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Especialistas propõem ações para mitigar os impactos da poluição do Rio Paraibuna

Paraibuna
Paraibuna 2 Felipe Couri
(Foto: Felipe Couri)
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Na sexta-feira (9), a Tribuna expôs um problema antigo do município: a poluição do Rio Paraibuna e as consequências na saúde dos animais que vivem no curso d’água e ao seu redor. Há pouco mais de dez anos, Juiz de Fora conta com um projeto de despoluição do Paraibuna, que prevê a instalação de cerca de 40 quilômetros de extensão de redes de esgoto às margens do curso d’água e dos principais córregos: Tapera, Matirumbide, Yung, Santa Luzia e São Pedro. Hoje, a cidade trata cerca de 40% do esgoto e a expectativa é de que este número aumente com as obras. No entanto, para além do tratamento de esgoto, especialistas entrevistados pela reportagem apontam que é necessário investir em outras ações para mitigar os impactos da poluição do Rio Paraibuna a curto prazo. 

Uso e ocupação da Bacia do Rio Paraibuna 

Levantamento feito pelo pesquisador Roberto Marques Neto levantou dados fundamentais para compreender a situação do Paraibuna e traçar possibilidades de atuação (Foto: Caique Cahon/UFJF)

A atual situação que o rio enfrenta está ligada ao processo histórico do crescimento da cidade. Entre 1840 e 1880, Juiz de Fora viveu o avanço do plantio do café, das agropecuária e do desenvolvimento urbano-industrial que resultaram no desmatamento de grande parte da Mata Atlântica e na contaminação das águas do Paraibuna. O aumento da população, a ausência de tratamento de esgoto por um longo período, e o uso desordenado do entorno do rio também colaboraram para os atuais problemas relacionados à poluição do curso d’água. 

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O professor do Departamento de Geociências do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Roberto Marques Neto, desenvolveu, em 2016, um mapeamento de geossistemas na bacia do rio Paraibuna, com foco nas características da base geológica, relevo, solos, hidrografia, cobertura vegetal e uso antrópico da terra. Com o trabalho, foi possível compreender a complexidade da bacia e identificar as diferentes unidades integradas de terra, o que é fundamental para a elaboração de aptidões e restrições do seu uso. 

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O pesquisador explica que o uso e ocupação indevida da terra pode influenciar diretamente na contaminação das águas. “Produtos químicos como fertilizantes e defensivos agrícolas podem ser transportados com os solos erodidos e atingirem os rios, alterando a água em seus aspectos físicos e químicos.” Por isso, o geógrafo reforça a importância da adoção de práticas de manejo de cunho conservacionista, como a manutenção de áreas de preservação permanente (APP’s), principalmente as matas que margeiam o rio. Roberto explica que, sem essa proteção florestal, os materiais transportados sobre as encostas atingem as águas com maior facilidade e em quantidades maiores. 

“É claro que as atividades rurais também devem aderir à práticas conservacionistas voltadas para a conservação dos solos, como o plantio em curvas de nível e a rotação de pastagens, essa última de grande valia para atenuar os efeitos do pisoteio do gado sobre o solo”, diz o professor. 

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O zoneamento é uma das ferramentas mais usadas no planejamento ambiental. O conceito ajuda a entender e definir as potencialidades e limitações de uso do solo. Com esse mecanismo, é possível estabelecer uma área de conservação ambiental, ainda mais no caso do rio Paraibuna, que sofre com o desmatamento e uso intenso do seu solo há séculos, desde a época do Ciclo do Ouro do Brasil colonial. O zoneamento proposto no trabalho do pesquisador tem o objetivo de promover a organização do espaço e auxiliar o ordenamento do uso da terra, contendo assim processos erosivos e perda de solos que poderiam ser usados para agricultura.  

Embora as estratégias para ordenar o uso e ocupação do solo sejam fundamentais, o professor ressalta que tais ações precisam estar associadas ao tratamento de esgoto da forma mais abrangente possível. Segundo Roberto, o alto número de habitantes na cidade faz com que o lançamento de águas provenientes do uso doméstico e industrial seja o principal responsável pela contaminação das águas. “Os processos de despoluição normalmente não se encerram em medidas isoladas, devendo haver um consórcio funcional entre medidas não estruturais e preventivas e intervenções de ordem estrutural, estas voltadas para o tratamento do esgoto doméstico e industrial.” 

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Ações imediatas e resultados a curto prazo 

A doutoranda em Biodiversidade e Conservação da Natureza na UFJF Layla Mayer Fonseca estuda os impactos humanos de atividades econômicas sobre os ambientes aquáticos, principalmente em rios como o Paraibuna. Ela aponta que existem ações que podem ser implantadas para trazer alívio imediato para os animais afetados, além de contribuírem para começar a reduzir os níveis de poluição visível. Ao mesmo tempo, esforços de longo prazo podem e devem continuar a ser desenvolvidos. Layla, que também atua como professora de Ciências na Escola Municipal Santa Cândida, reforça que para que as iniciativas propostas abaixo sejam colocadas em prática de maneira eficaz e contínua, é essencial que a comunidade e as autoridades trabalhem juntas. 

Confira as ações propostas abaixo: 

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