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Prédio condenado há sete anos desaba parcialmente no Jardim dos Alfineiros

JARDIM DOS ALFINEIROS Capa Felipe Couri
Moradores da vizinhança notaram movimentação na construção desde o dia anterior ao desabamento parcial; receio é de colapso da estrutura, com impactos nos arredores (Foto: Felipe Couri)
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Parte da estrutura de um prédio no Bairro Jardim dos Alfineiros, Zona Norte de Juiz de Fora, caiu na manhã da última quinta-feira (30). A edificação fica na Rua Custódio de Rezende Bastos e está condenada há sete anos pela Defesa Civil. A condição do espaço já foi motivo de protesto por parte dos moradores que cobram a demolição do prédio desde que ele foi interditado. Após a situação tramitar na Justiça, ficou decidido que a construtora responsável pela edificação deve realizar a demolição do imóvel.

A Tribuna esteve no local e ouviu relatos de moradores que testemunharam o desabamento parcial. De acordo com eles, uma das vigas já apresentava sinais de movimentação desde quarta-feira (29) a noite. Por volta das 6h de quinta, a estrutura – que correspondia a quatro apartamentos – veio a baixo. O concreto desabou dentro do próprio terreno da edificação e não atingiu nenhuma residência vizinha, mas foi o suficiente para assustar moradores do entorno que estão cada vez mais preocupados com o risco de colapso total da estrutura.

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Angelo Marcelino da Cruz mora na casa que fica mais próxima ao prédio condenado. Seu imóvel foi interditado no mesmo ano em que o prédio apresentou rachaduras, em 2016. Na época, a edificação vizinha foi evacuada às pressas quando dois pilares se romperam após sofrer uma sobrecarga. Além disso, foram detectadas trincas e rachaduras em janelas e painéis de tijolos. As 18 famílias residentes, à época, foram orientadas a deixar o local.

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Apesar do risco iminente de desabamento do prédio, Angelo, a esposa e a filha seguem vivendo na casa ao lado. O imóvel é próprio, e a família afirma que não tem interesse em alugar outra casa para morar. Na quinta pela manhã, Angelo já tinha saído para trabalhar quando ficou sabendo do desabamento. Conforme o relato da esposa, a queda do concreto resultou em um grande estrondo e muita poeira.

“Foi um susto muito grande. Na mesma hora, os nossos vizinhos correram para ver se nós estávamos bem. Graças a Deus não aconteceu nada. Mas foi uma noite de muita tensão. Pior é o psicológico. A gente já tinha visto que a viga estava movimentando, era certo que aquela parte ia cair, nós só não sabíamos quando e como.”

Pablo Júnior também mora na Rua Custódio de Rezende Bastos e foi um dos vizinhos que correu para ver se a família de Angelo estava bem. Ele conta que, vez ou outra, algum funcionário da empresa aparece para mexer no prédio. Eles tiram parte do material, mexem em alguma coisa e vão embora. O trabalho não é constante, mas sim realizado de maneira esporádica. Para Pablo, o desabamento parcial do edifício é resultado de uma imperícia técnica na demolição. “Os trabalhadores que aparecem de vez em quando para realizar a demolição do prédio também estão se colocando em risco. Essa parte caiu porque as paredes de sustentação foram demolidas. É preciso ter técnica e supervisão para fazer uma intervenção como essa.”

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O morador Eustáquio da Silva afirma que a problemática em torno do prédio é antiga. Ele hoje vive em uma residência em frente ao edifício, mas conta que já chegou a morar nele enquanto sua casa estava sendo construída. “Não é uma obra bem feita, teve problema em um dos pilares e, na época, todo mundo teve que sair. Agora ele tem só o esqueleto, mas quando estava mais inteiro a gente tinha problema com moradores de rua que ocupavam lá. (…) Eu, sinceramente, não sei se cai ou não (o prédio). Mas se cair é um perigo, a gente fica preocupado.”

A reportagem questionou a Defesa Civil novamente sobre a situação do prédio e o potencial risco aos moradores. A pasta endossou que a responsabilidade da demolição é da construtora do imóvel. “O prédio no Jardim dos Alfineiros está interditado desde 2016, e o local é monitorado pela Defesa Civil. Seguindo determinação judicial, o proprietário está realizando a demolição do imóvel”, respondeu em nota. A pasta ainda afirmou que, mesmo após o desabamento parcial de quinta-feira, não foi acionada para realizar vistorias.

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Há sete anos sem solução

A Tribuna não conseguiu contato com a construtora responsável pela demolição da obra, mas falou com o advogado que representa 16 das 18 famílias evacuadas do prédio na época da condenação. De acordo com o advogado Pedro Mourão, a decisão judicial estipulou multa diária à empresa de R$ 10 mil a partir do dia 15 de setembro de 2020, não podendo extrapolar o valor de R$ 10 milhões.

Mesmo que os vizinhos relatem a presença de trabalhadores no prédio, o advogado afirma que, oficialmente, a construtora não informou que a demolição está acontecendo. “O ideal seria que a empresa relatasse nos autos do processo que essa demolição já começou, que está sendo feita de forma devida, seja por conta própria ou demonstrada a contratação de uma outra empresa para realizar o serviço.”

Fora o risco que o prédio abandonado gera à população do entorno, Pedro afirma que desde 2016, quando foram obrigadas a sair de casa, as famílias não receberam nenhum tipo de indenização da construtora. “Eles chegaram a oferecer um hotel na região central da cidade. Algumas famílias foram para lá, mas depois de dois dias foram despejadas pois a empresa não estava realizando o pagamento.”

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