Em recuperação pós-pandemia, JF realiza mais de dez mil mamografias
Em 2019, 19 mil exames foram realizados no município; cobertura de rastreamento do câncer de mama pelo SUS ainda está abaixo do ideal, aponta especialista
Foi em uma mamografia de rotina que a coordenadora pedagógica Yara Valesca Dias Cordeiro descobriu o câncer de mama, em 2021. Ela já tinha nódulos no seio que não apresentavam risco, mas, mantendo os exames anualmente, veio a descobrir um benigno. Na cirurgia para retirada, outros pontos malignos foram identificados. “A prevenção, no meu caso, salvou a minha vida.” As mamografias são o método mais eficaz para detecção precoce do câncer de mama, como ocorreu com Yara. Graças ao exame, ela descobriu a doença em seu início e conseguiu realizar uma recuperação sem mesmo precisar de quimio ou radioterapia.
Durante a pandemia, os números de exames feitos em Juiz de Fora sofreram queda significativa, com cerca de oito mil mamografias em 2020 e em 2021, cada. Até julho de 2023, mais de dez mil exames foram realizados na cidade, o que demonstra que Juiz de Fora está no caminho de recuperar a taxa de exames feitos no período pré-pandemia da Covid-19. Em 2019, foram realizadas mais de 19 mil avaliações no município, de acordo com dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Apesar de o Brasil possuir equipamentos e estrutura necessários para atender a demanda, a cobertura de rastreamento do câncer de mama pelo SUS ainda está abaixo do ideal, segundo especialista entrevistada pela Tribuna.
Ao considerar os últimos dez anos, Juiz de Fora realizou mais de 170 mil mamografias. Em 2013, quase 28 mil exames foram feitos na cidade. Esse número caiu em 2015, quando a média ficou em cerca de 20 mil. Apesar disso, não existem fatores pontuais que possam explicar essa queda, de acordo com a mastologista do Centro Estadual de Atenção Especializada (CEAE) da Acispes, Estela Junges Laporte. Por outro lado, o fato de a quantidade de mamografias estar abaixo do que seria ideal está atrelado a diferentes fatores.
Como apontado pela especialista, a taxa de cobertura deveria ser de 70% do público-alvo, entretanto, pelo SUS, esse número está próximo a 21%. Isso ocorre, segundo ela, não por falta de equipamentos, mas pelo fato de a oferta estar concentrada nos grandes centros e também porque o modelo de rastreamento no Brasil acontece a partir de iniciativa própria das pacientes. Conforme a mastologista, em alguns países, quando uma mulher completa a idade de risco, ela é convocada a realizar o exame.
“Muita gente só procura fazer o exame em outubro. Aí tem fila, demora mais, às vezes a mulher chega para realizar, mas só consegue para dali a muitos dias. Nos outros meses, ficamos com aparelho ocioso, no sentido de que realizamos muito menos exames do que poderia ser feito”, explica Estela.
Como exemplificado pela especialista, a Acispes, que é o maior serviço em números de Minas Gerais, conta com capacidade de realizar até 24 mil mamografias por ano, com uma média de dois mil exames mensais. Entretanto, apenas 63% da capacidade de avaliações são feitas.
“Tão importante do que fazemos em outubro é o que fazemos entre os outubros. É importante que as mulheres procurem fazer a mamografia nos outros meses também. Não vale correr o risco de ir só em outubro e não conseguir fazer. Nesse meio tempo, as pacientes acabam aparecendo com câncer de mama com lesões maiores e não conseguimos fazer o que queremos, que é a detecção precoce.”
Prevenção é fundamental
Os nódulos malignos foram identificados em Yara no momento em que ela realizava cirurgia para retirada de um benigno. Esse, no caso, foi diagnosticado a partir da mamografia, quando ela tinha 44 anos. Conforme Yara, a descoberta precoce do câncer de mama possibilitou o cuidado antes que a doença se tornasse mais severa. Atualmente, ela continua fazendo acompanhamento médico, mas passou pela doença sem precisar de outros tratamentos complementares.
“Se eu não tivesse feito a mamografia, se não estivesse fazendo sempre esse controle, eu não iria descobrir”, diz. “Talvez, quando descobrisse, já estaria com o seio tomado, então a prevenção foi fundamental para mim.”
Como fazer mamografias em Juiz de Fora?
De acordo com informações da PJF, as pacientes podem comparecer à Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência de seu bairro para realizar uma avaliação profissional. Quando a localidade não é atendida por uma UBS, a orientação é que compareçam ao Departamento de Saúde da Mulher, Gestante, Criança e Adolescente (Rua São Sebastião 772/776, Centro). Se necessário, a mulher será encaminhada ao ginecologista ou mastologista para realizar os exames de diagnóstico da doença.
Como destacado pela Administração municipal, as UBSs não fazem mamografia, porém, encaminham mulheres dos 50 aos 69 anos para fazer rastreamento no Hospital Maria José Baeta Reis (Ascomcer), no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU da UFJF), no Centro Estadual de Atenção Especializada e na Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes).
Incidência é de 41,89 casos por 100 mil mulheres
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), excluindo os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões do Brasil, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Para o triênio 2023-2025, são estimados mais de 73 mil casos novos por ano, o que representa taxa de incidência de 41,89 casos por 100 mil mulheres.
Ainda conforme o órgão, a incidência aumenta com a idade, sendo que a maior parte dos casos ocorre a partir dos 50 anos. Por conta disso, o Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia a cada dois anos entre os 50 e 69 anos. Porém, conforme a mastologista Estela Junges, há um consenso entre a Sociedade Brasileira de Mastologia, o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia de que a mamografia deve ser realizada a partir dos 40 anos e, pelo menos, até os 74 anos, e a partir dos 75, dependendo da expectativa de vida da paciente.
“Isso é diferente porque, no Brasil, sabemos que o número de câncer em pacientes abaixo de 50 anos é maior do que nos países desenvolvidos, então nota-se que as pacientes abaixo de 50 anos acabam ficando descobertas de fazer o rastreamento”, explica. “Há um estudo grande no Brasil que mostra que 40% dos diagnósticos de câncer de mama são feitos antes dos 50 anos. Então eu acredito que essa recomendação do Ministério da Saúde vai ser alterada em algum momento.”