O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atende, em média, um caso de engasgo a cada três dias nos 147 municípios da macrorregião Sudeste e Leste do Sul de Minas, que compreende a área de atuação do Cisdeste. O número representa uma realidade preocupante. Só na última semana, em Juiz de Fora, duas idosas de 60 e 78 anos foram atendidas pelo Samu, após engasgarem com um pedaço de alimento. As duas senhoras acabaram falecendo no dia seguinte aos acidentes.
Este ano, foram contabilizados 20 casos de sufocamento durante a deglutição em Juiz de Fora. Os dados referem-se ao acumulado do ano até a última sexta-feira (5). Em todo o ano passado, foram 42 registros na cidade. O diretor técnico do Samu Cisdeste, Homero Calderaro, revela que esse quadro chama atenção, uma vez que essas situações poderiam ser evitadas.
O médico explica que os 200 casos de engasgo contabilizados na área de abrangência do Cisdeste em 2023 seguem a faixa etária preponderante neste tipo de ocorrência: lactentes (recém-nascidos que estão em aleitamento) e idosos. Embora a linha de frente seja constituída pela prevenção é importante que um segundo passo seja dado caso a situação ocorra. “Caso o paciente tenha condição, deve-se pedir pra ele tossir. A tosse ajuda a expelir o objeto que está obstruindo. Caso não consiga tossir, podemos fazer a manobra de Heimlich, para desobstrução de via aérea”, esclarece o diretor técnico do Samu.
Idosos devem redobrar a atenção
A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia reitera que os idosos são um dos grupos de maior risco de engasgos. A atenção deve ser redobrada, principalmente com aqueles que têm problemas de deglutição, distúrbios neurológicos ou que façam uso de medicações sedativas.
Pessoas nesses quadros estão mais suscetíveis a ocorrências de sufocamento por comida. Portanto, o tipo do alimento e o tamanho influenciam na digestão. O Serviço de Saúde do Idoso, que presta atendimento integrado ao CEAE/Acispes, procura fazer avaliação dos riscos de engasgo junto aos pacientes. O fonoaudiólogo foi inserido a uma equipe multidisciplinar, com a finalidade de realizar a identificação prévia de disfagia nos idosos. Caso algum caso seja identificado, são feitas orientações específicas, inclusive de exercícios para cada paciente.
O fonoaudiólogo Ayslan Melo esclarece que o engasgo pode ocorrer em todas as idades. A diminuição da força muscular, a mudança de postura e a perda de elasticidade dos tecidos, típicas do envelhecimento, corroboram para esse tipo de acidente. Frente a essa realidade, o médico montou uma lista, com dicas, para evitar este tipo de acidente (ver abaixo).
Refluxo com leite materno
O refluxo com leite materno é a principal causa de engasgo em crianças, aponta o diretor técnico do Samu. A pediatra Mariângela Duarte explica que o recém-nascido possui o sistema neurológico imaturo, fazendo com que, muitas vezes, eles engulam de maneira descoordenada com a respiração. Por isso, é importante que a família se informe sobre como amamentar, em que posição colocar o bebê e observar, enquanto ele mama, se a criança possui excesso de leite na boca. A cabeça elevada durante o aleitamento é uma das formas de aumentar a segurança. Após o aleitamento, o recomendado é que ele fique na posição vertical de 15 a 20 minutos para arrotar.
Nos casos de engasgo, a médica destaca que é preciso saber para qual procedimento recorrer. “Você precisa tirar da boquinha do bebe o excesso de leite ou alimento”, alerta a médica. Uma das manobras possíveis é realizar respiração boca a boca e assoprar.
Dicas para evitar engasgos
Mastigue devagar e cuidadosamente. Comer rápido ou engolir grandes pedaços de comida pode aumentar o risco de engasgos.
Beba água durante as refeições. Isso ajuda a lubrificar a garganta e facilita a deglutição.
Evite alimentos difíceis de mastigar, como carnes duras e frutas com caroços grandes.
Corte alimentos em pedaços pequenos e fáceis de engolir.
Evite falar ou rir com a boca cheia de comida.
Certifique-se de que as próteses dentárias estejam bem ajustadas e limpas.
Evite beber álcool ou fumar, pois isso pode prejudicar a função muscular e aumentar o risco de engasgos.
Evite alimentos mais secos como farofas e biscoitos.
Fique atento a sinais de dificuldade para engolir, como tosse, engasgos frequentes, perda de peso e dor ao engolir.
Com estas dicas simples, é possível prevenir engasgos e proteger a saúde especialmente dos idosos. É importante lembrar que, se ocorrer um engasgo, é necessário agir rapidamente para evitar complicações. Caso o objeto ou alimento fique preso na garganta e a pessoa não consiga respirar, é importante chamar ajuda imediatamente.