Em Juiz de Fora, o uso de máscara em locais abertos não é mais obrigatório desde a última segunda-feira (7), quando a Prefeitura anunciou o avanço do município para a etapa III do Juiz de Fora Viva, programa que estabelece regras e protocolos para o enfrentamento à pandemia da Covid-19 na cidade. A medida se deu em razão de a cidade alcançar 85% da população vacinada com duas doses – o que já era previsto pelo programa municipal. Na esteira das liberações, que ocorreram também em outros estados do país, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) anunciou que vai orientar, a partir de sábado, que os municípios desobriguem a utilização das máscaras em locais abertos. A decisão divide a opinião de autoridades em saúde e especialistas na área e tem encontrado resistência entre os juiz-foranos.
Nesta semana, a Tribuna esteve nas principais ruas da cidade e ouviu a opinião das pessoas sobre a nova decisão. A maioria ainda sente-se insegura de abrir mão do uso de máscaras, mesmo em ambientes abertos, como feiras, ruas e parques. O uso deste tipo de equipamento de proteção individual (EPI) é uma das importantes medidas para evitar a proliferação e o contágio pelo coronavírus, principalmente quando são utilizados modelos mais resistentes como a PFF2, de modo adequado: cobrindo toda área da boca e nariz.
As possíveis implicações das aglomerações ocorridas durante o carnaval são motivo de preocupação para a empregada doméstica Debora Meria Peixoto, 43. “Não me sinto segura, principalmente, agora, depois do carnaval. A gente viu que depois do Ano Novo tivemos um grande aumento de casos de Covid-19, então tenho receio de voltar a aumentar novamente”, diz Debora, que também afirma ter visto muitas pessoas transitarem pelas ruas da cidade ainda com as máscaras.
As consequências pós-folia também são levadas em consideração pela cozinheira Cristiane Santos de Santana, 37. “Ainda acho que não é o momento de tirar as máscaras, estou apreensiva após o carnaval. Eu também ainda não tomei a terceira dose da vacina e não acredito que apenas duas doses dão uma boa eficácia contra o vírus”, diz. A técnica de enfermagem Adriana Aparecida Espinosa, 49, moradora do município de Pedro Teixeira, distante cerca de 60 quilômetros de Juiz de Fora, também não aprovou a medida adotada no município. “Eu vim até a cidade para fazer alguns exames e soube da decisão, mas como profissional de saúde sei da importância de usar máscaras. Mesmo que o Estado defina que não precisa mais usar em todas as cidades, eu ainda irei utilizar máscaras por muito tempo e recomendo que as pessoas usem. Não acho seguro deixar de usá-la mesmo em locais abertos”.
Ainda que o local seja aberto, o porteiro Eduardo Martins, 42, analisa que há muitas aglomerações e contato próximo entre as pessoas. “No Calçadão ou no Centro da cidade, por exemplo, você esbarra com muitas pessoas, tem muito contato, o que é um risco. Então, eu continuo usando máscara porque não tenho a segurança de que não vou pegar o vírus. Só vou me sentir seguro quando todo mundo tiver vacinado com todas as doses e os números bem baixos e estáveis”.
A bordadeira Janis Salgado Fernandes, 26, acredita que o usar máscaras, mesmo em espaços abertos, ainda é uma medida individual que as pessoas podem ter para evitar ou diminuir o contágio. “Mesmo com essa orientação, acho que individualmente podemos fazer essa ação. Se eu ainda posso usar máscaras e evitar a transmissão (do vírus), por que não vou fazer?”.
Já a empregada doméstica Denilda de Araújo Mendes, 54, deixou de usar máscaras enquanto transita pelas ruas. “Eu ficou tranquila em ambiente abertos, mas não deixo de usar em locais fechados”, garante, mostrando a máscara em uma das mãos enquanto espera o ônibus. O comerciante Roberto Carlos Pereira, 53, também não vê problema em não usar o EPI em locais abertos e com ventilação natural. “Eu acho mais tranquilo do que, por exemplo, quando vamos a um restaurante, chegamos com máscaras e tiramos para comer ou beber. Ali é um ambiente fechado, a distância entre as pessoas é bem menor do que nas ruas e outros locais abertos” argumenta. O comerciante, entretanto, garante que faz uso da máscara em todos os ambientes fechados.
Cenário epidemiológico ainda é instável
Embora o mês de março tenha sinalizado queda dos índices epidemiológicos, fevereiro teve piora das taxas. Como mostrou matéria publicada pela Tribuna na última terça, o mês passado teve o maior quantitativo de óbitos atestados desde junho do ano passado, quando o município contabilizou 132 mortes. Entre 1° e 28 de fevereiro deste ano, Juiz de Fora perdeu 102 de seus moradores para a doença, o que representa a média de 3,5 óbitos por dia. Em 2021, o número de falecimentos contabilizados em fevereiro foi de 96. O levantamento feito pela reportagem considerou os falecimentos com base nas datas de ocorrência e não de confirmação da morte, e foi atualizado até esta quinta-feira.
Além disso, o início do mês de fevereiro mostrou piora no número de internações decorrentes da Covid-19, que já vinha crescendo desde janeiro. Entretanto, ao longo do mês, o número de hospitalizações causadas pela doença caiu. Matéria publicada pela Tribuna no fim do mês passado mostrou que houve redução de 44% do número total de pessoas internadas com a Covid-19, em comparação com ao início de fevereiro. Nesta primeira semana de março, o número de internados com coronavírus se mantem estável, com ligeira queda registrada nesta quarta-feira. Apesar da diminuição, o infectologista Mário Novaes acredita que a situação ainda seja de alerta. “Ainda é um momento que precisamos ter cuidado. Há um receio de um rebote daqui a 15 dias mais ou menos, por conta do carnaval, quando o número de aglomerações foi muito alto. Temos que ficar apreensivos com o número de internados daqui a algumas semanas, porque, normalmente, há o período de incubação, até o surgimento da doença. Isso demora em torno de três semanas mais ou menos”, lembrou o médico
Estado diz que desobrigação tem caráter de recomendação
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) passa a orientar, a partir de sábado, que os municípios desobriguem a utilização das máscaras em locais abertos. A medida da pasta estadual tem caráter de recomendação, uma vez que as cidades têm autonomia para definir as diretrizes do combate à pandemia em cada localidade. A secretaria também passa a orientar o fim da exigência do material de proteção mesmo em locais fechados a municípios que atingirem 80% da população vacinada com duas doses e 70% de vacinados com a dose de reforço.
Segundo o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, o contexto atual da evolução da pandemia em Minas Gerais aponta para a diminuição da incidência da Covid-19. A projeção da pasta é que o estado alcance o menor patamar de casos desde o início da pandemia daqui a duas semanas, acompanhado por quedas nos números de óbitos e na demanda.
“Diante desse cenário de projeção de queda de casos nos próximos dias, diante do fato de que estamos há mais de seis meses em onda verde, com todos os indicadores controlados. A recomendação do Estado é que cada município possa desobrigar o uso de máscaras em locais abertos a partir de sábado”, anuncia Baccheretti. “Os municípios têm sua autonomia, mas a equipe técnica da secretaria (…) recomenda de que não seja obrigatório o uso de máscaras em locais abertos.”
Como os municípios possuem autonomia para definir as medidas de enfrentamento à pandemia, algumas cidades já flexibilizaram o uso da máscara. É o caso de Juiz de Fora, que, na última segunda-feira (7), desobrigou a utilização do item em ambientes abertos. A flexibilização aconteceu após a cidade alcançar a etapa 3 do programa Juiz de Fora Viva, com 85% de pessoas vacinadas com a segunda dose.
O cenário também faz com que a SES-MG vislumbre a desobrigação completa do uso de máscaras, mesmo em local fechado. “Cada município que tiver completado com duas doses mais de 80% da vacinação e atingir 70% do reforço, o uso de máscara passa a ser facultativo com orientação do estado”, diz Baccheretti, afirmando que, atualmente, nenhum município alcançou esse patamar de vacinação. “Hoje, o estado, em geral, tem 45% de reforço aplicado, mas tem município com 65%, e outros com menos de 40%”.
De acordo com o Estado, Minas tem doses de vacinas disponíveis para seguir o calendário de imunização de crianças de 5 a 11 anos e continuar atendendo às doses de reforço dos adultos. Apesar de orientar o fim da exigência, o secretário encorajou determinados grupos a continuarem utilizando as máscaras. “Aquelas pessoas que estejam com sintomas gripais, aquelas mais vulneráveis e aquelas que se sentem mais seguras com máscara, não se sintam constrangidos em usar a máscara (…). A desobrigação não significa uma estimulação a retirar a máscara.”
Fim do Minas Consciente
Também a partir de sábado, o Estado encerra oficialmente o programa Minas Consciente, que definiu padrões de enfrentamento à pandemia no estado. Com o encerramento, o comitê da SES-MG que monitora a pandemia vai acompanhar quatro indicadores regionalizados: variação de incidência da doença, número de internações, proporção de pacientes com Covid-19 nos leitos de UTI estaduais e fila de pacientes aguardando internação.
Caso seja notada alguma variação importante, a secretaria estadual poderá fazer intervenções pontuais. “Isso vai nortear as ações da secretaria, como ampliação de vacinação, ida aos municípios, ampliação de leitos e outras várias ações que podem ser feitas. Passa a ser mais cirúrgica e pontual cada atuação da secretaria”, diz Baccheretti.