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Tráfico de drogas e violência contra a mulher são os crimes com maior incidência em Juiz de Fora e região

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Delegado Eurico Cunha Neto em entrevista à Rádio Transamérica (Foto: Reprodução)
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Ao longo do ano passado, 235 operações policiais foram deflagradas na 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp) de Juiz de Fora. Os dados, obtidos com exclusividade pela Tribuna por meio do relatório da Polícia Civil, revelam que o tráfico de drogas e a violência contra a mulher foram os crimes de maior incidência na Zona da Mata Mineira. A informação também foi destacada pelo delegado regional Eurico Cunha Neto em entrevista à Rádio Transamérica.

Ainda que cidades maiores apresentem características diferentes quanto à criminalidade, o perfil semelhante dos crimes de Juiz de Fora com os demais municípios da região mostra o tráfico de drogas como um problema já estabelecido e, portanto, um desafio para a segurança pública. Da mesma forma, as taxas de violência contra a mulher fizeram com que as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM) das redondezas realizassem mutirões para receber denúncias.

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Um dos casos de destaque no decorrer do último ano foi a Operação Tribunal do Crime, desempenhada após um homem denunciar que a namorada havia sido sequestrada por traficantes que exigiam que uma dívida de drogas fosse quitada.  Durante as diligências, foi descoberto uma célula criminosa, com atuação no Bairro Borboleta, na Cidade Alta, que executava punições brutais conforme sua própria lei.

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A busca por desmantelar o esquema reuniu vários policiais e repercutiu no cumprimento de mandados de prisão.  A reportagem questionou o delegado Cunha se, após a desarticulação dessa células do Tribunal do Crime na cidade, a prática foi eliminada ou se há outras ramificações. A resposta foi direta quanto ao fato de não poder eliminar qualquer possibilidade de novas células estarem instauradas em Juiz de Fora e região. 

Isso porque, conforme explica o delegado, é complexo delimitar o que existe ou não em uma organização que tem em seu “regimento” à sombra do estado, da lei e do governo. “A gente sempre tem que trabalhar porque o crime não tem limite, sempre buscando o lucro e o domínio de área. Então, não gostaria de eliminar nenhuma possibilidade [do tribunal do crime ainda ter células na cidade]. Nós vamos investigar essas ações e, caso existam, combatê-las”, finaliza o delegado.

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Estratégia é tirar dinheiro do tráfico

No último ano, também foram executados 517 mandados de prisão e 297 prisões em flagrante, conforme o relatório.  Os números são um reflexo da ação contra diversos crimes, mas é aqueles relativos ao tráfico que o delegado se debruça. Segundo ele, a intenção da Polícia Civil foi utilizar o serviço de inteligência como alicerce para desmantelar o motor das organizações criminosas, que é o dinheiro.

“O objetivo não era apreender armas e drogas, a intenção principal era tirar o dinheiro dos chefes do crime e das pessoas que mexem com isso”, explica sobre algumas das operações desempenhadas na região pela corporação. O tráfico, conforme seu diagnóstico, é sempre de grande preocupação e relevância, por isso, algumas ações passaram a ter como diferencial desmantelar a lavagem de dinheiro. “Quando você pega drogas, armas, mas, principalmente, o dinheiro, você abala o crime”, diz o delegado.

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A afirmativa que centraliza as operações em tirar o dinheiro do tráfico, em vez de se pautar somente em apreensões, é considerada uma ação efetiva, de acordo com a analise do coordenador do Núcleo de Estudos de Violência e Direitos Humanos (NEVIDH), Paulo Fraga. Essa é uma ação mais importante, já que a longo e medio prazo pode enfraquecer o tráfico de drogas ou quadrilhas que atuam na cidade, além de ser mais efetivo do que as próprias apreensões”, observa o pesquisador.

Isso porque, embora as apreensões possam simbolizar prejuízos para as organizações criminosas, não é possível verificar a dimensão da quantidade apreendida em relação ao total e, segundo ele, pequenas quantidades não enfraquecem essas facções. “Tem um caso bem famoso contra os cartéis mexicanos em que havia toda a repreensão na fronteira com os Estados Unidos. Mas os cartéis já deixavam como o preço final da própria droga aquilo que era perdido (apreendido)”, explica Fraga. Isto é, dentro do preço da droga, uma parte precificada já considerava a perda que, eventualmente, acontecia no processo e entrava no preço final da droga que era negociada. 

Ainda conforme essa lógica, o valor que as organizações perdem com algumas apreensões pode ser absorvida pelo preço final do produto, de forma que não enfraquece, de fato, o tráfico. “Então, o bloqueio de contas e o impedimento que o dinheiro circule são colocados como um trabalho de inteligência muito mais importante do que a mera apreensão. A polícia está fazendo um trabalho importante”, pontua Fraga.

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‘Gostaríamos de uma justiça mais rápida’, diz delegado

Em 2024, a Polícia Civil instaurou 7.873 procedimentos na região. Embora o número não represente diretamente prisões, reflete o volume de investigações em andamento, que avançam conforme cada caso. Após a confecção do boletim de ocorrência, cabe à vítima ou ao advogado formalizar a queixa-crime para que a investigação prossiga. Durante o processo investigativo, a polícia pode ou não optar pelo indiciamento do suspeito, dependendo das provas colhidas. Caso o indiciamento ocorra, o caso é encaminhado ao Ministério Público, que pode decidir entre arquivar, devolver o processo à delegacia para complementação ou apresentar denúncia à Justiça.

Embora o relatório não apresente dados sobre quantos indiciamentos resultaram em denúncias aceitas, o delegado regional Eurico Cunha Neto observa a sobrecarga do sistema. “A gente sabe que a Justiça está abarrotada de processos, assim como a Polícia Civil de investigações e as cadeias de presos. O sistema anda na velocidade que ele consegue andar, embora gostaríamos que fosse mais rápido.”

Ele ressalta que nem todas as investigações resultam em prisão, já que há outras formas de punição. “Nosso principal foco são os crimes violentos”, afirma, destacando o sucesso de operações importantes realizadas ao longo do ano, fruto de aberturas de inquéritos mais aprofundados.

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