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PL propõe ações para enfrentar desafios de alunos com TDAH na educação

Maria Eduarda Fontes personagem TDAH Arquivo pessoal
Estudante Maria Eduarda Fontes foi diagnóstica após não conseguir fazer a prova do Enem (Foto: Arquivo pessoal)
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O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) afeta mais de 2 milhões de brasileiros. Segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), apenas 20% dos casos são tratados no país. Segundo a neurologista pediátrica Ivy Rosa Coelho Loures, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento de causa genética e ambiental. Os principais sintomas são agitação, com movimentos corporais frequentes, impulsividade e ou desatenção, que muitas vezes são percebidos primeiro na escola. 

Entendendo a importância de capacitar os profissionais da educação para identificar e atender de forma adequada as neurodivergências, o Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou de forma definitiva em maio o Projeto de Lei (PL) 5.052/18. Este estabelece diretrizes para o atendimento de alunos com transtorno específico de aprendizagem e TDAH, no âmbito da rede estadual de ensino. A proposta seguiu para sanção do governador Romeu Zema. 

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De autoria do deputado Doutor Jean Freire (PT), o texto final do projeto define cinco diretrizes essenciais para o atendimento dos alunos com TDAH e outras neurodivergências:

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  1. Promoção de um ambiente escolar inclusivo, acolhedor e flexível: essa diretriz visa atender alunos que necessitam de apoio diferenciado, mesmo sem diagnóstico definitivo de TDAH ou outras neurodivergências, garantindo um ambiente escolar que responda às suas necessidades específicas.
  2. Melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem: a participação da comunidade escolar e de equipes multiprofissionais, como psicólogos e assistentes sociais, é fundamental para aprimorar a qualidade da educação oferecida a esses alunos.
  3. Conscientização da comunidade escolar: combater a exclusão e a estigmatização dos alunos com transtorno específico de aprendizagem e TDAH é uma prioridade, promovendo uma cultura de aceitação e suporte dentro das escolas.
  4. Orientação aos pais ou responsáveis: proporcionar aos pais ou responsáveis informações e orientações sobre o processo de ensino e aprendizagem dos alunos com essas condições é crucial para o suporte contínuo e adequado.
  5. Articulação com as redes de saúde e assistência social: a integração com outras políticas públicas visa alcançar o diagnóstico precoce e o desenvolvimento de atendimento multiprofissional quando necessário.

A Tribuna entrou em contato com o Sindicato dos Professores da Rede Estadual de Juiz de Fora sobre o projeto, mas até o momento desta publicação não obteve resposta. 

Falta de apoio nas escolas

“Quando fiz meu primeiro Enem, não conseguia fazer nada da prova, porque não focava na leitura”, relata Maria Eduarda Fontes, 21 anos. Foi naquele momento que a estudante decidiu procurar ajuda médica e teve o diagnóstico de TDAH. Ela contou que desde o sexto ano começou a apresentar dificuldades na escola, com notas muito baixas, e foi acompanhada por uma psicopedagoga por anos, sem melhores resultados escolares. 

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Apesar de ter procurado ajuda para tirar notas melhores, Maria Eduarda revelou que não teve apoio da escola com suas dificuldades, pois não tinha psicólogos e profissionais para identificar crianças e adolescentes neurodivergentes. A orientação era fazer aulas particulares, o que não ajudou em seu caso. Hoje, ela estuda para tentar passar em medicina pelo Enem, faz tratamento medicamentoso e continua com a psicopedagoga. “Isso foi um diferencial nos meus estudos, aprendi estratégias de concentração, a me organizar, lidar com momentos dispersos e aplico tudo isso no meu dia a dia.” Seu principal desafio é a comparação e a memorização, pois no cursinho percebeu que demora muito mais para aprender do que outras pessoas, o que às vezes a desanima e gera ansiedade. 

‘O coração dispara’

Ighor do Prado teve TDAH diagnosticado ano passado (Foto: Arquivo pessoal)

O analista de comunicação Ighor do Prado, 27 anos, também teve dificuldades para conseguir o diagnóstico. Ele descobriu o TDAH no final do ano passado, ao procurar um psiquiatra por sentir que não tinha controle sobre sua vida. “Sempre fui bastante hiperativo, ansioso, preocupado, minha mão transpira o tempo inteiro, o coração dispara. Durante a época de escola era difícil ficar parado, sempre balançando a perna e com um desvio de atenção grande.” Ighor também relatou falas preconceituosas que escutou ao passar no vestibular de jornalismo, quando uma funcionária da escola questionou sua aprovação, por causa das notas baixas em disciplinas de exatas e biológicas.“Quando saí da escola não existia isso de TDAH, eu era considerado o menino burro e hiperativo”, conta. 

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Diagnóstico e tratamento do TDAH

A neurologista pediátrica Ivy explica que o transtorno se manifesta antes dos 12 anos de idade e leva a prejuízos na qualidade de vida da criança em ambientes sociais ou prejuízo no aprendizado acadêmico. “A suspeita diagnóstica pode acontecer antes de 4 anos de idade, mas teremos maior subsídio para afirmar o diagnóstico por volta dos 6 anos, quando algumas habilidades da infância já deveriam ser mais desenvolvidas, como controle inibitório e capacidade atencional.” Além disso, existem três tipos de apresentação clínica: a forma agitada e impulsiva, a desatenta e a combinada, em que predominam ambos os sintomas. 

A Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) estima que 30% das crianças diagnosticadas têm um dos pais, quando não os dois, diagnosticados com o transtorno, apontando a forte carga genética do TDAH. Entretanto, existem fatores ambientais que aumentam o risco de manifestação clínica desse transtorno, como prematuridade, baixo peso e uso de substâncias ilícitas na gestação.  

Tratamento do TDAH

De acordo com o psiquiatra do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF/Ebserh), Alexandre Rezende, o tratamento se baseia em uma abordagem multidisciplinar que depende dos prejuízos que o indivíduo tem. “Por exemplo, a pessoa está tendo problemas relacionados com os estudos, então um acompanhamento com uma psicopedagoga pode ajudar o paciente na hora de estudar melhor.” Ele também ressalta que em alguns casos pode ter um tratamento farmacológico, com medicações que diminuem a desatenção e a hiperatividade. Contudo, ele destaca que o tratamento deve ser definido por um profissional da saúde, como um psiquiatra, psicólogo ou neurologista.

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O diagnóstico precoce do TDAH ainda é um desafio, por falta de informações, preconceito ou dificuldade de notar os sintomas, seja em casa ou na escola, e indicar a procura de um médico. Para o psiquiatra Alexandre Rezende, o diagnóstico cedo é importante, porque os médicos conseguem realizar as intervenções adequadas e diminuir o impacto negativo na vida do neurodivergente, principalmente relacionados ao estudo, trabalho e relacionamentos. 

*Estagiária sob supervisão do editor Wendell Guiducci

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