Veja quais são as 3 novas promessas no tratamento do câncer de mama

Estudos revelam avanços que ampliam o controle da doença e apontam para um futuro mais esperançoso, mesmo diante dos desafios de acesso


Por Marília Marasciulo, Agência Einstein

16/06/2025 às 10h49

O câncer de mama ainda é a principal causa de morte por câncer entre mulheres no Brasil e no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,3 milhões de novos casos são diagnosticados anualmente. Só no Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevê mais de 73 mil novos diagnósticos em 2025. Apesar dos avanços no tratamento, a doença ainda leva à morte mais de 15 mil brasileiras todos os anos.

Tradicionalmente, o tratamento combina três abordagens: cirurgia — ainda essencial para a cura da maioria das pacientes —, radioterapia e terapias sistêmicas com medicamentos. Nos últimos anos, a oncologia avançou ao classificar o câncer de mama em subgrupos específicos, como os tumores com receptores hormonais positivos (ER+), HER2 positivo e triplo negativo. Esse refinamento permitiu o desenvolvimento de drogas mais direcionadas, com resultados mais eficazes.

Essas e outras novidades foram destaque no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), realizado entre 30 de maio e 3 de junho, em Chicago, nos Estados Unidos. O evento reuniu cerca de 45 mil médicos e pesquisadores e trouxe à tona resultados promissores, sobretudo para casos metastáticos, quando a doença se espalha para outros órgãos e as chances de cura diminuem.

Entre as inovações, destacam-se três estratégias que vêm mudando a forma de tratar o câncer de mama:

1. Troca precoce de tratamento com base em biópsia líquida
No estudo clínico SERENA-6, mulheres com câncer de mama metastático do tipo ER+/HER2- foram monitoradas com biópsias líquidas — exames de sangue capazes de identificar a mutação no gene ESR1, que está relacionada à resistência hormonal. O diferencial foi a troca do tratamento antes do surgimento de sintomas ou alterações visíveis. Pacientes que migraram precocemente para o camizestranto (droga ainda em testes) conseguiram manter a doença controlada por 16 meses, em média, contra 9,2 meses entre aquelas que continuaram com a terapia padrão.

2. Nova droga oral contra resistência hormonal
Outro estudo clínico focado na mutação ESR1 apresentou bons resultados com o vepdegestrant, uma droga oral que vai além dos medicamentos tradicionais ao destruir, dentro da célula, o receptor de estrogênio. Comparada ao fulvestranto — terapia padrão para esse perfil de paciente —, a nova droga garantiu um tempo médio de controle da doença mais que o dobro: cinco meses, contra 2,1.

3. Uso antecipado de “drogas inteligentes” para HER2 positivo
Um dos tipos mais agressivos da doença, o câncer de mama HER2 positivo metastático, também foi foco de uma abordagem inovadora: o uso precoce de anticorpos droga-conjugados (ADCs), conhecidos como “drogas inteligentes”. Em vez de espalhar quimioterapia por todo o corpo, essas moléculas levam o medicamento diretamente às células doentes. O estudo, conduzido pelo Dana-Farber Cancer Institute, avaliou a combinação do trastuzumabe deruxtecano com o pertuzumabe e observou uma redução de 44% no risco de progressão ou morte. A doença foi controlada por mais de três anos (mediana de 40 meses), mesmo em pacientes com metástase.

Apesar do otimismo com os novos resultados, especialistas alertam que o acesso ainda é o maior obstáculo. Muitas terapias levam anos para sair da pesquisa e se tornar realidade na rede pública ou privada. No Brasil, cerca de 70% dos pacientes oncológicos dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), onde a incorporação de medicamentos, como o próprio trastuzumabe deruxtecano — aprovado pela Anvisa em 2024 —, ainda não ocorreu.

Para o oncologista Rafael Kaliks, do Hospital Israelita Albert Einstein, os avanços têm o potencial de transformar o cenário da doença nos próximos anos. “Hoje, entre 50% e 60% dos casos de câncer de mama no Brasil são curáveis. Com rastreamento efetivo, diagnóstico precoce e acesso integral ao tratamento, esse índice pode ultrapassar 80%”, afirma.

Ainda que os desafios persistam, a oncologia vive um momento de renovação. Nos estágios iniciais, os tratamentos se tornam menos invasivos. Nos casos avançados, novas terapias têm prolongado a sobrevida e melhorado a qualidade de vida das pacientes. O que antes era incurável pode, aos poucos, se tornar uma possibilidade real de cura.

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