Brasil tem primeiro caso ‘provável’ de hepatite misteriosa infantil

Adolescente de 16 anos de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, apresentou sintomas em 3 de maio e testou negativo para outras doenças


Por João Ker e Renata Jansen (Colaborou), Agência Estado

01/06/2022 às 21h17- Atualizada 01/06/2022 às 22h07

O Brasil notificou na terça-feira (31) seu primeiro caso “provável” da hepatite misteriosa de origem desconhecida, que tem infectado crianças e adolescentes ao redor do mundo. O país ainda não tem um paciente com diagnóstico confirmado da doença e investiga outros 68 suspeitos, em 16 estados, a maioria deles no Sudeste.

Ao todo, 95 casos suspeitos da “hepatite misteriosa” foram notificados em território nacional, dos quais 26 foram descartados. O diagnóstico “provável” foi feito na última sexta-feira (27), mediante avaliação dos resultados laboratoriais de uma adolescente de 16 anos, em Ponta Porã, no interior do Mato Grosso do Sul.

Desde 3 de maio, a adolescente apresentou sintomas como febre, icterícia, mal-estar e náuseas. Uma semana depois, ela foi internada, e os resultados dos testes deram negativo para as hepatites A, B, C, D e E, assim como para arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela). Ela foi encaminhada para a recuperação em casa e segue acompanhada pela vigilância em saúde e assistência, que ainda tentam esclarecer a origem da doença.

De acordo com a cartilha estabelecida pelo Ministério da Saúde, um caso é classificado como “provável” para a nova doença quando apresenta quadro de hepatite aguda com resultados laboratoriais negativos para as hepatites virais A, B, C, D, E; para arboviroses; e sem causa de origem não-infecciosa que justifique o quadro.

Até o último dia 26, a Organização Mundial da Saúde havia identificado 650 casos prováveis da nova hepatite, espalhados em 33 países. Desses, nove morreram.

Veja a quantidade de casos em cada estado que ainda seguem em análise: SP (16); MG (9); PE (7); RJ (7); CE (6); RS (5); GO (3); ES (2); PR (2); SC (3); AL (1); RN (2); PA (2); RO (1); MA (1); PB (1).

Relação entre hepatite e coronavírus

A origem desse novo tipo de hepatite ainda não foi identificada, mas começa a crescer a quantidade de evidências que a relacione com o avanço do coronavírus entre crianças e adolescentes. Um estudo divulgado na Lancet levantou a hipótese de que a causa poderia ser uma espécie de mistura entre as duas doenças.

“Inicialmente achou-se que o adenovírus seria a causa das hepatites agudas, mas o fato é que ele não aparecia em todos os casos”, explicou o infectologista Marcelo Simão, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas. “Em muitas crianças que apresentaram quadros graves não foi possível isolar o vírus; e em algumas na qual foi feito um transplante não se achou o vírus no fígado retirado.”

Partículas remanescentes do Sars-CoV-2 no trato intestinal das crianças estariam servindo de gatilho para uma reação exagerada no sistema imunológico a uma infecção posterior pelo adenovírus 41F. A proteína spike do coronavírus é considerada um superantígeno. Ela torna o sistema imunológico mais sensível. Potencializaria o efeito do adenovírus 41F. Normalmente, esse vírus não provoca problemas mais graves.

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