor todos os nutrientes, o que pode acarretar em perda de peso e diminuição da imunidade, podendo aumentar os riscos de problemas de saúde, como infecções.
Fralda
Já em relação às fraldas, o preço varia de R$ 20 a R$ 80. Uma leitora, que preferiu não ser identificada, também relatou dificuldade em conseguir as fraldas, que, segundo ela, ainda não têm uma qualidade boa e acabam permitindo muito vazamento de urina. Por causa do material, ela coloca duas fraldas no filho, que tem hidrocefalia e paralisia cerebral, devido a problemas decorrentes da meningite, mas esta segunda precisa ser adquirida fora do programa, em farmácias populares. “Pelo programa eu pego 120 fraldas, mas compro a mesma quantidade na farmácia para não vazar.”
A cuidadora pegaria o produto no programa no dia 8 de abril, mas, ao chegar ao local, foi avisada que não havia fraldas no tamanho G. Desse modo, ela contou que precisou comprar o valor total na farmácia, totalizando cinco pacotes com oito unidades cada, que ficou em torno de R$ 100, o que pode não ser o suficiente para durar o mês. A leitora já participa do programa há cerca de dez anos, mas precisou parar por dois anos porque o PMNEO não ofertava tamanhos de fraldas entre XG infantil e P adulto, e seu filho por esse período precisava do tamanho XXG. De acordo com ela, em outras vezes o produto chegou a faltar por mais de 30 dias.
Terapia nutricional
A terapia nutricional, conforme a Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional no Paciente Grave, tem como objetivo principal garantir a adequada nutrição do paciente, considerando suas necessidades específicas e as condições impostas pela doença. A nutricionista especialista em terapia nutricional, nutrição clínica e desportiva Natália Rodrigues Gonçalves, 33, explica que isso inclui a manutenção ou melhoria do estado nutricional, suporte à função imunológica, otimização da recuperação e minimização dos efeitos negativos da doença sobre o corpo, o que reforça a importância de um acompanhamento médico.
A nutrição enteral, que envolve a alimentação direta no estômago ou intestino através de uma sonda, é uma das formas de nutrição. De acordo com Natália, essa forma é mais fisiológica, geralmente mais segura e menos custosa do que a nutrição parenteral, a qual é administrada diretamente na corrente sanguínea. Esta é considerada mais invasiva e associada a maiores riscos de complicações, como infecções, sendo indicada quando a nutrição enteral não é possível ou suficiente, especialmente em pacientes graves em contexto de internação em terapia intensiva ou pós-operatórios específicos de cirurgias gastrointestinais.
Segundo a especialista, a nutrição inadequada pode ter múltiplas consequências negativas para a saúde, o que inclui desnutrição, com sintomas como perda de peso, fraqueza muscular e deficiências nutricionais. Também aumenta o risco de osteoporose e fraturas ósseas, compromete o sistema imunológico, levando a uma maior suscetibilidade a infecções e atraso do processo de cicatrização. “Além disso, a má nutrição pode impactar negativamente a função cognitiva, o que é particularmente problemático em doenças neurodegenerativas”, ressalta Natália.
*Estagiária sob a supervisão do editor Wendell Guiducci.